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Sábado, 20 de julho de 2024

Notícias | Ciência & Saúde

Cientistas pedem dados de estudo que liga transgênicos a câncer

Uma pesquisa publicada na semana passada, que ligou o consumo de milho transgênico ao surgimento de tumores em cobaias, está sendo motivo de debates no meio científico.


Um grupo de cientistas criou um abaixo-assinado para pedir aos autores que divulguem os dados completos do estudo, para que a argumentação se torne mais clara para todos. No início da tarde desta quarta (26), já havia mais de 350 assinaturas.

Os cientistas dizem que o trabalho liderado por Gilles-Eric Seralini, professor da Universidade de Caen, na França, publicado pela revista “Food and Chemical Toxicology”, omite dados que comprometem a compreensão da pesquisa.

Alimentos transgênicos são aqueles modificados em seu material genético, com o objetivo de alterar suas características naturais, aumentando sua produtividade.

Os críticos questionam a metodologia usada pela equipe de Seralini. No estudo, diferentes grupos de camundongos consumiram três tipos de milho: um transgênico, sem herbicida; um transgênico tratado com Roundup – um herbicida bastante comum –; e um milho não transgênico tratado com Roundup.

No entanto, segundo os que questionam o trabalho, os roedores receberam diferentes quantidades do alimento. Além disso, haveria também diferenças entre o restante da alimentação dos animais – o que eles comeram, além de milho.

“Qualquer conclusão que se tirar desse estudo não é válida”, afirmou a bióloga Lúcia de Souza, da Iniciativa de Pesquisa e Regulação Pública, que trabalha na Suíça, numa entrevista coletiva por telefone organizada pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), uma organização brasileira que tem o objetivo de divulgar informações "sobre a biotecnologia e seus benefícios".

“É um artigo alarmista e, na minha opinião, pouco fundamentado”, concordou Eduardo Romano, que trabalha com pesquisas de transgênicos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, na mesma entrevista coletiva do CIB.

Já na última semana, no dia seguinte à divulgação do seu trabalho, o autor Gilles-Eric Seralini havia reagido às críticas. "Este estudo foi avaliado pela melhor revista mundial de toxicologia alímenticia, que levou muito mais tempo do que as pessoas que reagiram num prazo de 24 horas, sem ler o estudo", disse ele à agência Reuters na última quinta-feira.

"Estou esperando por críticas de cientistas que já publicaram material em revistas ... sobre os efeitos dos organismos geneticamente modificados e pesticidas na saúde, a fim de debater de forma justa com colegas que são verdadeiros cientistas, e não lobistas".

A Comissão Europeia pediu à Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, a Aesa, que verifique os resultados do estudo francês e relate suas descobertas.

"O Mandato da Aesa é verificar o que este grupo de cientistas apresentou, para observar as suas condições de pesquisa, ver como os animais foram tratados", disse o porta-voz para a saúde da Comissão, Frederic Vincent.

Fabricante
A Monsanto, fabricante do herbicida e do milho transgênico, por sua vez, publicou nota afimando que o "estudo não atende as normas mínimas aceitáveis para esse tipo de pesquisa científica, as descobertas não são fundamentadas pelos dados apresentados e as conclusões não são relevantes para efeitos de avaliação de segurança".

Segundo a empresa, não há informações essenciais sobre a forma como a pesquisa foi conduzida, e os dados apresentados não suportam as interpretações do autor. "O protocolo de pesquisa não atende às normas da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)" alega a companhia, destacando ainda que "a fonte e a qualidade do milho utilizado não ficam claras".

Outro problema apontado é que "as taxas de mortalidade e incidência de tumores em todos os grupos se encaixam nas normas históricas para esse tipo de ratos de laboratório, que é conhecido por sua alta incidência de tumores".

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