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Sábado, 28 de setembro de 2024

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Política com Tempero

2014 - Que Copa é essa?

Já quase no final do governo Jayme Campos, pelos idos de 1994, havia uma grande movimentação, em Sinop, pela inauguração do Linhão, a linha de transmissão de energia de 138 KV, que ligaria Cuiabá a Sinop e posteriormente a Alta Floresta. Era o grande sonho da região porque existia uma consciência coletiva de que seria a redenção econômica, o divisor de águas do desenvolvimento de todo norte do estado, como de fato aconteceu.


O tão famoso Linhão foi incutido diariamente na cabeça das pessoas, por uma campanha memorável feita pela Rádio Celeste, a partir da primeira grande crise energética ocorrida em Sinop, no governo Júlio Campos, em 1984: o principal motor da Cemat queimou e gerou, pela demora do conserto, com importação de peças dos EUA um sentimento de revolta na população que, desanimada, achava que o problema da energia elétrica jamais seria resolvido.

Alguém disse, então, que energia estável e confiável só com o tal do Linhão. E foi aí que nasceu aí a campanha: a cada intervalo comercial da rádio, uma vinheta entrava no ar com a seguinte identificação: Rádio Celeste, a rádio do Linhão.

Conto essa história, primeiro pela saudade que bateu e a oportunidade de lembrar a saga de um povo que um dia quase chegou a desanimar por estar abrindo uma fronteira agrícola que parecia criar novos e intransponíveis obstáculos a cada dia. Uma região que temia não ver o futuro chegar tamanho eram os problemas. Pena que muitas das histórias dos pioneiros estão e outras tantas definitivamente perdidas. Os novos chegantes não terão sequer o prazer de saborear causos maravilhosos de uma gente que veio ajudar Mato Grosso a se transformar na potência agrícola que já é hoje e com a perspectiva de ser cada vez maior, talvez a maior do mundo.

Era o início do convívio entre a cuia e a bomba de chimarrão com a mujica de pintado, o cururu e o siriri. E deu no que deu. Mato grosso ganhou e muito.

Mas o fato a registrar, feito esse longo início de artigo, foi uma ida do governador Jayme Campos a Sinop e disso ele deve se lembrar, até porque eu mesmo o vi contando algumas vezes.

Andando pela rua, perguntou a um transeunte qualquer, naquelas caminhadas rodeado de correligionários que se acotovelam para estar ao lado da maior autoridade do estado:

- Meu amigo, qual seria aqui a obra mais importante que o governo deveria trazer?
A resposta veio de imediato.

- O Linhão, governador!

- Mas o que é o Linhão? Perguntou Jayme Campos?

- Ah, seu governador, o que é o Linhão eu não sei direito, não. Mas que vai mudar a vida da nossa cidade, isso vai. Todo mundo só fala nisso!

E como mudou!

E, a partir desse sentimento, eu quero falar, hoje, da Copa do Mundo de 2014, que nós, mato-grossenses de fato e direito, teremos oportunidade de participar, efetivamente, com a escolha de Cuiabá como uma das sub sedes. É algo tão maravilhoso que talvez a maioria das pessoas ainda não tenha a exata dimensão do que isso significa.

Primeiro é preciso desmistificar que a vitória de Cuiabá tenha sido obra de um único jogador. Não foi. Além da participação efetiva de pessoas anônimas, fundamentalmente responsáveis pelo sucesso do empreendimento, o Projeto Copa Cuiabá 2014, foi elaborado de forma profissional pelos governos estadual e municipal, além da contratação certeira da empresa de consultoria responsável pela elaboração do projeto técnico. Valeu mais o que estava escrito nos cadernos sobre as exigências da FIFA, do que as morenas seminuas e a dança dos índios mostrados por Mato Grosso do Sul, durante apresentação no Rio de Janeiro.

Na verdade, é preciso salientar, ainda, que Cuiabá, ao contrário do que muitos pensam, não concorria apenas com Campo Grande. Tinha ainda como fortes adversárias, cidades de peso como Goiânia, Belém e Maceió.

E por que Cuiabá ganhou? Ganhou porque foi dessas quatro cidades, a única em que o governo do estado assumiu, por escrito, a responsabilidade da reforma do estádio Verdão, obra de aproximadamente 300 milhões de reais. Assumiu a construção de Centros de Treinamentos para cada uma das equipes que vierem participar da copa em Cuiabá e ainda apresentou uma conta com um saldo já existente no valor de 120 milhões de reais, para o início das obras necessárias, além de criar um Fundo para garantir os demais recursos necessários: o Fundesmat.

