A forte influência política do delegado da Polícia Civil Márcio Pieroni pode atrapalhar as investigações do Ministério Público Federal (MPF), que, por isso, se manifestou contrário ao pedido de revogação de prisão preventiva impetrado pela defesa do delegado, preso desde maio deste ano por articular uma farsa para levantar suspeitas sobre a morte do juiz Leopoldino Marques do Amaral. assassinado em setembro de 1999, na tentativa de beneficiar o julgamento do empresário Josino Pereira Guimarães, indiciado por ser o mandante do crime.

Na manifestação, o Ministério Publico Federal ressalta que Pieroni é Delegado de Polícia antigo com grande influência política dentro e fora dos quadros da Polícia Civil de Mato Grosso.

“Conforme asseverado em seu próprio depoimento da Polícia Federal, já ocupou os cargos de Diretor Geral da Polícia Civil, Corregedor-Geral, Subsecretário de Segurança Pública, e já foi lotado em todas as delegacias especializadas na Polícia Civil. Ademais, resta evidente ainda que possui grande influência política perante os outros poderes do Estado, sendo que sua esposa mantém relações comerciais com a companheira do corréu Josino Pereira Guimarães, Marli Maggi, quem, por sua vez, é irmã do ex-governador e atual Senador da República Blairo Maggi”.

O MPF ressaltou ainda que o delegado possui intima ligação com o ex-presidente do Tribunal de Justiça e atual secretário de Justiça e Direitos Humanos, Paulo Lessa, que também foi citado durantes as investigações por supostamente ter auxiliado na farsa promovida em 2006.

“Com efeito, a mesma força política que está por detrás do assassinato do Juiz Leopoldino Marques do Amaral e que movimentou a máquina da polícia civil para auxiliar criminosamente Josino Pereira Guimarães por certo não hesitará em auxiliar Pieroni para se livrar das acusações formuladas pelo Ministério Público Federal, sendo certo que solto novamente se unirá com o requerente na próxima empreitada criminosa para tumultuar a instrução processual”.

Diante dos argumentos o MPF pontuou que a única forma de impedir que o réu novamente atue de forma criminosa para falsear provas é mantê-lo preso.

Farsa

Desde 2006, o empresário e o delegado tentam armar uma farsa para "provar" que Leopoldino, estaria vivo. A revelação foi feita pela ex-escrevente do Fórum de Cuiabá, Beatriz Árias, única condenada pelo assassinado do juiz, que compareceu voluntariamente (sem ser intimada) na sede do Ministério Público Federal para contar a trama montada pela dupla (Josino-Pieroni).

A ex-escrevente revelou que, em 2006, foi procurada pelo delegado Márcio Pieroni para que fosse prestar um depoimento sobre o caso Leopoldino na delegacia. O pedido foi corroborado pela mulher de Josino.

Árias denunciou um encontro com Lessa na sede da Associação Mato-grossense dos Magistrados (Amam), no qual o, à época, o desembargador teria tentado convencê-la a fazer parte da fraude articulada por Josino Pereira Guimarães e pelo delegado Márcio Pieroni.

Segundo a ex-escrevente, em trecho da denúncia do MPF, o depoimento feito na Delegacia de Meio Ambiente, órgão no qual Pieroni estava lotado à época, possui trechos falsos, dentre eles, o que afirma o fato de o juiz estar vivo e morando na Argentina. Beatriz Árias também nega parte do depoimento montado por Pieroni, no qual consta que ele "tentou por várias vezes avisar as autoridades judiciárias da necessidade de se fazer um novo exame no cadáver do magistrado".

Outro Lado

O Olhar Direto entrou em contato com a assessoria de imprensa do senador Blairo Maggi (PR), que informou não se manifestar por não ter nada haver com o caso.

A redação tentou contato com a assessoria do secretário Paulo Lessa, mas não obteve êxito.

Atualizada às 10h38