Olhar Direto

Sexta-feira, 19 de julho de 2024

Notícias | Educação

'Não vamos substituir o vestibular pelo Enem', diz reitor da Unicamp

Uma das principais universidades do país, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), completou 45 anos no dia 5 de outubro. Com mais de 36 mil alunos matriculados nos cursos de graduação e pós espalhados em seis campi no interior do Estado de São Paulo, a Unicamp está entre as instituições que ainda não substituiu o vestibular pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e segue no foco do Ministério da Educação.


Os estudantes que sonham em conquistar vaga na Unicamp podem aproveitar as notas do Enem 2011 para se classificarem para a segunda fase do vestibular, que não deve ser extinto. "Substituir o vestibular pelo Enem não faz parte da nossa discussão. De maneira hipotética, como primeira fase, talvez pudesse, mas julgamos que isso é prematuro para pensar", diz o reitor Fernando Ferreira Costa que recebeu a reportagem do G1 em seu gabinete no campus de Campinas.

Para ele, o Enem é um exame importante, mas não seria um instrumento eficaz de seleção. "Nossos dados mostram que substituir completamente o vestibular em universidades com a Unicamp não seria um modo efetivo de selecionar o aluno, principalmente em cursos de alta demanda, como medicina e engenharias."

Formado em medicina pela Universidade de São Paulo (USP), Fernando Ferreira Costa, assumiu a reitoria da Unicamp em abril de 2009. Na entrevista ele falou do aniversário da instituição, de programas para aproximar os alunos da rede pública e de projetos futuros. Confira alguns trechos:

Qual o balanço que o senhor faz dos 45 anos da Unicamp?
Acho que ao comparar a Unicamp a outras universidades tradicionais conhecidas do Hemisfério Norte, da Europa e dos EUA que são centenárias, podemos dizer que nesses 45 anos a Unicamp alcançou níveis de excelência em muitas áreas que são comparáveis a estas boas universidades internacionais. Então eu creio que é um desenvolvimento extraordinário. A Unicamp está entre as primeiras da America Latina e entre as 200, 250 [universidades mais importantes] do mundo.

Há planos de expansão para outras cidades do interior [a Unicamp tem campi em Campinas, Piracicaba e em Limeira]?
Estamos em fase de consolidar o campus de Limeira que começou em 2009 e ainda não teve a primeira turma formada. Houve um aumento de 17% das matrículas iniciais e a infraestrutura está em construção. A Faculdade de Ciências Aplicadas estuda a possibilidade de transformar os cursos de gestão em administração, mas ainda está em elaboração. E por enquanto, não temos planos de expandir para novos campi.

Algumas universidades, como a Federal do ABC oferecem um projeto pedagógico com uma formação geral antes de o aluno partir para as disciplinas específicas. A Unicamp cogita alguma mudança curricular?
Temos o Profis que é mais do que isso, é um curso de formação geral, quase um Liberal Arts College, dos EUA. O curso dá formação geral em ciências, literatura, história, arquitetura, filosofia e depois de dois anos, dependendo do seu desempenho, o aluno pode escolher os cursos tradicionais da Unicamp. Em Limeira, tem um curso que exige certa formação geral. Os alunos entram em gestão, fazem básico de dois anos e depois escolhem as especificidades. Estamos em estudo para ampliar isto para as engenharias. Existe uma tendência mundial em tentar dar uma formação geral do estudante, independente da sua carreira profissional. A importância disso está cada vez mais reconhecida. Por exemplo, um aluno com 16, 17 anos entra num curso de medicina e ele começa a ter as disciplinas ligadas ao curso. Vai ser um ótimo médico, com certeza, mas a formação geral, maturidade, visão crítica das coisas ele perde se não tiver uma formação geral, ao não ser que tenha bagagem, boa estrutura familiar que o nosso curso médio, mesmo o privado, não dá. Formação geral é muito importante também para a inovação, fundamental para o progresso do país.

Quais as estratégias da Unicamp para aproximar os estudantes do ensino médio da rede pública?
Além do Profis [programa garante vagas na Unicamp aos melhores alunos das escolas públicas de Campinas], temos um programa de ação afirmativa e inclusão social. O problema é que nosso sistema de acesso é teoricamente democrático, baseado no desempenho do vestibular, através de uma prova ou conjunto delas que seleciona os mais aptos. Este é suscetível à preparação, ou seja, quem treina muito, tem um bom ensino médio, acaba sendo privilegiado. O vestibular tem viés socioeconômico e privilegia aquele que pode fazer um curso melhor. Essas tentativas visam resolver em parte, como dar um bônus ao estudante que só fez o ensino médio em escola pública, além de um pequeno bônus baseado na cor da pele. Nossos dados mostram que o número de estudantes de escola pública aumentou, principalmente em algumas áreas de alta demanda, como medicina, por exemplo, e mostra que esses alunos tiveram desempenho igual ou até superior aos de escolas privadas. Claro que se o nosso ensino médio público tivesse um aumento na qualidade isso não seria necessário, pois todos estariam em condições de igualdade de competição.

Existe possibilidade do Profis ser expandido a outras cidades?
Começamos em Campinas porque queremos fazer um piloto e sentir as necessidades. Nós já sabíamos que muitos dos alunos eram de condições socioeconômicas baixas. Eles precisam de bolsa, de vale-transporte, há alunos que moram tão distante que temos de pagar uma bolsa moradia para eles morarem próximo da Unicamp. Esperamos que o projeto inicial mostre o que era previsto, que esses alunos têm potencial e vão ter uma formação geral para se destacarem nos nossos cursos. Não vemos razão de não ampliar isso para outras cidades. E mais, até discuti isso com os reitores das universidades públicas do Estado e até com o Secretário de Educação para que este seja um programa feito no Estado todo. As universidades públicas ofereceriam vagas aos primeiros e segundo colocados das escolas públicas, dessa forma não estamos abrindo mão do mérito e sim dando oportunidade aos alunos que se destacam, pois muitos deles se autoexcluem do vestibular. Assim se dá a inclusão social.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
Sitevip Internet