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Segunda-feira, 29 de julho de 2024

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Clint Eastwood mostra declínio americano em ‘Gran Torino’

Um carro de 1972 cuidadosamente parado na garagem. Sempre limpo, bem lustrado, mecânica perfeita. O Ford Gran Torino de Walt Kowalski (Clint Eastwood) é o último resquício de uma época que não existe mais, em que os Estados Unidos eram um país próspero, com uma forte indústria automobilística e sem imigrantes espalhados por todos os cantos. Um tempo de que Walt Kowalski sente saudades.


Em “Gran Torino”, que estreia nesta sexta-feira (20) nos cinemas, é justamente isso que Clint Eastwood –diretor, além de protagonista– quer mostrar: como os Estados Unidos mudaram desde os anos 70 e, principalmente, como para alguns americanos essas transformações são sinônimo de decadência. 

Veterano de guerra, Walt acabou de perder a mulher e vive sozinho em um bairro que foi dominado por imigrantes e gangues. Passa seus dias fazendo pequenos consertos na casa, cuidando do jardim, lustrando seu Gran Torino. E uma vez por mês vai ao barbeiro cortar o cabelo. Diariamente bebe sua cerveja enquanto troca algumas palavras com a fiel cadela Daisy e, de sua varanda, lamenta a mudança de cenário no entorno de sua casa. Walt segue uma disciplina militar, e para ele soa como desrespeito o desleixo dos vizinhos, imigrantes Hmong (originais do sudeste asiático), que, ao contrário, não se importam com nada disso.

Quando o tímido e calado Thao (Bee Vang) é obrigado pelo delinquente primo mais velho a roubar o Gran Torino de Walt, o roteiro do estreante Nick Schenk sofre uma reviravolta. Ao evitar que o carro fosse levado e enfrentar sozinho a gangue que aterroriza o bairro, o ranzinza americano passa a ser visto pela vizinhança como herói.

Famílias Hmong vêm de todos os cantos para agredecê-lo não apenas por ter salvo o menino da influência dos bandidos, mas para homenageá-lo. E é assim que Walt baixa a guarda, supera a própria resistência e o preconceito, e se aproxima dos vizinhos, criando laços de amizade e percebendo que tem com eles mais identificações do que com os próprios filhos.

A predileção de Eastwood por grandes dramas se repete aqui em “Gran Torino”, assim como sua visão sempre genial do cinema, lançando filmes que podem agradar ao grande público e ainda assim ir além, com mensagens inteligentes, críticas e pontos de vista que estão muito longe do simplismo frequentemente mostrado em produções de Hollywood.

Mas o cineasta aposta também no poder de comover, de manipular o espectador e faze-lo necessariamente não sair da sala de cinema sem derrubar pelo menos algumas lágrimas. E é aí que ele saca sua dose discreta de sensacionalismo barato –já experimentado e bem-sucedido em “Menina de Ouro” (2004) –, investindo em desfechos exagerados e que beiram o incrível, no mau sentido.

Em frente às câmeras

“Gran Torino” marca o retorno de Eastwood, que completa em maio 79 anos, em frente às câmeras. Ele não atuava em um longa-metragem desde “Menina de Ouro”, e já havia confessado que talvez não retomasse o ofício de ator.

“Não tinha planejado atuar muito mais, na verdade. Mas esse filme tinha um papel para a minha idade, e o personagem parecia que havia sido feito para mim, embora não tenha sido. Gostei do roteiro, ele tem reviravoltas e algumas cenas bem engraçadas”, comentou o cineasta.

Eastwood repete em “Gran Torino” o que já vinha praticando em seus últimos longas: envolvimento total em todas as etapas da produção. Além de dirigir e protagonizar o filme, ele assina a produção e a trilha sonora, soltando a voz inclusive em bela parceria com Jamie Cullum, na canção que encerra o longa.

“Gran Torino” foi muito bem nas bilheterias americanas. Estreou no início de janeiro e representou a melhor abertura de um filme de Eastwood, faturando US$ 29 milhões e superando os US$ 18 milhões de “Cowboys do espaço” (2000). O orçamento estimado do filme foi US$ 35 milhões e calcula-se que já tenha faturado até agora mais de US$ 140 milhões só nos Estados Unidos.
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