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Quarta-feira, 07 de agosto de 2024

Notícias | Economia

Na volta ao Brasil, decasségui desiste de abrir negócio

Quando chegou à terra dos avós, no inverno, começo de 2008, Ricardo Nichiama, 40, planejava ficar cinco anos no Japão e economizar para abrir um negócio no Brasil. No outono, o murmurinho na fábrica em Okayama se espalhou e ameaçou os planos. "A coisa está feia", diziam os decasséguis. Depois de três meses de rumores, os imigrantes brasileiros foram demitidos, e Nichiama deixou o país sem ter ficado um quinto do tempo previsto.


Segundo o Sebrae-SP, que mantém o programa Decasségui Empreendedor, o número de consultas de descendentes recém-chegados aumentou com a crise internacional. Muitos, entretanto, procuram ajuda para encontrar trabalho com carteira assinada, diferentemente do que ocorria antes. Nesses casos, são encaminhados para órgãos apropriados.

Milton Fumio, coordenador do programa, diz que os decasséguis ficaram menos empreendedores porque foram demitidos de surpresa e não conseguiram acumular poupança suficiente para abrir uma empresa própria no país.

Mesmo os que querem encontrar trabalho no Brasil como empregados têm dificuldades. Muitos dos imigrantes não têm formação específica e, no Japão, exerceram atividades que vão de manutenção de máquinas a serviços de limpeza.

"Fiz muita coisa no Japão. Fui líder de produção em uma fábrica e chefe de segurança do trabalho. No Brasil, acabam não dando muito valor", diz Nichiama, que está desempregado desde janeiro.

Negócios mais baratos

De acordo com o Sebrae, os decasséguis que conseguiram juntar dinheiro no Japão optam por abrir empresas no Brasil que possam ser iniciadas com um capital modesto, como as ligadas às atividades manuais: salões de beleza, hortifrutigranjeiros e pequenas fábricas de alimentos.

Com o desemprego no Japão -que atingiu, em abril, o maior nível desde 2004-, ficou inviável voltar para o Oriente e economizar mais dinheiro para turbinar os negócios no Brasil, caminho que os decasséguis percorriam muitas vezes quando a economia do país ia bem.

Ercílio Massahito Hocoya, 26, afirma que não vale a pena voltar. Ele quer industrializar caqui, fruta que a família cultiva há 30 anos em Mogi das Cruzes (SP), mas a poupança que acumulou durante os dois anos e meio que ficou no Japão não é o bastante para comprar os equipamentos necessários.

"Se o mercado fosse como era antes, compensaria voltar para lá para juntar mais dinheiro. Mas agora não tem serviço. Eles não estão pegando mão de obra brasileira e, se pegam, você trabalha menos e por um salário mais baixo", diz Hocoya.

Jefferson Kenji Yoshitani, 25, é outro decasségui que adia a volta ao Japão. Ele espera a economia do país se recuperar para emigrar definitivamente para lá. "Por enquanto, não dá para voltar, mas em um ano e meio ou em dois anos quero retomar meu objetivo, que é viver no Japão", afirma.

No Brasil, Yoshitani não quis ficar parado, contrariando o que, tradicionalmente, acontecia com os imigrantes. O coordenador do programa do Sebrae conta que os decasséguis recém-chegados voltam do Japão muito cansados, física e emocionalmente, e ficam alguns meses em casa até recomeçar a trabalhar ou a organizar um negócio. Nesse período, reveem os familiares e se readaptam à terra natal.

Agora, a necessidade dos imigrantes de retomar a vida no Brasil após a demissão no Japão, e de fazer isso com menos dinheiro do que previam, diminuiu o tempo de ociosidade dos decasséguis na volta.

Yoshitani, por exemplo, depois que foi demitido em uma fábrica de autopeças na cidade de Gotemba, chegou ao Brasil no dia 14 de fevereiro e depois de duas semanas já estava empregado em uma lotérica em São Paulo.
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