Olhar Direto

Sexta-feira, 19 de julho de 2024

Notícias | Esportes

De jovem contrapeso a ídolo máximo: Gylmar deixa saudade no Jabaquara

Duas vezes campeão do mundo pela seleção brasileira, bicampeão da Taça Libertadores e do Mundial de Clubes vestindo a camisa do Santos, três vezes ganhador do Campeonato Paulista e duas do Torneio Rio-São Paulo defendendo o Corinthians. A carreira de Gylmar dos Santos Neves é reconhecidamente vitoriosa. Tudo começou, no entanto, no modesto Jabaquara, de Santos, cidade natal do ex-goleiro, falecido no último dia 25, aos 83 anos. E o pontapé inicial foi dado há exatos 63 anos, quando Gylmar fez o primeiro jogo como titular da meta do Leão da Caneleira – como é conhecido o tradicional clube santista, que comemora 100 anos em 2014.


Em 10 de setembro de 1950, Gylmar foi escalado por Carlos Viola, então treinador do Jabuca, para encarar o São Paulo, no Pacaembu, pelo Campeonato Paulista. Tudo porque Mauro, titular e dono do significativo apelido “Fortaleza Voadora”, acabou se contundindo em um treino. Um batismo de fogo para o arqueiro, que até então só tinha ido a campo em amistosos, sempre entrando durante as partidas. E não foi a estreia dos sonhos, já que os santistas foram goleados por 5 a 1, como relata a ficha técnica do jogo, de acordo com o historiador Mario Bezerra.

Seria a goleada um sinal de que o Jabaquara teria problemas se dependesse de Gylmar? Longe disso. É o que garante Sérgio Silveira, também historiador, ex-presidente do Jabaquara e autor de dois livros sobre a história do clube santista.
- O pessoal da época comenta que ele (Gylmar) já era visto como um bom goleiro, que podia ir longe, mas o arqueiro do Jabaquara era mesmo o Mauro, um senhor goleiro – garante.
Quem compartilha a opinião é o barbeiro Hilário Carvalho, considerado o torcedor-símbolo do Jabaquara. Ele é dono de um salão no centro de Santos, repleto de fotos históricas do clube santista – muitas delas com Gylmar na formação titular. Há, inclusive, a página do Jabuca em um álbum de figurinhas da época, no qual o futuro goleiro de Peixe, Corinthians e seleção brasileira aparecia como titular da meta aurirrubra. “Hilário Jabuca”, como é conhecido, nunca teve dúvidas do talento do até hoje maior ídolo da quase centenária história aurirrubra.

- Até hoje, não apareceu um goleiro com o mesmo estilo dele. Foi um exemplo para o futebol brasileiro – destaca, emocionado.

O curioso é que Gylmar poderia ter brilhado (ou não) em outra posição. Alto e magro, intercalava jogos como goleiro e atacante no Vila Hayden, um dos mais tradicionais times do futebol de várzea de Santos, antes mesmo de chegar ao Jabaquara. A preferência dele, à época, era justamente atuar na linha.
- Ele tinha um chute muito forte, e gostava de jogar na ponta esquerda – recorda Jair Siqueira, ex-jogador e pesquisador da história do futebol de várzea em Santos.

Mas o Jabaquara tinha Arnaldo de Oliveira, o Papa, um dos mais famosos formadores de talentos da Baixada Santista. No Leão desde os 15 anos, sob a tutela de Papa, Gylmar se firmou como goleiro. Melhor para o futebol brasileiro.

- Logo no primeiro treino, fez defesas incríveis. O reserva tinha se machucado e ele foi para o gol. No primeiro teste, mostrou que era para ele ser arqueiro. A postura dele sempre foi de um grande goleiro – recorda Hilário.

Gylmar dos Santos Neves atuou por seis meses no profissional do Jabaquara, com 20 jogos, encerrando o Paulistão de 1950 como o goleiro mais vazado do torneio. Mesmo assim, "ganhou" uma transferência para o Corinthians – contra quem, aliás, teve a melhor atuação de sua passagem no Jabuca, em uma das raras vitórias dos santistas naquela temporada: um 3 a 2 sobre o Timão, em Ulrico Mursa. Tudo porque o Alvinegro desejava contratar o zagueiro Ciciá, e acabou levando Gylmar de contrapeso. O primeiro não se firmou. O segundo virou lenda.
O detalhe é Gylmar nunca esqueceu o Jabaquara, mesmo à distância.
- Ele sempre confessou gostar muito do Jabaquara pois foi ali que tudo começou. Em 1989, deu o pontapé inicial no jogo amistoso contra o Corinthians, na Caneleira, que foi comemorativo do 75° aniversário do clube. E em 1997, foi homenageado no jantar de aniversário, recebendo uma camisa de goleiro e um troféu representado por um leão, símbolo do clube – recorda Silveira.
O Jabaquara também nunca esqueceu aquele que precisou de seis meses para se tornar o maior ídolo de uma história quase centenária.

Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
Sitevip Internet