Olhar Direto

Quinta-feira, 01 de agosto de 2024

Notícias | Esportes

Sombrio estádio onde o Grêmio jogará foi local de torturas e assassinatos

No meio da madrugada, o silêncio de um gigante é rompido por gritos. Gritos de dor, de sofrimento, de sufoco. Eles saem de trás de um dos gols do Estádio Nacional, em Santiago, onde o Grêmio enfrenta o Universidad de Chile na noite desta quarta-feira, pela Libertadores. A história até pode soar absurda com seus toques de sobrenatural, mas funcionários que trabalham no local juram de pé junto que é verdade.


São, dizem eles, os lamentos das vítimas de Augusto Pinochet, ditador que comandou o Chile entre 1973 e 1990, após dar um golpe de Estado que resultou na morte do então presidente socialista Salvador Allende. Inimigos do autoristarismo foram parar no estádio. Lá, foram torturados e, alguns, mortos.

- Muita gente fala sobre isso. Quem trabalha aqui à noite sempre comenta. Porque sempre acontece à noite. São gritos e ruídos que ninguém consegue ver de quem vem - comenta Mauricio Alencor, 41 anos, auxiliar de controle no estádio há cinco anos.

Os números reais referentes à quantidade de prisioneiros no estádio são incertos. No Chile, fala-se em até 40 mil. Foi só na última década que oficiais do Exército começaram a dar detalhes sobre as torturas e assassinatos no Nacional. O ex-oficial Roberto Saldias foi a primeira voz, no ano 2000, a confirmar mortes no local. Os detalhes que ele revelou são assustadores. Os presos, segundo ele, eram divididos em três classes: disco amarelo, disco roxo e disco negro. Os do segundo grupo eram exterminados lá mesmo, em um espaço que deveria ser destinado ao futebol.

O Chile não esconde o pior momento político de sua história. Há uma avenida em Santiago ainda hoje chamada de 11 de Setembro, uma referência à data em que Pinochet, em 1973, comandou o golpe contra Allende, com intenso bombardeio sobre a Casa de la Moneda, sede do governo local. No estádio, não é diferente. Atrás de um dos gols, de onde saem os supostos barulhos ouvidos pelos funcionários, parte da arquibancada segue de madeira, como lembrança às vítimas da ditadura. É o único espaço do Nacional que não passou por reformas.

- Já passou muito tempo, mas isso não se esquece. Jamais será esquecido. Sempre vai ter a família de um torturado ou de um morto para lembrar - afirmou Maurício Alencor.

Mas nem só de histórias tristes é formado um dos maiores templos do futebol sul-americano. O Estádio Nacional, construído no final dos anos 30, sediou a Copa do Mundo de 1962. O Brasil disputou ali a semifinal e a final. Ganhou de Chile e Tchecoslováquia para ser bicampeão mundial.

O estádio causa impacto. Por dentro ele parece mais novo do que por fora, fruto de recentes reformas. A capacidade é para quase 80 mil pessoas. A expectativa é de que cerca de 40 mil estejam no jogo entre "La U" e o Grêmio. As arquibancadas não são coladas ao gramado, o que ameniza a pressão sobre o adversário dentro de campo.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
Sitevip Internet