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Sexta-feira, 19 de julho de 2024

Notícias | Educação

Estudantes protestam contra ameaça de fechamento de curso da USP Leste

Dezenas de estudantes do curso de obstetrícia da USP Leste se reuniram com parteiras, mães e ONGs no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), às 10 horas deste sábado (26). Com cartazes e um abaixo-assinado, os manifestantes pretendem impedir a extinção dessa faculdade, que pode se fundir à de enfermagem da USP e ter o próximo vestibular cancelado.


Segundo a coordenadora do curso, Nádia Narchi, os professores e alunos são contra essa mudança, porque, apesar de profissões “irmãs”, as duas áreas representam paradigmas profissionais diferentes. “Se a gente for diluído na enfermagem, não vamos construir um campo de conhecimento próprio. Não aceitamos essa proposta e queremos que a USP compreenda a importância social e acadêmica da nossa profissão.”

Nádia disse, ainda, que a USP está se dobrando ao Conselho Federal de Enfermagem, que tem dificultado o registro de obstetrizes formadas. “Há duas saídas possíveis: a reformulação curricular ou a contestação judicial, mas a USP optou pela saída covarde, de atender ao conselho”, afirmou a coordenadora.

Atualmente, o curso de obstetrícia da USP Leste, que pertence à Escola de Artes, Ciências e Humanidades, tem cinco turmas de 60 alunos cada e duas já formadas. A graduação tem uma duração de quatro anos e meio e, em 1974, já sofreu com a extinção e a fusão à enfermagem – ressurgindo em 2005. A estudante Jéssica Nascimento, também do terceiro ano, afirmou que a universidade quer reduzir 330 das 1.020 existentes no campus. “O curso de enfermagem não tem estrutura para não abrigar”, avaliou.

"Nossa faculdade surgiu como um pedido de movimentos sociais para atender à demanda brasileira de partos normais e reduzir o número de cesarianas”, disse a aluna Flávia Estevan, do terceiro ano.

De acordo com ela, o objetivo é acabar com a “fábrica de cesáreas”, já que 90% dos partos na rede privada do país e 50% do Sistema Único de Saúde (SUS) são desse tipo, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda no máximo 15% desses partos nos dois sistemas juntos. “Hoje o médico é o protagonista e a mulher passa por uma cirurgia. Gravidez não é doença”, destacou Flávia.

A enfermeira obstetra Vilma Nishi, que atua há 35 anos com partos humanizados e já fez mais de 700 em residências, acha que enfermeiros e obstetrizes devem unir forças, porque a figura mais importante dessa história é a mulher. “Nunca vi a USP fechar um curso”, lamentou.

Segundo a administradora Priscila Ariani, mãe de Francisco, de 3 anos e meio, e Arthur, de 9 meses (o primeiro nasceu de cesariana e a segunda, de parto normal, em casa), a cesárea é uma invasão e uma falta de respeito com o momento mais especial na vida de uma mulher. “O médico vem com um suposto saber, o bebê é retirado de você, encosta no seu colo por 2 minutos e depois precisamos nos recuperar da anestesia”, disse. Ela acredita que o médico entende o parto como um procedimento cirúrgico, não como o nascimento do seu filho.

Em comunicado, a direção da universidade diz que “a avaliação permanente da graduação e a revisão dos cursos da EACH é absolutamente natural, indo de encontro às demandas sociais, científicas e tecnológicas da sociedade”. “A principal preocupação é com os egressos e com os alunos que estão cursando Obstetrícia. Se for necessária outra reformulação do curso, ela será feita”, afirmou Telma Zorn, pró-reitora de graduação.
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