Eles não passavam de 20, mas faziam barulho com seus gritos e batucada assistindo ao treinamento da seleção iraquiana em Malmo nesta terça-feira. O empolgado grupo de jovens iraquianos cantava "Zico! Zico! Ele veio para o Iraque, comandar a seleção!". Mas o que os torcedores não faziam ideia era de que, se dependesse de Zico, aquele treino nem teria acontecido. Ao menos não ali. Enfrentar o Brasil não estava exatamente nos planos. Na Suécia, menos ainda.

- Nós temos um jogo importantíssimo contra a Austrália na próxima terça pelas Eliminatórias no Catar. Estávamos lá treinando e nos preparando para o jogo. Então sair, para vir até aqui disputar uma partida e voltar não era o ideal. Perdemos uma vantagem que teríamos em relação aos australianos, que vão fazer uma longa viagem até Doha também. E nós já somos a única seleção que disputas as Eliminatórias sem poder atuar em casa. Ao menos dessa vez o jogo contra o Brasil é só amistoso, das outras vezes é que foi duro - afirmou Zico.

Essa é a terceira vez que Zico enfrenta a seleção brasileira como treinador da equipe adversária. As duas primeiras aconteceram quando ele era técnico do Japão, um empate em 2 a 2 na Copa das Confederações de 2005 e uma derrota por 4 a 1 na Copa do Mundo de 2006. Por isso, ele diz já saber o que esperar nesta quinta-feira em Malmo.

- Na hora do Hino Nacional é que é mais complicado, dá uma emoção grande. Foram muitos anos defendendo a seleção. Nas outras vezes, em competições oficiais, foi muito mais difícil. Da primeira vez, eu procurei me espelhar no exemplo do Didi, que comandou o Peru contra o Brasil na Copa do Mundo de 1970.

Outra diferença é no tamanho do desafio que Zico tem pela frente. No Japão, ele ajudou a montar a estrutura do futebol local desde os anos 90, quando encerrou a carreira de jogador por lá. Foi um trabalho de longo prazo que hoje se reflete no sucesso dos atletas japoneses em grandes clubes europeus. No Iraque, o tempo é mais curto e as limitações são muitas.

- Temos dificuldades para reunir os jogadores, temos problemas para marcar amistosos, já que é difícil encontrar adversários, também tem a questão do visto para iraquianos, o que nos impede de viajar para alguns países. Montamos uma programação, mas ela muda o tempo todo. Quando assumi a seleção, sabia que havia muitos jogadores talentosos no Iraque, que já havia vencido a Copa da Ásia, e por isso imaginava que houvesse um pouco mais de estrutura por lá. Mas a situação era muito pior quando cheguei.

Apesar das dores de cabeça, o Iraque segue na briga por uma vaga na Copa do Mundo de 2014 e o sucesso do trabalho de Zico se reflete nos gritos dos torcedores nas arquibancadas e do lado de fora do hotel onde o Iraque está concentrado.

- Antes, ninguém achava que passaríamos de fase. Agora, depois que passamos, todo mundo se empolgou e acha que vamos à Copa. Esses dois próximos jogos, contra Austrália e Jordânia, serão decisivos. Precisamos fazer ao menos quatro pontos. Mas estamos passando por um processo de renovação. Estou trazendo jogadores jovens, a base era a mesma de muitos anos. Esse é um grupo que vai estar mais maduro para 2018.

Os próximos dois jogos pelas Eliminatórias têm mando de campo iraquiano, mas acontecerão em Doha, capital do Catar, já que a Fifa não permite partidas no Iraque por questões de segurança. Sem poder contar com o apoio da torcida, Zico aposta na confiança do time que vem de uma boa atuação na derrota por 1 a 0 para o favorito Japão, fora de casa, na última rodada. Mas enfrentar o Brasil antes disso pode trazer um problema a mais.

- Existe sempre a preocupação de uma goleada que possa abalar a confiança do time. Mas quando é que esses jogadores daqui terão a chance de enfrentar o Brasil de novo? É uma oportunidade única e que temos que aproveitar da melhor maneira possível.