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Terça-feira, 16 de julho de 2024

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Banco genético mostra influência do Peru no cultivo de palmito no Brasil

Os índios do Peru influenciaram no cultivo de palmito no Brasil. Essa história pode ser desvendada no banco genético na cidade peruana de Iquitos que conta com 200 variedades de palmeiras.

Os índios do Peru influenciaram no cultivo de palmito no Brasil. Essa história pode ser desvendada no banco genético na cidade peruana de Iquitos que conta com 200 variedades de palmeiras.


Um campo de investigação científica e ao mesmo tempo um museu genético. As palmeiras foram plantadas em meados da década de 80, depois de quatro expedições pelos rincões da Amazônia. A coleta das 200 variedades foi feita no Peru, na Colômbia, no Equador e no Brasil.

A variedade brasileira é de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, região conhecida como cabeça do cachorro. É inegável a grande contribuição científica do campo genético. As técnicas de cultivo avançaram com a identificação das raças mais produtivas para frutas, palmito e farinha. Esse domínio representa mais segurança alimentar para as comunidades nativas.

Mas o surgimento de plantas sem espinhos é um mistério no processo da domesticação da pupunha que nem a ciência consegue explicar direito. Para entender o que houve foi necessário percorrer várias regiões do Peru, cruzar a Cordilheira dos Andes e enfrentar estradas perigosas pelo interior do país.

A aldeia San Juan, em Yurimaguas, no Alto Amazonas, é o berço da pupunha sem espinho. A raça da palmeira facilitou muito a vida dos índios. Mas é preciso subir nos troncos lisos das pupunheiras para buscar os cachos.

Alguns cientistas acham que a pupunha sem espinho é resultado de uma mutação. Mas o agrônomo peruano, Jorge Perez, especialista em pupunha, tem outra teoria. “O que aconteceu no passado foi um cruzamento. Quando a pupunheira abre seu cacho, imediatamente as flores femininas estão ávidas para fecundar. Então, o pólen de outra palmeira que não tem espinho, chamada camona, provavelmente fez essa polinização e apareceu essa hibridação natural. Através disso, foi possível conseguir as pupunheiras sem espinho”, diz.

Há milhares de anos, as comunidades nativas, involuntariamente, encarregaram-se de espalhar a novidade pela região. Uma das suposições diz que os índios xauins eliminavam todas as pupunheiras que encontravam com espinho. As plantas mais jovens também eram cortadas. Isso teria ajudado a natureza a criar uma raça que levou a região de Yurimaguas a entrar para a história da pupunha.

O Brasil deve à região de Yurimaguas a introdução do cultivo do palmito de pupunha em terras brasileiras. As primeiras sementes da variedade saíram daquele lugar. O peruano Jorge Perez ajudou nessa empreitada, mas quem se arriscou para transportar a carga foi o agrônomo capixaba Adilson Pereira.

Foram necessárias três semanas de viagem entre a saída de Yurimaguas e a chegada a São Mateus. Adilson Pereira se orgulha de ter introduzido a pupunha sem espinho no Espírito Santo, mas não imaginava que a disseminação da palmeira pelo Brasil afora fosse se transformar um dia em seu principal negócio. Como não tinha documentação da carga, o agrônomo precisou sair escondido do Peru, navegando pelo Rio Amazonas, para chegar com as sementes ao Brasil. O agrônomo se especializou na produção de mudas, regularizou a situação do plantio no Ministério da Agricultura e conseguiu disseminar a cultura do palmito de pupunha pelo país.

A pupunha é atração turística das montanhas capixabas. Um sítio da região abriu as portas para apreciadores do palmito. O lugar oferece um variado cardápio com carpaccio, lasanha e talharim, preparados na pequena indústria montada pela família. A haste da pupunha é dividida em partes na hora de fazer o palmito.

O sítio tem quatro hectares com 20 mil pés de pupunha cultivados no sistema de sequeiro. A colheita começa quando a árvore atinge três metros. O palmito fica na ponta da árvore, no miolo do tronco. A pupunha é como a bananeira. Quando a árvore é cortada, o filhote cresce ao lado. E a vantagem aumenta em caso de plantio irrigado.

O agrônomo Adilson Pereira desenvolveu um substrato especial com casca de coco moída que substitui a terra. “O enraizamento assegura o substrato para não haver a quebra do torrão do substrato e essa e uma muda em perfeita condição de campo”, diz.

A mudança causou a redução dos custos e melhora da qualidade. O agrônomo vê um futuro promissor para o cultivo de pupunha no Brasil. “Até mesmo porque passa a ser uma necessidade a gente ter uma palmeira pra esta substituição. As palmeiras de extrativismo estão acabando”, completa.

O que nunca vai acabar é essa busca do homem pelo conhecimento. A pupunha é um exemplo do quanto é importante a domesticação das plantas. O domínio que faz sonhar, criar, evoluir e produzir.
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