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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Em dia de festa para o Flu, Abel faz revelações: 'Eu não aprendi a perder'

A cara quase sempre sisuda de Abel já mostra que ele não tem medos. Tanto que, nesta entrevista, conta que não perde sono com ameaça de demissão e que não pediria a contratação de Ronaldinho Gaúcho. O único ponto fraco do técnico campeão brasileiro aflora quando ele está no ar: voar de avião.


No voo de volta após o título, enquanto todos festejavam você estava calado...

Eu não gosto. Desde os 15 anos que ando em avião e nada acontece. Mas eu escuto os amigos comentando os sufocos que já passaram. E isso vem no subconsciente. Fico jogando paciência, lendo... Mas eu não consigo, cara. Eu queria botar uma barreira nisso. Eu fico assim: é mais uma viagem, será que vai dar problema?

Você ofereceu o título brasileiro a alguém?

A conquista a gente tem que agradecer, antes de oferecer. E agradeço aos jogadores. Agora, em um clube de futebol com milhões de torcedores, você tem que oferecer esse título à torcida. E também a sua família. Porque mesmo no título existem momentos ruins, e é sua família que aguenta teu mau humor. Eu causei muitas desavenças em casa por causa dos resultados ruins. Eu sei disso. Quero melhorar, mas não consigo. Eu não aprendi ainda a perder em futebol.
Como apreciador de vinhos, acha que técnicos também melhoram com o tempo?

Eu acho que sim. Porque eu cometi erros no passado que não cometeria hoje. Eu tive uma situação no plantel, não desagradável, mas que em alguns anos atrás teria tomado uma atitude diferente da que tomei agora. Porque eu não botei meu lado pessoal acima do time. Desta vez, não. Coloquei a equipe em primeiro lugar, mesmo sendo contra os meus princípios. E deu certo. Isso é aprendizado.

Agora você me deixou curioso com essa história...

Mas isso não saiu e não vai sair. Ninguém vai saber quem é. Foi uma coisa que passou despercebida. Mas houve. Mas para você ver como o ambiente aqui é bom. Está bem blindado. As situações desagradáveis não saem para fora (vazam). Não foi tudo às mil maravilhas. Claro que não foi.

É verdade que você e Deco discutiram após a derrota para o Atlético-MG?

Não existiu isso. Tanto que eu estou elogiando o que o Deco falou depois do jogo com o Atlético-MG. Aquilo foi subsídio para o título. Não me aborreço com ninguém. Porque eu iria me aborrecer com ele?

O que ele falou?

Na saída de campo ele falou: "Nós perdemos o jogo, mas vamos ser campeões". Foi uma coisa espetacular. Isso aí (a briga) é mais uma das invenções. Como foi também quando colocaram os valores que eu ia ganhar lá em Porto Alegre (R$ 900 mil). Pô, isso eu ia adorar. Não sou treinador de um milhão de reais. Sou treinador de procurar estar bem no lugar onde fico.

Você ainda toca piano?

Toquei ontem (terça-feira) com o Ivan Lins. Fiquei emocionado. Ele tocou e eu cantei junto com ele o hino do Fluminense. Segurei, segurei, mas tive que mostrar meu lado artístico um pouquinho (risos).

De que estilo você gosta?

De MPB. O Ivan é meu ídolo. As minhas músicas são as que ele canta. Mexem comigo. Têm muito a ver comigo e com minha mulher.

Qual a sua favorita?

Uma música que ele canta que é "Bilhete". Quando ela diz (Abel começa a cantarolar): "Joga a cópia da chave por debaixo da porta que é pra não ter motivo de pensar numa volta. Fiz um tipo de aborto..." Fiz um tipo de aborto? Que tipo de aborto existe? Só existe um. Mas na vida há muitos abortos. Tem momentos em que você tem que abortar. Eu acho que essa genialidade para fazer a música é um troço que marca.

O perfil médio do jogador não é esse. Acha que desperdiçam a oportunidade de ampliar seus conhecimentos?
Adquirir conhecimento é uma razão de ser. É não passar despercebido. Já fui para a Europa com salário menor do que ganhava aqui. Mas eu quis ir para culturalmente crescer e dar essa oportunidade aos meus filhos. Em 2000, o Fábio tinha 6, 7 anos e já pedia comida e refrigerante em francês. Achava aquilo o máximo. Agora, também não significa dizer que o jogador que gosta de pagode e funk não vai poder expandir o conhecimento.

Você falou essa semana que esteve para ser demitido do Flu três vezes...
E foi verdade!

Isso ficou entalado?

Não, eu nunca me preocupei com negócio de ser mandado embora. Porque a hora que eu tenho que ir, eu vou. Na primeira vez só não entendi muito porque me esperaram três meses, e com 40 dias queriam me mandar embora. Falei: "Não deu nem pra compensar o tempo". Eu já fui mandado embora muitas vezes.

Por exemplo...

Fui mandado embora do Atlético-MG. Isso é uma história que não deveria nem estar falando. O Kalil era presidente do conselho. O Nélio Brandi, que era o presidente do clube, afastou-se por doença. O Ricardo Guimarães (dono do BMG) assumiu. Ele colocou o Kalil como vice de futebol. Na segunda-feira o Kalil reuniu o grupo e falou que já tinha perdido um título brasileiro porque não tinha uma comissão com o gabarito da que ele tinha naquele momento. Isso, na segunda-feira. Empatamos com o Goiás, na quarta, e na quinta de manhã ele me mandou embora. Para você ver como é o futebol.

Você pediria a contratação do Ronaldinho Gaúcho?

Não. Só que, se me oferecessem o Ronaldinho, eu ia dizer não? Tá louco! Mas eu quero jogadores que não vão me trazer problemas na armação do time. Eu tive um problema aqui em 2005. Eu me vi com Felipe, Preto Casagrande, Tuta, Leandro, Petkovic... Mas consegui armar. Todo mundo fala que eram cinco jogos e só precisava de uma vitória. É que eu tinha jogadores que a cabeça já não estava mais aqui. Eu me toquei e falei: "Se tiro esses caras, pelo peso que têm, o negócio ia cair muito". Porra, hoje me arrependo. Porque os caras estavam com a cabeça fora do país, em outros clubes.
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