Para chegar ao resultado, os cientistas coletaram cerca de 130 mil espécimes de artrópodes ao longo dos últimos dez anos, disse ao G1 o professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Sérvio Ribeiro, especializado em ecologia e interação entre insetos e plantas.
Separando animais repetidos e usando modelos matemáticos, os cientistas estimaram em cerca de 25 mil as espécies de artrópodes nos 60 km² da floresta, segundo o levantamento publicado na revista "Science", nesta sexta-feira (14).
O cálculo é inédito, diz o professor da Ufop. "Até hoje os cientistas não conseguem responder quantas espécies de artrópodes existem no planeta", diz ele. A pesquisa dá um primeiro passo em busca desta resposta, já que estes seres são abundantes em matas tropicais e representam 95% de todas as espécies de animais do planeta. "Esta é a primeira quantificação feita em uma floresta. Só isso é um feito, é importante por si só."
Ribeiro participou ativamente do estudo junto com outros três cientistas brasileiros. O levantamento é parte do Projeto Ibisca-Panamá, e foi liderado pelo Centro de Estudos Tropicais do Instituto Smithsonian, dos Estados Unidos.
Pesquisadores coletam insetos de uma gôndola pendurada em um guindaste, na floresta do Panamá (Foto: Divulgação/Projeto Ibisca/'Science')Pesquisadores coletam insetos de uma gôndola pendurada em um guindaste, na floresta do Panamá (Foto: Divulgação/Projeto Ibisca/'Science')
Foram coletados desde artrópodes no solo, próximos às raízes das plantas, até os que vivem nas copas das árvores. Foram usados guindastes, flutuantes, pequenos balões e uma série de outros aparelhos, aponta o professor da Ufop. "Um grande diferencial deste trabalho foram os equipamentos, uma série de invenções feitas por um grupo francês que se associou com o Smithsonian para agregar estas facilidades, que nos ajudaram a chegar nas copas das árvores."
Para cada 10 mil m² ou um hectare de mata, foram encontrados 60% ou dois terços do total de espécies que existem em toda San Lorenzo, diz Ribeiro. "Isso significa que a maioria das espécies tem populações espalhadas por toda a floresta", ressalta. A descoberta indica que nenhum ecossistema evoluiu sem uma influência intensa os insetos, aracnídeos e crustáceos, de acordo com o cientista.
"Sem os insetos, nenhum bioma vai funcionar direito. Não vai capturar carbono, reciclar nutrientes ou garantir chuva. É preciso levar isso em consideração na hora de preservar", ressalta o pesquisador.
Um bom indicador do número de espécies de artrópodes em uma floresta é a variedade de plantas, segundo o estudo. Pela estimativa, para cada espécie de vegetal há 17 tipos de insetos, aracnídeos ou crustáceos; para cada espécie de ave, 71 de artrópodes foram encontradas; e para cada espécie de mamífero, nada menos que 270 variedades de artrópodes foram identificadas em San Lorenzo.
"Os mamíferos e as aves não vão dizer tanto sobre a floresta quanto a fantástica diversidade de artrópodes que devem existir naquela região", pondera o professor da Ufop.