Olhar Direto

Sábado, 03 de agosto de 2024

Notícias | Política MT

Entrevista

Sociedade não participa e não cobra

Ele crítica duramente o Congresso Nacional, que se tornou um mero avalista orçamentário do Executivo, chama a atenção para o retrocesso que tentam imputar ao eleitor na chamada definição de uma lista partidária onde a cúpula dos partidos políticos é que definiriam quem será eleito, já que o voto seria da sigla.


Dizendo-se um otimista com Mato Grosso e suas potencialidades no campo da produção agrícola que vai sustentar o mundo, Taques disse que leis existem para serem cumpridas e que a responsabilidade de se fazer leis é do Legislativo, portanto, vê no poder a essência da democracia, mas que no país se tornou inerte. No mesmo ritmo do desenvolvimento, ele aponta que é possível desenvolver com preservação ambiental, bastando para isto que se cumpra o que está previsto no ordenamento jurídico.

O procurador da República que ganhou notoriedade nacional quando destruiu um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro e de jogos ilegais do bicheiro João Arcanjo Ribeiro, não assume para si o ônus de ter desbaratado uma das maiores quadrilhas de criminosos e reparte com os colegas e instituições como as forças policiais um trabalho que deu certo porque todos caminharam numa mesma direção.

A Gazeta - Existe a possibilidade de uma candidatura, de uma mudança de vida do meio jurídico para o político?

Pedro Taques - Eu entendo que a política é coisa séria e não posso entender e não vejo que na política só existam pessoas que cometam crimes e todos nós precisamos da política e o pior analfabeto é aquele político. Eu tenho que ser frio ou quente, não posso ser morno. Sou uma pessoa que pensa, estou em São Paulo há quatro anos, mas venho sempre à minha terra, Mato Grosso, e me perguntam se vou ou não entrar na política. Está muito longe, hoje eu não sou candidato porque a legislação não me permite. Temos que compreender que a lei tem que ser cumprida.

Gazeta - Objetivamente o senhor é candidato?

Taques - Objetivamente eu lhe respondo que a lei não me permite ser candidato, então hoje eu não sou candidato. Lei é para ser cumprida.

Gazeta - Mas isso é por enquanto?

Taques - Nós temos que falar a verdade. As críticas que se fazem aqueles que hoje estão na política é a falta da verdade. Eu digo que pensar não é crime e estou seriamente pensando nisto.

Gazeta - Não lhe preocupa que sendo um homem pautado pela ética e moralidade no poder público, ao ingressar na política possa estar sujeito a acordos partidários muitas vezes duvidosos?

Taques - Não. Minha conduta será a mesma. O que está na lei será cumprido. Se me propuserem acordos ilícitos, se eventualmente eu ingressar na política, estes acordos não fazem parte do meu dicionário e vou combatê-los. Volto a frisar, política é coisa séria e como prevê a etimologia da palavra, político é aquele que se preocupa com a coisa alheia e se você quer ser candidato, precisa entender que a palavra vem de limpo, de cândido, de alvo, que está limpo. O cidadão tem que ser honesto.

Gazeta - Mas e o juiz Júlier Sebastião é candidato?

Taques - Não posso falar por ele, mas é um homem de bem, e essa condição lhe permite ingressar na política que precisa de homens de bem.

Gazeta - Em campanha eleitoral existe uma série de fatos que envolvem recursos, apoios de empresários e a troca de favores. Como conviver com isso e impedir que fatos como estes se tornem sua fraqueza política?

Taques - Posso ser chamado de romântico ou de idealista, mas eu acredito na verdade, na honestidade e acredito que a política seja um instrumento de transformação. Então, na minha posição de não-candidato e membro do MP, objetivamente pontuo que partidos políticos não cometem crimes, que a Assembléia Legislativa não comete crimes. Quem comete crimes são pessoas, então coloco às claras de que eu não gosto de quem comete crimes. Tenho minha vida pautada pela lei. Se eu entrar na política, vou encontrar uma sociedade composta por pessoas de bens, trabalhadores que declaram imposto de renda e não subtraem recursos públicos. Eu acredito nisto. O que seria do homem sem esperança de mudanças?

Gazeta - Mas e as contribuições para as campanhas eleitorais?

