Pelo menos 3,8 mil famílias ribeirinhas de Manaus foram atingidas diretamente pela seca. A maioria formada por produtores rurais que não têm como escoar a produção agrícola. Na orla de Manaus, vários barcos e casas flutuantes que não foram removidos a tempo acabaram encalhando. O rio Negro baixou mais de 9 metros desde final de junho, quando começou a vazante.

Na foz do igarapé do São Raimundo, que deságua no rio Negro, dona Maria Freitas da Silva lava o assoalho de madeira da casa em que mora com a filha, dois netos e mais 3 filhos. A casa - que antes da seca flutuava sobre toras de madeira - está com a estrutura toda comprometida, mas ela diz que não tem para onde ir. "Eu vim pra cá do interior pra cuidar do meu neto que sofre dos rins. Eu ainda tinha um fogão, uma botija de gás e uma TV, mas o ladrão entrou aqui e levou tudo", lamenta. Ela vive com R$ 10 por dia que ganha para vigiar dois barcos, também encalhados, que ficam ao lado do flutuante onde mora. "Problema é que o homem (dono do barco) faz duas semanas que não aparece. E eu nem sei o nome dele", diz dona Maria Silva.

Com a baixa do rio, o lixo que é jogado no igarapé e trazido pela correnteza. As praias ficam cheias de garrafas plásticas e de lixo. Pra completar a sujeira, o esgoto das palafitas construídas nas encostas da orla de Manaus deságua diretamente nas praias sem qualquer tratamento. "A gente tá até acostumado com esse cheiro. Como não temos pra onde ir, o jeito é conviver com a sujeira mesmo", diz o marítimo Pedro Guedes, que trabalha em um dos barcos ancorados na área.

O nível do rio Negro, um dos maiores afluentes do rio Amazonas, está a apenas 5,03 metros da maior seca da história. Nesta sexta-feira, chegou à marca de 18,67 metros. E se continuar baixando na mesma média diária, deve atingir a cota recorde em 20 dias. A Defesa Civil do Amazonas confirmou que 11 municípios já anunciaram situação de emergência e enviaram pedidos de homologação oficial dos decretos para o Governo do Estado.