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Sábado, 27 de julho de 2024

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Diferentes tragédias marcam concorrentes de Berlim

Com intervalo apenas para um rápido encontro com a imprensa, dois representantes da competição foram exibidos na manhã deste sábado na Berlinale, ambos com boa recepção pelos jornalistas. Há um ponto em comum entre ambos: a trama é marcada pela tragédia, mas fruto de distintas ocorrências.


About Elly, o título do Irã em concurso, surpreende num primeiro momento por um gênero pouco identificado com essa cinematografia ao misturar um drama moral, e porque não, religioso, com um mistério que abala um grupo de amigos em férias.

Storm, tempestade em inglês, faz jus ao título desta co-produção entre Alemanha, Inglaterra e Bósnia, focando um drama de investigação de crimes de guerra. O cenário no caso é mais uma vez os Balcãs, mas a recorrência natural para exorcizar as dores dessa tragédia não diminui em nada o filme de Hans-Christian Schmid. Pelo contrário, sério e inteligente, instiga por questões como ética e justiça.

O filme iraniano gira em torno da personagem-título, a jovem de 20 anos Elly, convidada pela patroa para quem trabalha como babá para acompanhar a família e seus amigos para umas férias na praia. A princípio, ela se entrosa muito bem com o grupo, todos jovens que se conheceram na universidade e agora estão casados. Exceto um deles, que terminou seu casamento na Alemanha e veio passar dez dias no Irã. Ele é o foco da patroa de Elly. Pretende aproximá-los para que se interessem um pelo outro. Mas um fato dramático acaba com a alegria das férias. Ao mesmo tempo em que uma das crianças quase se afoga no mar, Elly desaparece. A suspeita, claro, é que tenha se afogado, o que faz a aparente harmonia dos casais desandar de vez, aflorando as brigas e acusações.

Enquanto pequenos segredos vão sendo mostrados, o diretor Ashgar Farhadi aproveita para tocar em questões delicadas ao mundo muçulmano, como seus costumes em relação ao casamento, o tratamento dado a mulher e a visão da honra em relação ao universo feminino. Cairia bem aqui também o título de tempestade, uma tormenta que põe muitos credos em jogo.

Na coletiva à imprensa, o cineasta evitou respostas mais diretas a polêmicas, como a questão feminina. Disse que fez um filme para interessar uma audiência internacional e não apenas iraniana. "Os conflitos que se estabelecem ali são compreensíveis por qualquer nacionalidade; mexe com medos e traz verdades para qualquer pessoa colocada naquele momento de estresse". Perguntou-se se era verdade que o filme iria ser banido dos cinemas iranianos, o que só não teria acontecido por intervenção do governo. "Isso foi um boato espalhado pela imprensa", limitou-se a dizer.

Há também muitos conflitos em jogo em Storm, de ordem política, ligada à justiça e de direitos humanos. Tudo isso pesa na cabeça da procuradora da Corte Internacional de Haia, um tribunal que comumente julga crimes de guerra. Hannah, seu nome, é interpretada da forma magnífica por Kerry Fox, a atriz que o público brasileiro pôde ver em mostras de cinema em Intimidade.

Passaram-se oito anos desde então e Kerry está uma mulher mais madura, mas não perdeu a beleza. Faz bem esse tipo para o personagem, uma mulher decidida que toma para si a causa de um jovem vindo de um pequeno país dos Balcãs, depois que esse se mata por ter feito um falso testemunho contra um ditador local. "Estive em Sarajevo há sete anos e vi a luta daquelas pessoas pela justiça; isso me ajudou muito a aceitar e levar a fundo esse papel", disse Kerry Fox. É um típico filme em que faz toda a diferença uma interpretação e Kerry Fox já sai na dianteira pelo troféu de melhor atriz.
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