Estou certo de que se houver o empenho necessário dos governos federal, estadual e municipal, Mato Grosso sairá, como num passe de mágica, do primeiro para o terceiro milênio.

A Copa poderá ser,ainda, a verdadeira descoberta do Pantanal. Não só a descoberta, mas a divisão do indivisível, a capacidade de mostrar que o pantanal de Mato Grosso poderá estar definitivamente dividido na infraestrutura e no diferencial na forma de receber, na forma de atender aos turistas que para cá virão. Será, com certeza, mais um dos grandes lamentos de Mato Grosso do Sul, que tanto comemorou a divisão em 1979, achando estar obtendo uma grande conquista e aniquilando definitivamente qualquer sonho de progresso da parte norte.

Mas para que isso aconteça, uma coisa é fundamental, além do papel dos governos naquilo que é seu dever institucional: a participação, mas participação de verdade, da sociedade civil, do cidadão, do torcedor, do agente social, do pai e da mãe de família que não podem deixar passar a oportunidade de contribuir para um evento que passará pela cidade como um furacão, mas deixará as conseqüências das grandes transformações que as gerações futuras poderão usufruir.

A responsabilidade começa em casa, com a melhoria do visual da calçada, da rua, da pintura da parede, da limpeza do terreno baldio, na construção das calçadas, com o plantio de flores e com a compreensão de que talvez nunca mais haja uma oportunidade real de mudanças positivas como essa.

Ao governo do estado cabe, fundamentalmente, a responsabilidade da infraestrutura, como a melhoria e a construção de vias urbanas que desafoguem o trânsito, a iluminação pública e sinalização, construção, aparelhamento e melhoria de hospitais, pronto atendimentos. Melhoria e eficiência na segurança pública, aquisição de equipamentos públicos de controle e prevenção de tumultos, além da responsabilidade de equipar eficientemente a Defesa Civil. A parte prevista do que deve ser a responsabilidade apenas do governo do estado está orçada em 600 milhões de reais ‘’É dinheiro que Cuiabá nunca sonhou em receber, quase o triplo do PAC.

À prefeitura cabe também uma responsabilidade enorme: além da melhoria, ampliação e reforma das vias urbanas, o paisagismo da cidade deverá passar por uma reestruturação enorme, enchendo de orgulho não só os que na capital vivem, mas servindo de exemplo a outras cidades, para que cada um dos visitantes sinta-se impactado pelo exemplo e alardeie, em cada canto do mundo, do que é capaz a força humana quando envolvida em um objetivo único. Será o momento de mostrar a riqueza da nossa cultura, do nosso artesanato, dos nossos costumes e, algo que todos que por aqui passarem jamais esquecerão: o djeito cuiabano de receber aqueles que tchegam a essa terra abençoada. Ponto para o prefeito Wilson Santos que, mais importante do que criar a Secretaria Extraordinária para a Copa de 2014 escolheu como titular, Agripino Bonilha Filho, que fará desse projeto, tenho certeza, a sinfonia da sua vida.

Caberá, ainda à prefeitura, junto com o governo do estado, a conscientização da importância da iniciativa privada. Apenas pra se ter uma idéia, só a reforma de todo o setor elétrico da cidade, garantindo qualidade de iluminação nas grandes avenidas e bairros e uma reestruturação geral no sistema de distribuição de energia, garantindo uma energia eficiente e confiável, que é uma das condições necessária para realização do evento. E isso não vai embora com o fim da copa. Fica. Fica e muda a vida das pessoas.

O papel do governo federal nesse projeto também é fundamental. Além da conclusão, com possível ampliação e melhoria do aeroporto Marechal Cândido Rondon, que envergonha cada um de nós, pela falta de estrutura e conforto aos usuários, caberá a ele a construção de uma via expressa de 14 km ligando aeroporto ao Estádio do Verdão, com uma ponte sobre o rio Cuiabá. É coisa de gente grande.

Há, ainda, que se discutir qual será o papel a UFMT nesse projeto? Ela vai sair de dentro de seus muros para contribuir de verdade através da sua inteligência acadêmica com projetos urbanísticos, capacitação das pessoas, envolver-se profundamente, ou vai ficar apenas olhando, sem participar da vida da cidade, discutindo internamente o que deveria ou não ser feito, como costuma fazer. Uma universidade como a nossa tem como fazer e acontecer. Pode envolver-se de forma tal que mudaria inclusive a visão que a própria sociedade tem dela, quando se trata de projetos extracurriculares, com participação quase zero.

