Os responsáveis pela organização da Olimpíada de Londres miram fazer a edição dos Jogos mais bem organizada da história, bem ao estilo da tradição britânica. Isto não se refere somente à infraestrutura, locais de competição e número de atletas. Para garantir as condições físicas dos competidores, Londres preparou uma equipe de centenas de profissionais aptos a tratar da saúde dos presentes de uma maneira rápida e eficiente. E há um brasileiro neste grupo.

O fisioterapeuta e primeiro-socorrista Vinicius Montiel, 35 anos, veio para Londres pela primeira vez em 2008, e desde então alterna sua cidade natal, Porto Alegre, com a capital inglesa. Detentor de passaporte italiano, o gaúcho foi selecionado entre cerca de 50 mil candidatos para participar do seleto grupo de apoio aos atletas.

"Assim como o sonho de todo atleta é disputar uma Olimpíada, o de um fisioterapeuta é trabalhar em uma Olimpíada também. Joguei futebol até os 15 anos no Grêmio e não consegui ser atleta, mas vou participar desse modo. Posso ser o começo ou o fim do atleta em caso de um erro", contou Montiel em conversa com o Terra.

O fisioterapeuta, que preferiu não dizer se atuará como voluntário ou contratado, tem 12 anos de profissão. Ele trabalhou em alguns hospitais de Londres por meio de contratos temporários e foi indicado por um médico local para integrar a equipe dos Jogos. Fez, então, a inscrição para participar da Olimpíada em 2010, e foi contatado no ano seguinte para fazer parte da equipe.

O grupo contará com centenas de profissionais entre médicos, dentistas, fisioterapeutas, primeiro-socorristas, osteopatas e massagistas do esporte, segundo explicou o gaúcho. A organização disponibilizará apoio para todo atleta que não tiver equipe própria. Os membros da equipe trabalharão em escala e serão distribuídos por setores do Parque Olímpico.

"Tem que ser profissional. Sem conversas. A ordem é de deixar os caras em paz, sem tietar. Nada de autógrafo. Fazer o tratamento, baixar a cabeça e pronto", explicou Montiel. O brasileiro participou de treinamento com o restante dos profissionais da saúde que trabalharão nos Jogos, oficinas que contaram até com estratégias de motivação. Foi usada até mesmo a canção Don't Stop Me Now, clássico da banda britânica Queen, para levantar o ânimo dos presentes.

Fã de futebol, Montiel espera pela chance de poder encontrar a Seleção Brasileira durante os Jogos. "Seria legal encontrar o futebol do Brasil. Chegar ao Mano e falar, 'pô, mexe em tal jogador, escala de tal jeito' (risos)", brincou o fisioterapeuta. "Sou apaixonado por futebol. Mostrei para um médico indiano vídeos do Neymar e ele adorou. Veio para mim depois dizendo 'vocês vão ganhar a Copa do Mundo com ele. Muito obrigado por ter me apresentado esse rapaz'", contou.

Já com experiência em trabalhar na Inglaterra, o gaúcho vê profundas diferenças entre o modo como o ofício da saúde é conduzido no Reino Unido e no Brasil. "A visão da saúde aqui é totalmente diferente de lá. No Brasil o fisioterapeuta não é respeitado. Ou melhor, tudo tem que passar pelo médico. Aqui sempre é feita uma reunião e o médico escuta todos antes de tomar um parecer sobre um paciente. Fisioterapeuta, terapeuta ocupacional", explicou. "É um sistema responsável", considerou o brasileiro.

Passando a Olimpíada, Montiel poderá contar em seu currículo com a experiência de ter trabalhado nos Jogos. O fisioterapeuta ainda não dimensiona o que isso poderá ajudar em sua carreira e prefere comemorar o fato de auxiliar no evento. "É algo que acho que fica interessante no currículo, mas o mais importante é a sensação de trabalhar em algo grande como a Olimpíada", contou. "Como se diz mesmo em português? Improve myself", disse o gaúcho, que por seu tempo fora do Brasil enfrenta dificuldades em lembrar-se de termos específicos em português.