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Domingo, 28 de julho de 2024

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'Quem Quer Ser um Milionário?' mostra o caminho das Índias

No ano em que o cinema indiano começa a invadir a cultura americana, não é nenhuma surpresa que Quem Quer ser um Milionário?, do britânico Danny Boyle, tenha abocanhado oito Oscars e ganhado outros "n" prêmios nos mais variados eventos mundiais. Pode parecer uma mirabolante conspiração, mas em 2008, Will Smith e Eddie Murphy negociaram participações em filmes do país; Steven Spielberg fechou um acordo multi-bilionário (você leu certo) com uma empresa indiana e a Warner Bros. assinou contrato para distribuir filmes de Bollywood (como é chamado a indústria cinematográfica de lá) em suas dezenas de canais na TV paga da América e Europa. Para os brasileiros, existe um plus: a novela Caminho das Índias, de Glória Perez, propaga - a passos de tartaruga, devido aos medianos índices de audiência - a cultura indiana. Até a moda popular é influenciada por essa vertente. Seria uma mera coincidência?


Pode-se assim dizer que Danny Boyle deu um tiro certeiro quando resolveu fazer Quem Quer ser um Milionário?, um retrato da pobreza indiana vista pelos olhos do jovem Jamal, que acerta todas as perguntas do programa Quem Quer ser um Milionário? (versão original de Jogo do Milhão, famoso no Brasil pelas mãos de Silvio Santos) e é investigado por fraude. Afinal, por que um favelado (o Slumdog, do título) que serve chá em uma empresa de telemarketing saberia as difíceis respostas do programa?

Torturado pela polícia, Jamal conta como foi a sua infância - por artimanha do destino, experiências de seu passado lhe deram a chance de responder todas as perguntas -, marcada por abusos sofridos por ele e seu irmão Salim, sua entrada no crime e o amor incondicional que sente pela jovem Latika. Os números altos de bilheteria - mais de US$ 200 milhões pelo mundo - mostram o que o público vê na obra: um conto de fadas comovente, visualmente impressionante. Os números do Oscar e das outras premiações vão por outro lado: a proeza de Boyle em mostrar a desfavorável condição social do país com um filme que, apesar de se distanciar dos blockbusters tradicionais, cabe perfeitamente na programação das salas "pipoca".

Boyle esqueceu, no entanto, de citar que a Índia - assim como o Brasil - é um país de ricos e pobres. Enquanto uma parcela enorme da população vive em condições precárias, marajás desfilam suas excentricidades. Mas é bem provável que esse ponto de vista não atrairia os olhos dos chefões de Hollywood. Talvez também não atrairia tanto a atenção da mídia mundial, que tem ajudado a repercutir o sucesso do filme por meio da miséria social. Tudo sobre Quem Quer ser um Milionário? virou notícia: desde o ator que apanha do pai em frente às câmeras até as crianças do longa que são ovacionadas na chegada a uma favela. Os meninos da obra, que continuam pobres - afinal a produção os pagou com incentivo aos estudos -, tornaram-se alvo do glamour de Hollywood, mesmo distantes dele.

Apesar de tudo, o que importa é: Quem Quer ser um Milionário? é um grande filme, mas não surpreende o público de "terceiro mundo", em especial o brasileiro, que já viu seus problemas sociais na telona com Cidade de Deus (comparações são inevitáveis) e Tropa de Elite, obras que não devem nada ao trabalho de Boyle. Ambos atuam com câmeras ágeis, edição esperta, roteiro pesado e recursos visuais que prendem a atenção.

A maior sorte do diretor, aqui, foi produzir um filme em língua inglesa, o que lhe deu a vantagem para que fosse mais visto. Ouso dizer, até, que se Cidade de Deus ou Tropa de Elite tivessem sido rodados em inglês, conseguiriam levar alguns "carecas dourados" para casa.

Mas não vamos ser rabugentos e sofrer de dor-de-cotovelo. Quem Quer ser um Milionário? ainda é um filmão, que cumpre seu papel em divertir e emocionar. Só não é uma grande novidade. Isso nenhum brasileiro pode negar.


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