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Domingo, 21 de julho de 2024

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Vetos, dúvidas e aposta: Adriano nunca foi consenso e 'dividiu' o Inter

Foto: Cezar Loureiro / Agência O Globo

Vetos, dúvidas e aposta: Adriano nunca foi consenso e 'dividiu' o Inter
A negociação entre Inter e Adriano, descartada pelo clube na tarde de segunda-feira, não apenas frustrou a parte da torcida que gostaria de ver o centroavante em Porto Alegre. Expôs, desde o início, a divisão de opiniões na direção e no departamento de futebol do Colorado sobre o jogador. Mesmo com as tratativas bastante avançadas e alguns elogios a Adriano, havia também grande receio pelo seu passado de problemas e desconfiança de plena recuperação clínica e física.


Uma novela de alguns dias, com veto interno, negativas públicas, esconde-esconde e desfecho surpreendente. Momentos relembrados e detalhados pelo GLOBOESPORTE.COM e que revelam um Imperador que jamais fora majestade na corte vermelha.

Primeiro contato no início do ano

O assunto Imperador levantou o debate entre o presidente Giovanni Luigi, os dirigentes de futebol e a comissão técnica. Logo no início do ano, emissários ofereceram o jogador ao clube gaúcho, que não deu andamento nas conversas. Não satisfeitos, esses agentes voltaram à carga há cerca de dois meses.

Desta vez, a recepção não foi tão complicada. O diretor de futebol e primeiro vice-presidente do Inter, Marcelo Medeiros, apoiou a empreitada. Porém, ainda teve que enfrentar a resistência de Luigi e Luís César Souto de Moura. O mandatário era cético quanto ao histórico turbulento do jogador. O parceiro de Medeiros no futebol, depois, acabaria também aderindo ao projeto, assim como o assessor de futebol Eduardo Hausen.

Dunga abre o jogo aos microfones
Todos merecemos uma segunda chance. Se o Inter achar que pode dar esta oportunidade ao Adriano, precisa ver se está pronto para lutar contra as oposições"
Dunga, em 16 de junho

Embora tenha alijado Adriano da lista final da Copa do Mundo de 2010, Dunga sempre gostou do jogador, que era nome constante em suas convocações. O vazamento de informações não diminuiu a cautela da direção. Ninguém assumia a possibilidade de contratação. Sustentavam o discurso de “não falar em especulações”. Mas Dunga foi na contramão e o referendou publicamente, em 16 de junho:

- Todos merecemos uma segunda chance. Pode ser ou não ser aqui. Se o Inter achar que pode dar esta oportunidade, precisa ver se está pronto para lutar contra as oposições. Somente assim o clube tem que trazer o Adriano. A capacidade dele é indiscutível, mas o clube tem que estar ciente que terá restrições. Se quer lutar contra isso ou não.

Luigi é convencido...
Em nenhum momento fui contrário à contratação."
Luigi, em 17 de junho

O conservadorismo de Luigi acabou demovido na reunião da segunda-feira, 17 de junho, que contou com Marcelo Medeiros, Dunga, seu auxiliar Andrey Lopes e os empresários que desejavam colocá-lo no Beira-Rio. Nela, o mandatário deu carta branca para a tratativa avançar. Na saída do encontro, Medeiros, surpreendido pelos repórteres que faziam campana em frente ao portão que dá acesso à presidência, admitiu as tratativas entre o clube gaúcho e o Imperador:

- Quando um jogador do quilate de Adriano diz que deseja atuar no Inter, causa um impacto.

No dia seguinte, foi a vez de o presidente falar sobre o tema. Sempre discreto, Luigi baixou a guarda. E negou que fosse contrário ao negócio:

- É um assunto que está sendo tratado pelo departamento de futebol. Mas em nenhum momento fui contrário à contratação. Foi um dos nomes colocados em uma reunião.

