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Quinta-feira, 18 de julho de 2024

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Má situação financeira das escuderias de pequeno e médio portes cria embaraços e polêmica na F-1

SÃO PAULO - A Fórmula-1, esporte em que as equipes gastam “os tubos” na busca pela melhor relação entre avanço tecnológico e desempenho na pista, não está imune à crise econômica mundial. Desde meados da década passada, quando foi proibida a publicidade de tabaco, as escuderias vêm buscando fontes de renda em outros ramos e em novos mercados, como o mundo árabe, para driblar as restrições orçamentárias.


 

Na semana que antecedeu ao GP do Brasil, a ser disputado neste domingo, às 14h, em Interlagos, a crise financeira, inimaginável para a modalidade entre os anos 1960 e 1990, quando o dinheiro jorrava, tal e qual a gasolina, essa situação ficou mais exposta. As menores escuderias, Marussia e Caterham, boicotaram a etapa americana de Austin e não vieram a São Paulo. Na sexta-feira, foi anunciado o fim das atividades da Marussia, já em concordata. O fim da Caterham parece igual, mesmo com campanha na internet de financiamento coletivo. O objetivo é arrecadar 2,35 milhões de libras até sexta-feira, para a equipe chegar a Abu Dhabi, no dia 23.

Campeão de 1978, Mario Andretti, embaixador oficial do GP nos EUA, chegou a pedir que essas escuderias sejam banidas.

— Para sempre! Não há lugar para elas. Não percebem que estão prejudicando a si mesmas, aos fãs, que pagam para vê-las, e aos patrocinadores, que apoiam a F-1. Gostaria que, em vez de chorarem, dissessem que queriam ser como McLaren ou Ferrari.

Times médios, como Force India, Lotus e Sauber, que acaba de anunciar o brasileiro Felipe Nasr como piloto para 2015, também são protagonistas dessa novela. Só correram nos EUA e estão no Brasil porque, de acordo com o jornal inglês “The Guardian”, o empresário Donald Mackenzie, maior acionista da financeira inglesa CVC Capital Partners, a dona da F-1, se comprometeu a ajudar com 100 milhões de libras (cerca de R$ 400 milhões) para o término do ano.

Uma vaga por US$ 20 milhões.

 

Nos paddocks há polêmica quanto à inexistência de um departamento de marketing da CVC e ao fato de Bernie Ecclestone, o administrador da categoria, não prestigiar as redes sociais, o que estaria implicando na perda de espaço junto aos jovens. Diretor esportivo da Mercedes, Toto Wolff disse ter se queixado com Ecclestone sobre a perda de 30% da audiência de TV na Itália e de parcela semelhante na Alemanha, o que, na sua opinião, prejudica as escuderias.

Essa busca por equilíbrio nos cofres é um tema polêmico. Para Eddie Jordan, que foi dono da escuderia do mesmo nome e patrão de Rubens Barrichello, a ajuda é necessária.

— Esse negócio tem a ver com competição e precisa ser visto como algo justo. Sem as equipes pequenas, perde-se parte do que é a F-1. É terrível como são tão maltratadas — disse Jordan, comentarista da BBC.

Para sobreviver, a chefe da Sauber, a indiana Monisha Kaltenborn, admitiu que as chegadas de Nasr e de Marcus Ericsson foram costuradas em função dos patrocinadores deles. O brasileiro teria “levado” cerca de US$ 20 milhões do Banco do Brasil.

— Anunciamos pilotos jovens e motivados. É o caminho, olhando o desempenho e finanças — comentou ela.

Há quem diga que não se deve ajudar os “primos pobres”. Jacques Villeneuve, campeão mundial em 1997, que encerrou a carreira na Sauber, afirma que a F-1 não é socialismo.

— Para ser vendável, não se deveria ajudar. Se essas escuderias não são boas o suficiente, deveriam desaparecer. Isso aqui não é socialismo. A F-1 deveria ser a elite, é isso. Se não é capaz de se manter, vá fazer outra coisa! Simples. Não tenho como concordar com isso — declarou o canadense, que criticou a contratação de pilotos com patrocinadores. — Essas equipes deveriam fazer um trabalho melhor. E, se continuarem a contratar pilotos que pagam para correr, que não têm imagem, nunca conseguirão se vender para os patrocinadores. E fica cada vez pior. Na minha época, tinha o Pedro Paulo Diniz, que pagava, mas era rápido. Agora, os que pagam não são. Não consigo imaginar esses bebês tendo imagem para conseguir patrocinadores. Não funciona.

Para Nelson Piquet, tricampeão mundial, a F-1 sempre teve diferentes patamares:

 

— Já escutei, e não sei se é verdade, que o plano é ter seis equipes com três carros cada uma. Equipes de ponta, de fábrica, como a Mercedes. E Honda entrando... Sempre foi assim. Sempre houve times bons e times lá de trás. Sempre os que gastavam mais dinheiro e tinham mais desenvolvimento andaram na frente. Não mudou nada.

Ecclestone, que já havia admitido que poderia ter causado a crise ao distribuir “erroneamente” o dinheiro, mudou o discurso, ontem, quando apareceu em Interlagos:

— Não estamos aqui para dar esmola. As equipes sabem o que têm de fazer. Se gastam mais do que têm, não posso fazer nada. Alguém tem de ser último — falou Ecclestone, que definiu como “um desastre” a vaquinha da Caterham para correr a última etapa, garantindo que ele não irá ajudar.

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