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Sábado, 20 de julho de 2024

Notícias | Meio Ambiente

Ecologicamente correto, papel que vira planta ganha mercado

Quem tem o costume de picar papel e jogar no lixo deve agora tomar cuidado. Ele pode germinar e dar pequenos pés de cravo, camomila, manjericão e até rúcula. Na onda do ecologicamente correto, o papel semente está fincando suas raízes no mercado. O material ganha forma em envelopes, convites, cartões de visita e outros brindes. A novidade é que ele contém grãos. Enterrando e regando os pedacinhos do papel picado, as plantas crescem.


“A ideia é de ser um papel que, em contato com o solo, se decomponha mais facilmente no meio ambiente e possa germinar”, conta Valéria Bianchini, coordenadora do Projeto Tear. A instituição atua em parceria com a Prefeitura de Guarulhos, na Grande São Paulo, oferecendo oficinas a pessoas com transtornos mentais. Um dos trabalhos é produzir convites e cartões de visita que contêm sementes.

“Trabalhamos com sementes de grama, boca-de-leão [espécie de flor] e salsa”, explica Valéria, que usa muita matéria-prima de uma feira livre da cidade. Com fibras de alface e beterraba, por exemplo, é possível fazer belos papéis do tipo. Depois, é só acrescentar os grãos à mistura e deixar o material secar. No caso da grama, as primeiras folhinhas podem despontar em dez dias. "O papel semente trabalha com a questão do consumo responsável. E, por ser reciclado, ele se decompõe mais rápido", conta Rosimeire de Almeida, monitora do Projeto Tear.

Convite de casamento

Quem descobriu a vantagem de apostar no material garante que ele é recente no mercado brasileiro. Não tem mais de dois anos. A bióloga Ana Paula Brandão Pinto, de 31 anos, viu a novidade no jornal e resolveu aderir. Mandou fazer os 400 convites de seu casamento com papel recheado de sementes de camomila. “As pessoas recebem o convite e jogam no lixo. Com o papel semente, pelo menos, tem a chance de ele não virar resíduo”, diz ela, que casa neste mês.

A empresa Papel Semente recebeu a encomenda de Ana Paula. A companhia tem linhas para todos os gostos. A de chá oferece os brindes em papel com sementes de erva doce e camomila. A linha flores traz os grãos do cravinho da Índia, da cósmea ou da boca-de-leão. Quem gosta de hortaliças pode optar pela linha gourmet e, em vez de jogar o papel fora, enterrá-lo e regá-lo. Dali, vão brotar pés de rúcula, agrião, salsinha e manjericão, criando a possibilidade de uma hortinha em casa.

Andréa Carvalho, uma das sócias da empresa, diz que nem toda semente pode ser misturada ao papel. Só as mais resistentes e as pequenas – as grandes deixam a folha muito granulada. “O cravinho é o nosso carro-chefe. Fizemos testes no Sul e no Nordeste e todos os grãos tiveram uma germinação excelente. Mas, dependendo do lugar, a semente não vinga, como a do tomate”.

Corrente verde

O Grupo Eco é outro que adotou a ideia há um ano e meio. Faz marcadores de livro com o papel artesanal e 100% biodegradável. Para Ana Paula Barreiros, assistente comercial, a resposta dos clientes foi muito positiva ao produto. “Uma cliente ligou um dia dizendo que tinha comido o papel. Na verdade, tinha temperado a salada com a rúcula que plantou de um papel semente.”

A empresária Andréa Carvalho torce para que esse “encantamento” em ver brotar vida de um simples papel se torne uma grande corrente em favor do meio ambiente. “Acredito em pequenas ações e meu cliente, comprando esse produto, faz a parte dele”, afirma ela.
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