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Domingo, 21 de julho de 2024

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'Casa' durante tratamento torna-se trabalho de jovem após leucemia

Foto: (Foto: Tatiane Queiroz/ G1 MS)

A recepcionista aproveita os intervalos do trabalho para brincar com as crianças em tratamento contra câncer

A recepcionista aproveita os intervalos do trabalho para brincar com as crianças em tratamento contra câncer

A jovem Aline Santa Cruz, de 22 anos, não imaginava trabalhar na mesma instituição que a ajudou na luta contra uma grave doença na infância. Neste ano, ela se mudou para Campo Grande e foi contratada como recepcionista na Associação dos Amigos da Criança com Câncer (AACC-MS), onde morou por dois anos e meio para se tratar de uma leucemia. “Estava procurando emprego e estou feliz por ter encontrado aqui. Afinal, essa foi a minha casa também”, comemora.


Quem visita a associação e se depara com a jovem de sorriso contagiante e longos cabelos escuros não imagina o drama que ela enfrentou. “Foi uma fase bem difícil, mas procuro me lembrar somente dos momentos bons. Acho que apaguei as lembranças ruins da minha memória”, diz ela.

Aline descobriu que estava com leucemia aos 12 anos. Na época, ela morava com a mãe e com outros cinco irmãos em Ponta Porã, a 346 km de Campo Grande.“Eu comecei a sentir dores no joelho. No início, os médicos suspeitaram que eu estivesse com uma fratura, mas depois viram que era mais grave. Passei por diversos exames até que eles detectaram que eu estava com câncer”, contou.

Quando ela iniciou as sessões de quimioterapia, foi morar na AACC-MS com a mãe. “Meus irmãos ficaram em Ponta Porã. Não tínhamos condições financeiras para trazer toda a família“, lembrou ela.

Durante o tratamento, que foi feito no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, a jovem ficou internada diversas vezes. Aline afirmou que, apesar de tudo, nunca se deixou abalar pela doença. “Me lembro bem de quando o meu cabelo começou a cair. Um dia fui tomar banho e arranquei ele todo com a mão. Quando saí do banheiro, mostrei para minha mãe e ela começou a chorar. Percebi que ela sofria mais do que eu com aquela situação”, contou a jovem.

A coordenadora do voluntariado da AACC-MS, Alexandra Andreoli de Almeida, de 40 anos, acompanhou toda a trajetória da menina na instituição. "Ela era uma criança muito alegre e cheia de esperanças e a mãe dela era um exemplo de força. Acredito que isso contribuiu muito para que elas enfrentassem a doença", relata.

Alexandra afirma ainda que ver Aline de volta à associação, agora como funcionária, alegrou todo mundo. "Vê-la hoje, adulta, curada e feliz é uma satisfação para nós e, mais do que isso, é uma vitória", diz..

Superação
Para Aline, uma das coisas mais difíceis do tratamento foi ter de deixar a escola. “Passei a ter aulas na associação e quando ficava internada frequentava as aulas que os professores davam no hospital. Não queria repetir de ano”.

A paixão pela sala de aula continuou e por isso ela decidiu seguir a carreira de professora. Atualmente cursa o último ano de Letras na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e já pensa nas realizações do futuro.

“Não quero me afastar da associação. Posso até deixar de ser secretária, mas penso em dar aulas para as crianças que estão em tratamento contra o câncer depois que eu me formar. Sei o quanto foi importante para mim continuar estudando, mesmo doente, e quero fazer isso por elas também”, afirma a jovem.

Família
A mãe de Aline e os outros irmãos continuam morando em Ponta Porã. Ela conta que sente saudades e, sempre que pode, vai visitar a família. "Eles são muito importantes na minha vida e fajudaram muito na minha cura", contou.

Ela lembra que, durante o tratamento, a mãe deixou a cidade natal e se mudou para Campo Grande para morar na AACC-MS. "Ela deixou tudo para ficar do meu lado. Meus irmãos mais novos foram morar com os mais velhos e cada um na família se virou como pôde, uns cuidando dos outros. O apoio deles foi fundamental", enfatizou a menina.

Esperança
Aline trabalha nos períodos matutino e vespertino e aproveita os horários de intervalo para brincar com as crianças que estão em tratamento contra o câncer. Ela acredita que, para superar a doença, é preciso pensar e fazer coisas boas e divertidas.

Quando ela chega à sala de jogos da instituição, as crianças já se animam. Aline conta histórias, joga, canta, pula e brinca de boneca, de casinha e de carrinho. “Sempre que vejo uma criança um pouco triste, evito conversar sobre a doença e procuro falar de outros assuntos, lembrar dos dias de alegria e brincar bastante", diz.

Para alegrar os pequenos pacientes, a secretária também passa mensagens de esperança e conta a sua história de superação. "Sabem, eu também morei aqui nesta casa para me tratar, igual a vocês. Hoje eu estou curada e, se eu consegui, vocês vão conseguir também", diz ela às crianças.

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