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Sábado, 03 de agosto de 2024

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Com nova geração, Bernardinho tenta honrar legado de "seleção de ouro"

Com nova geração, Bernardinho tenta honrar legado de

Tentar manter a história recente de conquistas brasileiras no vôlei ou, na pior das hipóteses, não se distanciar das outras potências do esporte. É com esse espírito que uma reformulada seleção brasileira masculina estreia na Liga Mundial, contra a Polônia, às 10h (de Brasília) deste sábado, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

Após a medalha de prata na Olimpíada de Pequim, em agosto do ano passado, o técnico Bernardinho precisou alterar profundamente o grupo que o acompanhou nos dois últimos ciclos olímpicos e que conquistou um bicampeonato mundial e a medalha de ouro nos Jogos de Atenas-2004.

Neste processo, veteranos como Anderson, Gustavo e o levantador Marcelinho deixaram a equipe. Outros, como Giba, prorrogaram a permanência na seleção, mas não por muito tempo --o ponteiro planeja se despedir do Brasil no Mundial do próximo ano.

Assim, a Liga servirá como laboratório para Bernardinho começar a testar o grupo que pretende levar à Olimpíada de Londres-2012. Entre as novidades estão algumas jovens promessas, exemplo do meio-de-rede Lucas Saatkamp, 23, e alguns veteranos que passaram boa parte da carreira ofuscados pelo sucesso da seleção, como o levantador Marlon, 31.

Em entrevista à Folha Online, Bernardinho falou sobre esse recomeço da seleção brasileira, explicou seus critérios de convocação do novo grupo e tentou assumir para si toda a pressão que a falta de bons resultados pode gerar sobre a equipe.

Confira a íntegra da entrevista

Folha Online - Você já ganhou todos os títulos possíveis com a seleção brasileira, mas decidiu permanecer à frente da equipe após a Olimpíada de Pequim. O que te motivou a tomar essa decisão? Foi o desafio de pegar um grupo novo?

Bernardinho - Foi a paixão que tenho pelo trabalho, o dia-a-dia, poder tentar desenvolver os jogadores, estar na quadra com eles. Obviamente, é um desafio construir um novo time que possa honrar de alguma forma o legado deixado pela outra geração.

Folha Online - Falando sobre este grupo novo, é possível que ele alcance o mesmo nível da vitoriosa geração anterior?

Bernardinho - Repetir o ciclo anterior é difícil. Construímos mais do que nós imaginávamos. Mas ter um time competitivo, capaz de brigar pelos títulos, é o nosso objetivo. Com o tempo, teremos condições de realizar isso.


Folha Online - Você trabalhou basicamente com o mesmo grupo por dois ciclos olímpicos. Como treinador, mas também uma espécie de "pai" desta turma, dói vê-la partir, deixar a seleção?

Bernardinho - Sinto falta de muitos atletas, e é bom poder ter alguns aqui conosco [como Murilo, Escadinha e Giba, que continuam na seleção]. O que eu mais gostaria de fazer era colocar aqui no CDV-S [Centro de Desenvolvimento de Voleibol de Saquarema] uma placa de reconhecimento pelo trabalho que o pessoal fez, como forma de me sentir mais próximo deles. Esse é o lado triste da história, porque toda história um dia termina. Não posso conviver mais com eles, mas as memórias e as lembranças são as coisas mais importantes que ficam, independentemente dos problemas que tenham acontecido.

Folha Online - Qual será o papel que os veteranos, os remanescentes do grupo anterior, terão nesta nova seleção?

Bernardinho - O importante é que os mais veteranos vieram com a mesma disposição dos novatos. Depois de oito anos de conquistas, eles se tornaram exemplos. Eu precisava sentir do grupo essa vontade e a entrega. A dedicação é total, a melhor possível. A cobrança vai vir, mas os resultados podem demorar um pouco. Temos que ter tranquilidade. Vamos precisar de tempo, quilometragem.

Folha Online - Analisando a convocação para a Liga Mundial, percebe-se que esta nova seleção brasileira não é tão jovem assim. Por que essa opção por atletas já mais experientes? Isso mostra que um grupo fechado e muito vitorioso no ciclo passado atrapalhou o aparecimento de uma nova geração?

Bernardinho - Primeiro, para manter um nível de competitividade e conseguir ter bons resultados, o importante era ter um mix de jogadores jovens e alguns veteranos. A ideia não era só trazer a garotada. Termos o mesmo grupo durante oito anos impediu que alguns jogadores tivesse espaço. Então, talvez seja, por merecimento, a hora de dar algum espaço para esses jogadores.

Folha Online - Quais serão os principais adversários do Brasil neste ciclo olímpico que se inicia?

Bernardinho - Rússia e Estados Unidos partem como favoritos para as próximas competições. A Sérvia é uma equipe muito forte também. A Holanda é uma equipe que está voltando. Ainda tem a Itália, a Bulgária. 


Folha Online - A Liga Mundial será a primeira oportunidade para a maioria do público brasileiro conhecer esta nova seleção. Caso os resultados não sejam alcançados imediatamente, como o grupo irá lidar com a pressão?

Bernardinho - Temos que saber que esse grupo precisa de tempo. Ele nasce com um peso para carregar. Temos que orientá-los bastante neste início de trabalho. A pressão não me preocupa. Minha vida sempre teve pressão. Só que seria injusto com esse grupo qualquer tipo de pressão excessiva. Eles não têm a obrigação de nada além de dar o melhor, o máximo sempre. Eu nunca colocarei esse peso em cima dos jogadores. Não importa se o atleta tem 20 ou 29 anos. É a primeira vez que está vivendo uma situação dessa natureza. Ainda há muito o que fazer

Folha Online - Qual sua expectativa para estas partidas de estreia contra a Polônia?

Bernardinho - A expectativa é com relação à reação dos atletas em um ambiente novo, um Ibirapuera lotado, em uma situação nova para muitos deles. Quero sentir como vão reagir. Se conseguirmos repetir nos jogos o que temos feito nos treinos podemos conseguir bons resultados.

Folha Online - O que dá para esperar dessa equipe na Liga Mundial, qual seu objetivo para o torneio?

Bernardinho - Classificar para a fase final [que será disputada na Sérvia] é o primeiro objetivo. Estando lá, vamos ver onde podemos chegar.

Folha Online - Na sua opinião, o fato de a Superliga deste ano ter sido mais forte, com vários jogadores sendo repatriados, ajuda ou atrapalha a seleção, uma vez que jogadores que atuam aqui acabam tendo uma experiência internacional menor do que os que jogam no vôlei europeu?

Bernardinho - É sempre bom ter uma Superliga mais forte, porque os jogadores são testados também de uma forma mais forte. Nem sempre o vôlei europeu é a melhor opção. Os jogadores brasileiros têm crescido aqui.

Folha Online - Ter perdido um ouro olímpico que para o Brasil era considerado uma certeza foi a maior decepção de sua carreira como técnico?

Bernardinho - Não acho que tenha sido uma decepção. As pessoas podiam considerar o Brasil favorito com certeza, mas nós não tínhamos essa certeza. Sabíamos que poderíamos chegar e brigar. Tivemos a nossa chance, mas uma medalha de prata olímpica não é decepcionante. A expectativa criada foi o que gerou uma frustração.

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