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Sábado, 17 de agosto de 2024

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Docente, funcionário e aluna da USP criticam reavaliação de cursos

Representantes de alunos, docentes e funcionários da Universidade de São Paulo (USP) criticaram a decisão do Conselho Universitário de reavaliar cursos e rever a oferta de vagas naqueles que tiverem baixa demanda ou baixo impacto social.


A decisão, tomada em reunião da última semana, pegou de surpresa o presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), João Zanetic, que é professor do Instituto de Física. “Fiquei surpreso que de maio a setembro a medida tenha sido aprovada”, afirmou.

O documento do conselho prevê a análise dos currículos atuais, o levantamento de informações sobre a demanda dos cursos no vestibular, a identificação de causas de evasão e a atenção ao currículo e à infraestrutura dos cursos noturnos.

Zanetic disse não ser contrário à reavaliação de cursos, mas afirmou que as mudanças têm de ser feitas pelas unidades sem correria. “O que condenamos é a pressa”, disse. De acordo com o professor, a pró-reitoria de graduação começou a questionar as unidades sobre o tema em meados de maio.

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USP decide reavaliar cursos de graduação 'Curso não pode ficar 30 anos com mesmo currículo', diz reitor da USP USP Leste terá cursos de perfil criativo, segundo diretor Apenas 17 do total de cerca de 40 unidades responderam à pro-reitoria, segundo o professor. Algumas delas reclamaram da falta de tempo hábil para avaliar o tema e outras disseram ser impossível haver avaliações similares dos cursos de todas as áreas. Ao menos 25 não responderam, segundo Zanetic.

O documento aprovado pelo conselho mostra que a universidade decidiu brecar a expansão registrada nos últimos anos. A universidade aumentou em 40% o número de vagas e criou 85 cursos na última década, de acordo com o texto.

“A demanda é uma coisa sofisticada. As licenciaturas em geral têm baixa procura. Isso se deve ao fato de a carreira de professor não ser atrativa”, disse. Zanetic questiona a decisão da reitoria de frear a expansão de vagas. “Sabemos que a oferta de vagas na universidade pública é muito baixa”, afirmou.

Para um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Magno de Carvalho, a reitoria pretende transformar uma nova universidade voltada para o mercado. “É um modelo de universidade nefasto, que vai contra o conceito de universidade”, afirmou.

Segundo Carvalho, os cursos de humanas da universidade são aqueles que menos recebem verbas e são o alvo da reavaliação, ligada à baixa demanda e ao impacto social. “Falta professor, falta equipamento. É a destruição do que é pensante”, disse.

A representante do centro acadêmico do curso de letras, Maria Julia Monteiro, que faz o segundo ano da faculdade, disse ver uma ameaça no documento aprovado pela reitoria ao curso de letras e a outros cursos, como pedagogia e geografia. “Tem várias habilitações que são voltadas à pesquisa”, afirmou.

Segundo a estudante, o problema do curso de letras da USP não é o currículo, mas a estrutura física do prédio e a falta de investimentos. “As salas estão lotadas. É preciso contratar professores”, disse.

USP Leste
Apesar de o documento da USP não apontar cursos que terão de sofrer mudanças, graduações da unidade leste da universidade já começaram a ser reformulados devido à baixa demanda e problemas na empregabilidade dos formados, como gerontologia e obstetrícia.

O curso de têxtil e moda é um exemplo de curso que melhorou depois de uma reformulação, segundo a coordenadora Regina Aparecida Sanches. A relação candidato/vaga, que chegou a 5,3 em 2008, passou para 12,12 em 2010.

Quando foi criado, em 2005, o curso levava o nome de tecnologia têxtil da indumentária e era voltado apenas a essa área. Com as mudanças, mudou de nome e passou a abranger as áreas de criação e gestão, além de tecnologia. “Do jeito que estava, o mercado ficava restrito. O formado só podia trabalhar em empresas têxteis. Agora, pode trabalhar nas empresas de moda também”, disse Maria Regina.

De acordo com a coordenadora, um novo estudo sobre o curso deverá ser feito em 2011, novas mudanças devem ser propostas em 2012 e implantadas em 2013. “Das duas turmas que formamos, 100% dos alunos estão empregados”, afirmou.

Para Maria Regina, cursos voltados para o mercado, como têxtil e moda devem estar em constante reformulação. “Nisso, estou alinhada com a decisão do reitor”, afirmou.
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