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Sábado, 20 de julho de 2024

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Audiência Pública discute expansão de usinas de geração de energia na Bacia do Alto Paraguai

Foi realizada em Campo Grande, na semana passada, pelo Ministério Público Federal (MPF) de Mato Grosso do Sul a audiência pública “Empreendimentos Hidrelétricos na Bacia do Alto Paraguai (BAP) – a exploração energética e a integridade ecológica do Pantanal”. O evento contou com a participação do Ministério Público Estadual (MPE), MPF-Cuiabá, Ibama-MS, SEMA-MT; SEMAC-MS, EPE- Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério de Minas e Energia e da pesquisadora Débora Calheiros - representante da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, entre outras autoridades, ambientalistas, pescadores, pesquisadores e organizações não-governamentais.


O principal assunto debatido durante o evento foi a implantação de um conjunto de 116 usinas hidrelétricas (29 já em operação) na bacia do Alto Paraguai, em sua maior parte (73%) Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs, na região de transição entre o planalto e a planície pantaneira. O objetivo da audiência foi fomentar a discussão desse tema com o maior número possível de interessados, assegurando que a atuação do Ministério Público seja pautada nos princípios democráticos.

Durante a abertura do evento, o Procurador da República de Corumbá-MS e mediador da audiência pública, Dr. Wilson Rochas Assis, ressaltou a responsabilidade de todos os presentes em encontrar meios para um modelo de exploração energética que atenda as demandas do desenvolvimento econômico do país, sem que a preservação do meio ambiente fosse comprometida.

A pesquisadora da Unidade realizou uma das apresentações da audiência, onde falou sobre o funcionamento da dinâmica das águas na bacia, a influência da construção de barragens na conservação dos ambientes aquáticos e dos serviços ambientais do sistema BAP/Pantanal. Segundo a pesquisadora, o conjunto desses empreendimentos hidrelétricos podem causar impactos e desequilíbrio nos ciclos naturais de cheias e secas que regem o funcionamento ecológico planície, afetando assim, a flora e a fauna, bem como a qualidade de vida das pessoas que dependem da saúde ambiental do Pantanal, como os pequenos e grande produtores rurais, os pescadores e ribeirinhos e o setor turístico. A pesquisadora lembrou, ainda, que uma barragem representa um obstáculo para o livre fluxo não apenas da água e de nutrientes carregados por ela, mas também de peixes, principalmente as espécies migratórias, resultando em diminuição da produção pesqueira em médio e longo prazo.

A audiência foi proposta a partir de inquérito civil público que tramita na Procuradoria da República no Município de Corumbá (MS), instaurado a partir de informações apresentadas no projeto de pesquisa desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Pantanal intitulado “Monitoramento Limnológico e Ecotoxicológico da Bacia do Alto Paraguai” dentro do Projeto Ecológico de Longa Duração (PELD/CNPq 520056/98-1). A publicação tem servido também como fonte de informação para diversos outros órgãos estaduais e federais, responsáveis por políticas públicas relacionadas à gestão de recursos hídricos, como o Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH e o Comitê Nacional de Zonas Úmidas - CNZU, ambos vinculados ao Ministério do Meio Ambiente, sendo que o CNZU já elaborou uma Recomendação sobre a questão junto ao Ministério.

Segundo a pesquisadora Débora Calheiros, responsável pela publicação, “É imprescindível que o setor elétrico brasileiro e os gestores da área ambiental e de recursos hídricos se sensibilizem quanto à fragilidade do ecossistema Pantanal e quanto aos impactos que a instalação desse conjunto de hidrelétricas, sem a observação de critérios de sustentabilidade, podem causar para toda a região”. Entre as recomendações feitas por Débora durante a palestra está a aplicação do conceito de Manejo de Ecossistemas, pelo qual, com base na compreensão científica do funcionamento dos processos hidro-ecológicos do sistema BAP/Pantanal, é possível utilizar seus recursos naturais de forma racional, garantindo a qualidade ambiental e, desta forma, a sustentabilidade das atividades econômicas tradicionais da região, além dos valores sociais e culturais da população pantaneira.

Durante a audiência, o Promotor de Justiça Alexandre Raslan ressaltou que os Estados de MS e MT têm buscado diversificar suas matrizes econômicas, razão pela qual a paisagem natural de ambos tem sido muito alterada. Segundo ele, a sociedade deve pensar sobre o que se quer em um futuro próximo, tanto do ponto de vista do desenvolvimento econômico como da preservação dos recursos naturais: “a grande virtude desta audiência pública é levantar indagações e propostas. A questão energética deve ser pensada em termos amplos, alcançando as comodidades geradas, mas também os custos sociais de sua produção, de modo que não se deve continuar privatizando os lucros e sociabilizando as perdas do processo de produção de energia” completa o Promotor.

A proposta defendida na audiência foi a paralisação dos processos de licenciamento em andamento até que se tenha em mãos as avaliações ambientais relacionadas ao conjunto de empreendimentos - Avaliação Ambiental Integrada e Avaliação Ambiental Estratégica - e a criação de um grupo técnico multidisciplinar para acompanhar a elaboração de um Termo de Referência (TR) que norteará a decisão sobre o licenciamento dos empreendimentos energéticos da bacia pelos órgãos responsáveis, bem como o regime de operação das usinas já em funcionamento. O MPF e o MPE vão atuar de forma conjunta por meio de medidas judiciais e extrajudiciais necessárias para a proteção do Pantanal, considerado como Patrimônio Nacional pela Constituição Federal de 1988 e Patrimônio da Humanidade e Reserva pela Biosfera pela Unesco.

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