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Segunda-feira, 29 de julho de 2024

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Conexão Oriente Médio-Brasil gera micos como Valdívia e D. Carvalho

Roger, que atuava no futebol do Catar, chegou ao Cruzeiro no início deste ano. Desde então, entre uma ou outra lesão, ele participou de 42 partidas. Sabe em quantas completou 90 minutos? Duas. A primeira foi contra o Botafogo, no Engenhão, em setembro. A segunda, recentemente, em casa contra o Vasco. Em que pese o fato de Roger ser um jogador notoriamente com dificuldades físicas, ele não é uma exceção neste caso. Diversos atletas que fizeram a conexão Oriente Médio-Brasil, em 2010, tiveram os mesmos problemas.


Se encaixam nessa categoria nomes como Daniel Carvalho (Atlético-MG), Felipe (Vasco), Valdívia (Palmeiras), Renato Abreu (Flamengo), Ricardo Oliveira (São Paulo), Rafael Sobis (Internacional) e Emerson (Fluminense). Todos repatriados durante o ano, eles tiveram problemas físicos, dificuldade para atuar regularmente e, em alguns casos, de jogar em alto nível de competição.

Quatro profissionais do futebol ouvidos pelo Terra - dois jogadores, um preparador físico e um médico - são unânimes em apontar as profundas diferenças entre o futebol brasileiro e o do Oriente Médio como a explicação das dificuldades enfrentadas. Atletas de alto nível, eles foram contratados por preços salgados e trouxeram consigo a expectativa de que pudessem resolver os problemas de seus clubes. Na prática, não vingaram definitivamente.

A cobrança zero

Marcelo Martins é preparador físico do Bayern de Munique, mas nasceu e estudou no Brasil. Há alguns anos, trabalhou na seleção do Catar, de onde não guarda boas recordações. "Os jogadores que vão para jogar lá é porque estão quase sempre em fim de carreira. A grana é boa e o esforço é menor", destaca ao Terra. Ele conta que os xeques árabes passam a mão na cabeça dos atletas e ignoram treinadores que tentam disciplinar o dia a dia.

"A mentalidade é diferente. Os jogadores de lá não têm aspiração, não querem jogar em clube grande. Ganham muito dinheiro e têm vida confortável. O treinamento não é puxado e se você tenta desenvolver outro sistema, acaba se frustrando", admite o preparador físico.

Companheiros de Al Jazira, clube dos Emirados Árabes Unidos, Ricardo Oliveira e Rafael Sobis, ambos com passagens pela Seleção Brasileira, contam ao Terra a respeito da rotina de treinos que tinham no futebol emirense. "Você trabalha uma vez por dia, joga uma vez por semana e se habitua a isso. Se acomoda", afirma Ricardo.

A frágil preparação física

Sobis recorda também que a questão climática dificulta treinamentos com mais intensidade em razão do sol escaldante durante o verão no Oriente Médio. "Nessa época, tem que ser à noite, umas 21h ou 22h. No inverno, só no fim da tarde. Você se adapta ao estilo deles, treina no estilo deles", confirma o ídolo colorado.

Por coincidência, Sobis e Ricardo Oliveira tiveram sérias lesões de joelho, o que possibilitou o retorno, por empréstimo, ao futebol brasileiro. A difícil recuperação também contribuiu para que ambos, enquanto defendem Internacional e São Paulo, tivessem de conviver com frequência nos departamentos médicos.

Os dois atacantes reestrearam por seus clubes no fim de julho, após alguns meses de recuperação e fisioterapia. Mesmo assim, ainda não conseguiram completar 20 jogos em função das lesões. "O que me tirou de campo foi tendinite, não foi parte física. Nisso acho que não deixei a desejar", conta Ricardo. Quando esteve em campo, de fato, o são-paulino foi eficiente: marcou oito gols em 17 partidas.

Um dos casos mais emblemáticos é o de Valdívia, que jogava no Catar a serviço do Al Ain. Após reeestrear no início de agosto, o chileno teve dificuldades em se readaptar e fez trabalhos físicos específicos, mas acabou acometido por uma fibrose. Em quatro das últimas cinco partidas em que tentou atuar, saiu com dores. Na mais recente, contra o Atlético-MG, teve contusão muscular.

Rubens Sampaio, médico palmeirense, culpa a preparação do futebol do Oriente Médio pelos problemas com Valdívia. "Ele vinha de duas temporadas em um país diferente, de exigência diferente em relação ao nosso. A gente vê isso acontecer também com outros atletas", observa.

A sensível diferença entre Brasil e Oriente Médio

O nível baixo de competitividade entre os clubes locais também prejudica na readaptação ao ritmo pegado do futebol brasileiro. Nenhum clube do Oriente Médio conquista a Liga dos Campeões da Ásia desde 2005 - período em que o título se revezou entre equipes do Japão e da Coreia do Sul. Também não há qualquer seleção entre os 50 primeiros lugares no Ranking da Fifa.

"Se eu voltar a jogar no Oriente Médio, vou descartar a Seleção. Não existe a pressão e a qualidade técnica do Brasil", confessa Ricardo Oliveira. "Você fica adaptado ao futebol de fora e o jogo brasileiro está muito rápido. Todos sentiram a parte física. Infelizmente, você chega e já joga, não tem tempo de adaptação", lamenta Sobis.

Em 2011, com o condicionamento físico adequado, é possível que muitos desses jogadores se tornem efetivamente decisivos e atuem com regularidade. Contratá-los durante a temporada, ficou evidente neste Campeonato Brasileiro, está longe de ser certeza de sucesso.

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