Uma pesquisa realizada pelo Instituto Butantan que revela uma substância na saliva do carrapato (Amblyomma cajennense) capaz de reduzir tumores cancerígenos, principalmente melanomas, deve entrar em fase de testes pré-clínicos nas próximas semanas. A etapa será realizada em animais e deve comprovar a eficácia da proteína conforme as regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Patrocinada inicialmente pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesquisa, iniciada em 2003, hoje é patenteada pela empresa brasileira União Química Indústria Farmacêutica.
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Segundo Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, farmacêutica e coordenadora da pesquisa, os primeiros resultados dessa fase devem aparecer em um ano. "Depois dessa etapa de testes, a próxima fase do estudo será realizada em humanos", afirma.
Inicialmente, os pesquisadores buscavam encontrar capacidade anticoagulante na saliva do carrapato, mas perceberam que a proteína também agia diretamente nas células. O experimento foi então estendido a camundongos que tiveram melanomas (câncer de pele) induzidos, e o resultado surpreendeu os pesquisadores. "A saliva do carrapato possui substancias tóxicas para células tumorais, sem oferecer risco para as células saudáveis", explica Ana Marisa.
O estudo já foi registrado no Instituto de Propriedade Industrial (INPI) devido ao grande potencial terapêutico da molécula. A pesquisa também está protegida pelo Patent Cooperation Teaty (PCT), e a expectativa é de que o medicamento seja totalmente produzido no Brasil.
"Quando você anuncia uma molécula com essa natureza, as pessoas que estão precisando ficam com uma expectativa muito grande, mas é preciso entender que, obrigatoriamente, ela tem que passar por todas essas fases de teste", completa a pesquisadora.