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Sábado, 20 de julho de 2024

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Fiocruz e hospital de SP compram máquina que mapeia DNA em horas

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o hospital paulista A.C. Camargo, especializado no tratamento de câncer, compraram um novo aparelho para sequenciar o genoma humano em poucas horas. Os equipamentos, chamados Ion Proton...

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o hospital paulista A.C. Camargo, especializado no tratamento de câncer, compraram um novo aparelho para sequenciar o genoma humano em poucas horas. Os equipamentos, chamados Ion Proton, vêm junto com um processador e devem chegar ao Brasil em setembro e ser usados em pesquisas. Cada kit custou cerca de R$ 500 mil.


A unidade da Fiocruz no Paraná vai focar em testes para diagnosticar doenças infecto-contagiosas que têm sintomas muito parecidos, como dengue, hepatite A, leptospirose, malária, febre amarela, mal de Chagas e infecções por bactérias ou vírus, como o caso de uma simples gripe.

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"Todas essas condições dão febre e dor de cabeça. Vamos avaliar se podemos usar essas ferramentas para aumentar a precisão da identificação de patógenos que hoje são de difícil resolução e, assim, acelerar o tratamento”, explicou o biólogo e pesquisador Marco Aurélio Krieger, do Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz, em Curitiba.

Krieger acredita que, em três ou quatro anos, a máquina já possa ser usada em laboratórios de referência, pois a evolução da área tem sido muito rápida, tanto no preço dos produtos quanto na velocidade dos resultados.

O próximo passo da Fiocruz é firmar uma nova parceria com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, com quem já são feitos estudos sobre malária na África, para mapeamento de DNA aqui no Brasil.

Pesquisas de câncer
No Hospital A.C. Camargo, o novo aparelho de sequenciamento de genoma vai ajudar a melhorar os testes moleculares no banco de tumores do local, que reúne mais de 20 mil amostras de pacientes operados e acompanhados por até 20 anos. Os cientistas querem encontrar marcadores genéticos de resposta ou resistência a medicamentos contra o câncer e também marcadores de predisposição para a doença.

Desde o ano 2000, os pesquisadores já trabalham com DNA: começaram mapeando uma bactéria chamada Xylella fastidiosa, que costuma atingir pés de laranja e outras frutas cítricas – foi o primeiro sequenciamento de uma bactéria em todo o Hemisfério Sul –, e depois passaram para trabalhos específicos sobre câncer.

Foram analisados os genes de tumores prevalentes no Brasil, como mama, colo do útero, próstata, colorretal, pulmão, estômago, e cabeça e pescoço.

Em 2000, precisávamos de 30 laboratórios trabalhando durante dois anos para sequenciar três milhões de bases (cada base é uma letra do DNA). Em 2012, com essa nova máquina, será preciso apenas um laboratório durante duas horas para mapear três bilhões de bases. O projeto da Xylella, que custou R$ 20 mil, hoje sai por R$ 2 mil”, compara o biólogo e pesquisador do A.C.Camargo, Emmanuel Dias-Neto.

O pesquisador diz que, na época do Projeto Genoma Humano, que terminou de sequenciar o DNA em 2003, havia um monte de letras juntas, mas não se sabia onde estavam os genes.

“É como um jogo de caça-palavras: há um monte de letras sem sentido, e as palavras ficam escondidas ali dentro. Primeiro precisamos saber o que estamos procurando, depois entender que as palavras não ficam juntas, mas são separadas em sílabas, e por fim que ainda há palavras desconhecidas para nós”, destaca. Se o nosso genoma inteiro fosse impresso em um papel do tamanho de uma Bíblia, daria a altura de um prédio de 50 andares.
Popularização do genoma

Dias-Neto diz que a meta do Hospital A.C. Camargo é descobrir informações genéticas que tenham uso imediato para os pacientes. Em casos de câncer de mama, por exemplo, serão estudados os cerca de 10% que têm um alto componente hereditário. “Em cinco anos, podemos ter um cenário muito diferente do atual. Alguns lugares nos EUA já oferecem sequenciamento de genoma à população. Mas máquinas como essa que compramos agora só tem quatro em testes por lá. Além disso, há um lote de 22 equipamentos que vão para vários lugares, como Japão, China e Europa”, afirma.

O pesquisador diz que, levando em conta importações e impostos, hoje esse preço ficaria em torno de R$ 6 mil às pessoas comuns. A análise é feita por saliva (raspagem da mucosa da boca) ou sangue.

“A partir do momento em que isso virar serviço, o custo vai subir. E a questão maior é a interpretação dos dados. Se for fazer um sequenciamento para chegar à conclusão de que a pessoa precisa fazer atividade física e comer menos gordura para viver melhor, aí não faz sentido”, destaca Dias-Neto.

Saber ou não saber – eis a questão
O pesquisador do A.C. Camargo acredita que é preferível conhecer o que está por trás do seu próprio genoma e ter uma certeza do que viver em dúvida.

“Se todo mundo na minha família tem determinado câncer, eu já tenho essa preocupação. Será possível dar um grau de certeza elevado para a mulher e indicar que ela faça mamografia com mais frequência, por exemplo. É bom ter a tecnologia e saber usá-la, de forma privada e confidencial”, diz Dias-Neto.

Ele ressalta que, além do câncer, é possível observar a predisposição para doenças degenerativas, como Alzheimer e esclerose múltipla, e também a resposta a determinadas drogas, como o lítio.

“São doenças diferentes, com complexidades distintas. Algumas pessoas dizem que querem saber se têm risco para poderem se programar, não ficarem apenas acumulando dinheiro e poderem usufruir disso mais cedo, transferir os bens. Mas hoje ainda não temos informações consolidadas a esse ponto”, apontou.

Na opinião da bióloga molecular e geneticista Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos de Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), que também faz pesquisas com células-tronco, é preciso ter bem claro por que uma pessoa quer fazer o sequenciamento e o que pretende saber ou fazer com isso.

“Isso pode virar uma brincadeira, e essa brincadeira se tornar uma grande angústia, um grande problema. Há muitas questões éticas envolvidas”, acredita.

Mayana explica que há genes de risco, como câncer e Alzheimer, mas há também aqueles que indicam formas hereditárias de doenças, com quase 100% de certeza de que a pessoa vai ficar doente no futuro.

“Por essa razão, não se testam crianças sobre doenças de início tardio para as quais não há tratamento”, destaca. A geneticista diz que, no caso de saber precocemente sobre um alto risco de Alzheimer, por exemplo, a pessoa pode ficar paranoica e achar que cada lapso de memória normal no dia a dia já é um sintoma do problema.

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