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Quinta-feira, 15 de agosto de 2024

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Número de professores que atuam fora da sala nas escolas de SP aumenta 24% em quatro anos

Há 12 anos, a professora Rosimari Tomura, de 48 anos, não entra em uma sala de aula. Ela precisou ser readaptada para realizar atividades que exigissem pouco contato com estudantes, após passar por uma severa depressão.


Nos últimos anos, continuou a trabalhar na Escola Estadual Zenaide Pereto Ribeiro Rocha, na cidade de Mococa, interior de São Paulo. Porém, passou a atuar nos postos de coordenadora da biblioteca, auxiliar administrativa e até mesmo como responsável pelo almoxarifado.

— Fiquei nessa função jogada, sem fazer nada. Por meses, meu trabalho foi entregar cartolina para os professores. Considero que foi praticamente uma punição devido à minha doença.  

Dados da subseção da Apoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo) no Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostram que entre os anos de 2011 e 2014 o número de docentes readaptados nas escolas públicas do Estado aumentou 24%, passando de 11.872 para 14.772 professores.

O levantamento aponta que, no ano passado, 6% dos cerca de 250.000 docentes das escolas públicas paulistas estavam readaptados. O R7 pediu os números oficiais de professores readaptados à Secretaria da Educação do Estado, mas nenhum dado foi fornecido.

Depressão

Rosimari Tomura afirma que sempre adorou lecionar. Mas o prazer pelo ofício se transformou, quando engravidou de sua primeira filha Maria Júlia, em 1998. 

— Comecei a ter sintomas de depressão e fobia social. Eu tinha muito medo de tudo e chorava muito [...] Tive a minha filha em 1999 e voltei a dar aulas. Quando cheguei na escola, me deparei com uma comunidade extremamente carente, agressiva e perigosa. No ano de 2001, um dos meus alunos da sétima série assassinou um colega de classe, na rua da escola. Fiquei muito assustada e meu quadro piorou.

A professora ficou afastada das salas durante os anos 2000 e 2001, lutando contra a depressão com o auxílio de remédios e de consultas ao psiquiatra e ao psicólogo. Só em 2002, seguindo orientações da terapeuta, resolveu voltar o trabalho, mas por meio da readaptação, condição que garante a sua atuação na escola até hoje.

Os dados da Apoesp e o contexto de trabalho dos professores foram tema da pesquisa de mestrado de Sandra Noveletto Antunes na Universidade Metodista. Seu estudo conclui que a taxa de crescimento de professores readaptados é de aproximadamente 0,89% ao mês. “Esse número representa em média que 3,3 professores adoecem por dia”, escreve.    

Em entrevista, a pesquisadora afirma que a readaptação se dá após longo período de adoecimento, com acompanhamento médico.

— O número de adoecimento é muito maior, mas esses dados não são contabilizados, pois são mascarados pelos afastamentos temporários.

Sandra diz que a mudança desse "gravíssimo fenômeno” depende da melhoria da própria estrutura do sistema social e escolar vigente.

Maria de Lourdes Pezzuol, ex-readaptada que também estudou o assunto no mestrado e escreveu artigos a respeito no Observatório da Educação, acredita que o aumento de professores readaptados tem relação com as condições do trabalho docente.

—Em muitas escolas, há um ambiente insalubre para dar aulas. Muitas salas estão superlotadas e muitas vezes sem ventilação. São salas readaptadas, mas sem planejamento. Dentro dessas condições, a tendência é ter mais professores readaptados do que na sala de aula a longo prazo.
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