Representantes do centro acadêmico da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) e do Núcleo de Consciência Negra afirmaram que a reitoria da instituição iniciou o processo de derrubada do espaço, usado como sede pelas duas entidades, sem aviso prévio. Trata-se de um barracão dividido em três e localizado atrás dos prédios da FEA, na Cidade Universitária, na Zona Oeste de São Paulo.

Segundo as entidades, na manhã de segunda-feira (19), funcionários começaram a adiantar a obra ao tentar destelhar a única divisão do espaço que está vazia há dois meses. "Quando a gente foi perceber já eram 13h, 14h", afirmou Leandro Salvático, membro do Núcleo de Consciência Negra. Ele afirmou que, no momento, estudantes do cursinho popular pré-vestibular estavam no local, em aulas preparatórias para a segunda fase da Fuvest.

Thomás Barros, diretor de comunicação do CA da FEA, afirmou que "um ou dois" funcionários do centro acadêmico estavam no local no momento da obra, no último dia de expediente do ano.

De acordo com ele, a obra da reitoria provocou, por acidente, uma "rachadura pequena" na parede do CA, que "não comprometeu a estrutura", e atingiu uma tubulação de água que interrompeu o abastecimento do espaço inteiro.

"Queriam tirar o telhado do barracão, se tirar vai começar a chover ter infiltração aqui. Chamamos engenheiros da empresa e fizemos parar", afirmou Salvático.

Barros explicou que a paralisação da obra se deu porque a parede usada como divisória é de gesso e, sem o telhado do espaço ao lado, ela se dissolveria em caso de chuva . "Se chover a parede de gesso vai cair, é um problema de segurança."

'Barracolândia'
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa do reitor João Grandino Rodas afirmou que a derrubada de 19 barracões na Cidade Universitária foi anunciada em boletim divulgado em novembro de 2010. Segundo a publicação, que tem como título "Reformulando a 'barracolândia'", os espaços foram construídos na década de 60, em caráter de urgência, para abrigar novos cursos criados na época.

O projeto de retirar essas construções, de acordo com o boletim, tem como objetivo evitar problemas de infraestrutura e saúde pública, já que os barracões estão em estado precário de conservação e foram construídos com materiais que hoje, segundo a reitoria, não são mais permitidos.

De acordo com a assessoria, quatro barracões já foram derrubados. O reitor prometeu, no boletim, que "os setores da universidade que atualmente estão instalados nos barracões serão contemplados com novos espaços, definitivos, na mesma área".

A assessoria de imprensa informou que todos foram avisados da derrubada, mas tanto os representantes do centro acadêmico quanto do núcleo disseram que foram pegos de surpresa pela tentativa de destelhamento.

Reformas recentes
Segundo Barros, do CA, o espaço ocupado pela entidade passou por uma reforma recente e foi reinaugurado em 2009, com o apoio da gestão da então reitora Suely Vilela. Mas, depois que descobriram os planos do novo reitor de substituir a área dos barracões por um prédio destinado a um novo Centro de Difusão Internacional e a um prédio para a Escola de Comunicações e Artes (ECA), a entidade decidiu buscar um novo espaço e tenta levantar recursos de patrocínio e completar o orçamento liberado pela diretoria da FEA para as obras.

Enquanto o prédio, que ocupará parte de uma área na faculdade destinada a eventos diversos, não fica pronto, o CA prefere ocupar o barracão pelo máximo de tempo possível. "Temos muita coisa para tirar de lá, nosso acordo é vão deveriam avisar com alguma antecedência da data , com umas duas semanas para organizarmos as coisas."

Salvático, do Núcleo de Consciência Negra, afirmou que o grupo ainda não foi informado sobre para onde será realocado durante as obras de revitalização anunciadas em 2010.

O núcleo, criado em 1988, ocupa o local desde 1991 e é a entidade mais antiga desse barracão. Segundo Salvático, o grupo também investe em obras no local, inclusive na reforma de banheiros. No local há uma biblioteca, cursinho pré-vestibular e cursos de idiomas

A parte que atualmente está vazia e sofreu a tentativa de destelhamento foi usada recentemente pelo Diretório Central de Estudantes (DCE), durante obras da sede da entidade, e, segundo Salvático, pelo centro acadêmico do curso de Terapia Ocupacional.