Taques - Se um dia eu vier a ser candidato, não o farei em defesa de grupos empresariais. Serei candidato, se assim a população concordar, representante da sociedade e do Estado, do conjunto de pessoas. Quero, inclusive, fazer ponderações, mesmo sem ser político, mas como cidadão, das discussões em torno de listas de candidatos, o que é um retrocesso permitir que o caciquismo continue na política nacional e impedir que o eleitor renove os legislativos.

Gazeta - Qual a corrente política que o senhor seguiria caso candidato? De esquerda, centro, direita?

Taques - Essa discussão, no mundo ela já esteja superada. Hoje você tem que ser a favor ou contra os excluídos, contra ou a favor da liberdade e da igualdade. Penso que falar de ideologia no Brasil com os atuais partidos políticos é uma piada. Temos a pouca construção ideológica nos partidos políticos.

Gazeta - Como o senhor considera os fatos de 2002, quando se desarticulou o crime organizado e o sistema montado pelo comendador João Arcanjo Ribeiro, e se hoje Mato Grosso melhorou?

Taques - Primeiro de tudo é preciso fazer justiça de que uma operação daquelas não é para uma pessoa só, pois um conjunto de pessoas e instituições participaram de todo o processo. Fizemos nossa obrigação constitucional, assim como o Ministério Público do Estado, as polícias Federal, Militar e Civil. Foi um conjunto de forças que atuou diretamente nesta questão. De lá para cá, podemos ver que o crime organizado não acabou, porque como em política no crime organizado não existem espaços vazios. Outros vieram e acharam os espaços. É óbvio que a mancha que existia em Mato Grosso diminuiu.

Gazeta - Mato Grosso está melhor?

Taques - Sem dúvida alguma e em várias aspectos, mas muito ainda há para ser feito e isso depende da sociedade que tem que participar mais cobrando das autoridades que exerçam suas funções. Só que na maioria das vezes a sociedade é apática, pois ela deveria estar cobrando se as ações judiciais terminaram ou não, se as pessoas apontadas foram condenados ou absolvidas, porque todos tem o direito a absolvição. Agora o que não pode e se ficar esperando por uma eternidade a apreciação, até para que a verdade apareça.

Gazeta - Sua fala nos remete muito mais para os legisladores. O problema do Brasil são as leis, as faltas delas ou a questão política?

Taques - A lei não muda o homem, mas o homem muda a lei. Nosso Código de Processo Penal é de 1941 e a sociedade desta época era rural. Hoje a sociedade é urbana. O Congresso Nacional não legisla. Basta ver as Medidas Provisória. São utilizadas de forma equivocada. Hoje, infelizmente o Legislativo não passa de despachante de orçamento. A forma de emendas tem que ser modificada. O Legislativo serve para fiscalizar e elaborar leis, e isto não está correto, pois propicia desvios, corrupção, porque todos sabem como se da a repartição do bolo orçamentário.

Gazeta - O Legislativo é inerte, inanimado?

Taques - Ele é muito importante. Não há que se falar em democracia sem Legislativo. O melhor sistema é a Democracia. Não tenho o dom da verdade, mas como cidadão temos que repensar o Legislativo, pois ele não cumpre suas atividades, pois ele não serve apenas para criar nomes de ruas, nem noites do flash back. A sociedade precisa saber quanto custa um deputado federal, um estadual, um senador. Quanto que a Assembléia (Legislativa) de Mato Grosso gasta com propaganda. É preciso eles fazerem propaganda de suas atividades. Vamos comparar quanto gasta um legislativo estadual que se encontra apenas na Capital e quanto custa uma Ministério Público que está em quase 50 municípios?.

Isto não é uma discussão de candidato e sim de um cidadão que pensa, que discute e que cobra pelos seus direitos. Zelar pelo não desvio dos recursos é um passo que vale por toda uma eternidade.

Gazeta - Por que o Brasil vive dificuldades na política?

Taques - Nós temos que nos perguntar, porque nós somos corruptos, a sociedade é corrupta. Eu penso que a sociedade é corrupta porque muitos entendem que a coisa pública é coisa de ninguém. Só que ela é de todos nós. Uma simples caneta da repartição pública não é de ninguém e sim é de todos. Esse sentimento só vai diminuir a partir de uma mudança cultural, quando o cidadão seja instrumento desta mudança, através de uma sistema educacional e de saúde que funciona. Somente quem tem uma posição crítica é que não vede seu voto. Parlamentares tem resguardada sua imunidade quanto a sua palavra e posição e não com relação a crimes. Crimes tem que ser punidos independente de quem os cometa.

Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 

Comentários no Facebook

Sitevip Internet