A situação, entretanto, merecia toda atenção do Inter. Os dirigentes, mesmo os mais otimistas, ressaltavam a necessidade de realizar um contrato de risco. Ficou definido que Adriano assinaria por seis meses e receberia um bônus por efetividade. Mas era preciso estipular cláusulas. Qualquer deslize não seria tolerado e uma rescisão ocorreria caso o atacante violasse a conduta.

... mas ainda existia a dúvida do tendão
Aquele tornozelo precisa ser bem avaliado. Não podemos contratar um jogador que precise de 70 dias para se recuperar"
Fonte próxima à direção, em 23 de junho

E não só isso. O tendão de Aquiles do pé esquerdo ligava o alerta de todos. Existia um temor de que o local, que passou por dois procedimentos cirúrgicos, não estivesse totalmente recuperado e demandasse de mais tempo do que o Inter poderia esperar.

- Aquele tornozelo precisa ser bem avaliado. Não podemos contratar um jogador que precise de 70 dias para se recuperar - afirmou uma fonte consultada, próxima à direção, na véspera do exame que selou o destino do Imperador.

Até por isso, o clube se cercou de todos os cuidados. O exame estava previsto para ocorrer na última quarta-feira em São Paulo. A ideia era fazer a análise sem chamar a atenção. Mas o nome Adriano ecoou em todos os noticiários. E, assim, o Colorado definiu fazer no Rio de Janeiro, sem tanto motivo para mistério. Só faltava definir a data e o local. Os gaúchos pretendiam fazer na clínica de Luiz Runco, médico do Flamengo e da Seleção. Porém, para o Imperador passar pela esperada ressonância, foi definida a Clínica de Diagnóstico por Imagem (CDPI), no Leblon.

No final de semana, quando tudo se apontava para um final feliz, Luigi, mesmo já disposto a aceitar o Imperador, ainda duvidava de que a consulta mostraria uma recuperação plena.

Inter organiza comitiva ao RJ
Claro que estou animado. Fiz todos os exames que precisava fazer e agora estou esperando uma ligação para viajar a Porto Alegre. Não vejo a hora"
Adriano, em 24 de junho, às 13h

Agora entusiasta da empreitada, Souto de Moura organizou a "Operação Adriano". Formado em Medicina, designou o diretor médico, Paulo Rabello, e o fisiologista Luiz Crescente, para analisar Adriano na manhã da última segunda-feira. A dupla, junto com os emissários que intermediavam a transação com o empresário de Adriano, Luiz Cláudio Menezes, o Luca, partiu à Cidade Maravilhosa no início da manhã.

Então, veio o momento do exame. Após três horas, o centroavante deixou a clínica otimista:

- Claro que estou animado. Fiz todos os exames que precisava fazer e agora estou esperando uma ligação para viajar a Porto Alegre. Não vejo a hora.

A negativa
O Internacional se retira da negociação pelo Adriano"
Luís Cesar Souto de Moura,
em 24 de junho, às 17h

Só restava o parecer dos médicos. O departamento de futebol estava entusiasmado com o desfecho. Foi então que, ao final da tarde, Souto de Moura falou com Rabello, ainda no Rio de Janeiro. O namoro se encerrava. O tendão estava recuperado, mas o tempo para recondicioná-lo fisicamente seria longo demais. O fato não foi o único, é verdade. O dirigente revelou que não ocorreu um acerto financeiro entre todas as partes envolvidas, que estava demorando para ser solucionado.

- O Internacional se retira da negociação pelo Adriano. A avaliação realizada pelos nossos médicos mostra que seria demandado um tempo que o Internacional não pode esperar - disse Moura.

O Imperador não era a única "carta na manga" da direção para reforçar o grupo de Dunga em busca do sonhado Brasileirão. Tanto que contratações devem ser apresentadas ainda nesta semana. Júlio Baptista, que esteve próximo de um acerto, mas viu a negociação esfriar após a primeira pedida, segue nos planos.
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