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Domingo, 28 de julho de 2024

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Nixon volta aos cinemas em dose dupla

Anti-herói favorito de Hollywood, Richard Nixon volta aos cinemas neste final de semana em duas produções que trazem o ex-presidente dos Estados Unidos como personagem: "Frost/Nixon" e "Watchmen - O filme".


A primeira reconstrói a entrevista de TV que o ex-presidente Richard Nixon deu ao apresentador inglês David Frost em 1977, três anos depois de ter renunciado à Presidência dos Estados Unidos na iminência de sofrer um impeachment.

Interpretado por Frank Langella, que recebeu uma indicação ao Oscar pelo papel, o ex-presidente aparece em "Frost/Nixon" como um homem com a imagem desgastada, vivendo no ostracismo após o escândalo de Watergate. Realizar a entrevista e tentar se sobrepor ao então inexperiente jornalista era a grande cartada de Nixon para tentar recuperar sua credibilidade - mas Frost também tinha planos e estava arriscando prestígio e muito, muito dinheiro nesse embate em que apenas um poderia vencer.

O longa de Ron Howard (vencedor de dois Oscars por "Uma mente brilhante") é baseado na peça homônima de Peter Morgan (roteirista de filmes como "A rainha", que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, além de outra indicação por este filme) que também tinha Langella no papel do ex-presidente e estreou na Broadway em 2006.

Ambientado em 1985, num universo paralelo onde Nixon é releito pela quinta vez consecutiva, "Watchmen - O filme" é uma adaptação da história em quadrinhos de Alan Moore e Dave Gibbons. Mais caricato do que no longa de Howard, o Nixon do filme é vivido por Robert Wisden, de "Smallville" e "Stargate SG-1".

O filme dirigido por Zack Snyder ("300") explora a histeria coletiva dos tempos da Guerra Fria, quando EUA e União Soviética mediam forças à beira de um possível embate nuclear. Na maioria das cenas em que aparece, Nixon é visto dentro de um bunker, cercado de assessores, discutindo o futuro da humanidade.

'Grande vergonha americana'

A relação de amor (e ódio) de Hollywood com Richard Nixon começou antes mesmo que ele tomasse posse em seu primeiro mandato como presidente dos Estados Unidos. Sua primeira "ponta" no cinema se deu ainda em 1966, em um filme de Jean Luc-Godard chamado "Made in USA", em que foi interpretado por um ator obscuro chamado Jean-Pierre Biesse. À essa altura, Nixon já havia sido vice-presidente de Dwight Eisenhower e também perdido uma eleição histórica para John F. Kennedy.

Sua chegada à Casa Branca, em 1969, foi brindada - como não é raro em sátiras políticas - com algumas comédias lançadas no cinema nos anos seguintes, mas foi sua renúncia, em 1974, mais especificamente os eventos que levaram a ela, que colocou Nixon definitvamente na história do cinema. O ex-presidente não aparece em "Todos os homens do presidente", clássico de 1976 dirigido por Alan J. Pakula e estrelado por Dustin Hoffman e Robert Redford, mas sua participação em um episódio de espionagem no escritório do Partido Democrata, escândalo que ficou conhecido como Caso Watergate e levou à sua renúncia, é o tema central do filme.

De lá para cá, Nixon se tornou um dos ex-presidentes americanos mais lembrados pelos cineastas em Hollywood ao lado de seu principal oponente, o democrata John F. Kennedy. No site especializado em cinema IMBD, Nixon aparece como personagem em 50 filmes para cinema ou TV, contra 67 do democrata.

"Nixon é o cara que deu errado. É o momento da grande vergonha americana. Quando tudo estava dando errado no país, ele pegou rabeira de uma guerra [Vietnã] que não podia ser vencida, não tinha apoio moral nenhum, encontrou uma juventude revoltada que estava lutando pelos direitos civis e já entra no poder com fama de derrota por ter perido a eleiçào para o então mais charmoso presidente que os EUA já tinha tido [Kennedy]", analisa a crítica de cinema Ana Maria Bahiana. "Ele parecia um vendedor de carros usados numa cidade de interior no qual você não confiava. Com uma coleção de vexames que por si só já é um espetáculo, Nixon virou uma espécie de anti-herói perfeito, o exato oposto do mito do Kennedy".

Transformado em máscara de assaltantes de banco em "Caçadores de emoção" - longa de 1991 com Keannu Reeves e Patrick Swayze - e até em personagem de "Os Simpsons" em um episódio de 1993 e do seriado "Futurama", Nixon voltou a ter sua desastrosa trajetória política dissecada em "Nixon", de Oliver Stone. No longa biográfico de 1995, três atores diferentes o interpretam em diferentes momentos de sua história: Corey Carrier, David Barry Gray e Anthony Hopkins.

Mas as aparições do ex-presidente em filmes recentes como "Frost/Nixon" e "Watchmen" podem ser sua despedida de Hollywood. É que, depois de um novo período de nuvens negras nos Estados Unidos, o republicano finalmente ganhou um substituto à altura.

"Tenho impressao que Bush vai representar para o século 21 o que foi Nixon no século 20. E Kennedy será Obama", aposta Bahiana. "Com o tempo, Nixon vai virando essa coisa trágica, o tempo lhe dá um verniz de quase nobreza. Só vamos ver o que o tempo fará com Bush".
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