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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Veja o que está em jogo no debate da Anvisa sobre inibidores de apetite

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) debate na tarde desta quarta-feira (31) se quatro remédios para inibir o apetite - entre eles a sibutramina - deixarão de ser vendidos no Brasil. O uso dos medicamentos é defendido por médicos especializados no tratamento de obesidade, associações e sociedades médicas do setor.


Os inibidores de apetite atuam no cérebro dos pacientes. Lá existe um região conhecida como hipotálamo, que regula a sensação de fome e de saciedade. A Anvisa divulgou uma nota técnica em fevereiro na qual recomendava evitar o uso dos remédios (além da sibutramina, a anfepramona, o femproporex e o mazindol), já que poderiam provocar efeitos colaterais como problemas cardíacos.

Desde 2010, a agência já havia definido novas regras - mais rígidas - para o uso e venda da sibutramina, a mais moderna das medicações debatidas nesta quarta-feira. No começo de 2011, o diretor Dirceu Brabano anunciou a proposta de vetar os emagrecedores, dizendo que os benefícios não superariam os riscos.

Para Rosana Radominski, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da
Síndrome Metabólica (Abeso), defende que o controle já existente para a sibutramina já é suficiente para restringir o abuso do remédio.

"De acordo com levantamento feito pela própria Anvisa, a inclusão da sibutramina na lista de medicamentos D2, com receituários especiais, já atestou a redução no uso", disse a médica. "Cada médico só pode receber até 500 receitas a cada três meses, a Anvisa tem controle de quais profissionais prescrevem ou não."

Caso a Anvisa decida pela proibição dos medicamentos, a única opção restante para combate à obesidade será o orlistate, medicação de alto custo que atua diretamente no intestino e reduz em até 30% a absorção de gordura. "O preço desse medicamento é de R$ 300,00", diz Rosana.

"Scout"
A venda de remédios para emagracer com sibutramina foi proibida pela agência reguladora de remédios na Europa no início de 2010. A entidade alegou, na época, que trabalhos científicos apontavam o aumento do risco de problemas cardiovasculares em pacientes que usaram a sibutramina.

Ricardo Meirelles, membro e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocronologia e Metabologia (SBEM), acredita que a interpretação da agência europeia foi equivocada.

"Um trabalho publicado lá mostrou que a droga traz problemas cardiovasculares, mas a imensa maioria dos participantes do estudo já tinha alguma doença cardiovascular prévia", diz o endocrinologista. "Nós achamos que a agência europeia extrapolou esses resultados que dizem respeito a um tipo específico de pessoa para toda uma população."

Já para Francisco Paumgartten, professor da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e membro da Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme) - órgão que presta consultoria à Anvisa -, o estudo é válido e não há evidências científicas para defender que o uso da sibutramina continue.

"Os médicos favoráveis à permanência desses medicamentos dizem as pequenas perdas de peso já são benéficas ao paciente. Sim, isso é verdade. Mas os estudos comprovam esse efeito somente para pessoas que fazem dieta e mantém uma agenda de exercícios", afirma o médico.

Conhecido como "Scout", o estudo que levou a agência reguladora europeia a banir o medicamento contou com 9 mil pacientes obesos, monitorados durante 5 anos - parte deles recebeu sibutramina e outra parte tomou uma medicação sem efeito (placebo). Todos os integrantes da pesquisa passaram por dieta e praticavam exercícios físicos.

No caso dos Estados Unidos, a agência reguladora de alimentos (FDA, na sigla em inglês) também recomendou o fim do uso do medicamento. Com isso, a Abbott, empresa responsável pela venda da sibutramina, retirou o produto do mercado. Canadá e Austrália também são países onde o comércio da droga é vetado. "O Brasil é o maior mercado que restou para esse medicamento", diz Paumgartten.

Duas propostas
Segundo Paumgartten, duas propostas estão em jogo na mesa da Anvisa nesta tarde. Uma, recomendada pela Cateme, que prezaria pela proibição das quatro medicações. Outra, com o apoio de médicos do setor e farmácias de manipulação, que defenderia a permanência da sibutramina. "Eles acham que com a saída dos medicamentos do mercado, seus consultórios vão esvaziar. Encaram a proibição como uma ameaça."

O médico ainda destaca a possibilidade da criação de um termo de responsabilidade a ser assinado pelo paciente quando utilizar a sibutramina. "Se a Anvisa aprovar isso, seria algo contrário à ética. Espero que essa proposta não vá adiante", diz o professor.

Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da Anvisa disse que o órgão só irá se pronunciar após a reunião desta tarde. Até lá, o único consenso entre todos os médicos consultados é que o combate à obesidade é eficiente quando o tratamento é baseado em dieta e exercícios.
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