Será que o Agro Negócio, o setor que mais riquezas produz na formação do PIB do estado, tem a devida consciência do seu papel no projeto Copa do Mundo. Se juntarmos a Famato, a Agrimat, a Aprosoja, a Fundação MT, apenas pra citar algumas entidades, teremos aí, pelo menos 90% da riqueza do estado. E eles? O que pretendem fazer? Será que será muito difícil conscientizá-los para que, em retribuição a tudo que esse estado tem lhes dado, criassem um Fundo para a construção de grandes obras como Resorts, Hotéis, Casas de Shows e tantas outros aparelhos capazes de mudar a infraestrutura da cidade e do estado.

E quanto à capacitação da população que receberá os turistas que vêm de fora? Teremos um tempo de nove meses entre a divulgação das seleções que estarão em Cuiabá e o início dos jogos. Se esse é um tempo mínimo no que diz respeito à capacitação da mão de obra que estará ligada diretamente ao receptivo, como idiomas, usos e costumes dos que chegarão, na tentativa de fazer-lhes sentirem-se o mais à vontade possível, temos quatro anos para preparar a sociedade na conscientização do que isso vai representar na mudança de nossas vidas, isso porque, já em 2013, com a Copa das Confederações, quase tudo já deverá estar em condições de uso.

Só a Secretaria de Educação do estado tem, na grande Cuiabá, 140 escolas. Já imaginaram o que isso pode transformar a consciência da sociedade se pais, alunos e professores envolverem-se de corpo e alma num projeto dessa envergadura? Some-se a isso a rede municipal cuiabana.

E nós que falamos tanto das maravilhas do Pantanal? Que Pantanal é esse que não tem estrutura para receber aqueles que quererão conhecê-lo. Nossas pousadas são poucas e pouco oferecem em termos de infraestrutura turística, apesar do esforço heróico dos seus proprietários. Quantos são os leitos oferecidos? Trezentos, quatrocentos? Acho que nem chega a isso. Qual tem sido o apoio do poder público ao turismo? Quase nenhum. A grande maioria dos municípios não tem sequer qualquer rubrica orçamentária destinada ao turismo.

E a Rodovia Transpantaneira? Vai ser devidamente estruturada para o volume de turistas que por ali quererão passar?

Que Pantanal é esse onde não há um projeto razoável de consciência ambiental, onde a pesca predatória acaba com ele a cada dia? Além dos pescadores profissionais, os maiores predadores, os turistas que vêm fora da piracema carregam o que podem de pescado, fazendo que a cada dia diminua o interesse da pesca naquele local, pela diminuição dos espécimes a cada temporada.

E o trade turístico? Qual é a movimentação que já começou a fazer? O que, em termos práticos, já planejou para incrementar a infraestrutura turística do estado? O que se está pensando pra mostrar ao mundo as maravilhas de Chapada dos Guimarães, Nobres e Amazônia mato-grossense?

Imaginemos que Cuiabá recebesse como sede um país nórdico e o Japão.
Holandeses, por exemplo, e japoneses invadiriam, literalmente Cuiabá e Mato Grosso. Alguém é capaz de imaginar o fluxo de gente que viria. Mato Grosso seria, de verdade, colocado no mapa do turismo mundial, assim como acontecesse hoje com a Espanha, França e outros países. O turismo brasileiro, que representa apenas meio por cento do destino turístico mundial, com a Copa do Mundo seria alavancado de forma exuberante. E não apenas Rio, São Paulo e o Nordeste, seriam invadidos por gente que vem pra conhecer, visitar, dormir, comer e comprar, mudando radicalmente e economia e a geração de empregos.

Eu tenho a mais absoluta convicção de que os poucos dias de duração da Copa do Mundo de 2014 na sub sede de Cuiabá transformarão a cidade e o estado. Acredito, sim, que cada pai, cada mãe de família, cada estudante, enfim, cada cidadão mato-grossense guardará na lembrança que carregará pela vida afora um sentimento profundo de ter feito a história acontecer e contribuído pessoalmente para melhorar o futuro das próximas gerações. Será o grande tempero da vida. A conquista do sabor inimaginável.

*Ricarte de Freitas é advogado e ex-parlamentar estadual e federal por Mato Grosso. ricartef@gmail.com
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