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Sexta-feira, 19 de julho de 2024

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Cocaína pode levar a comportamento paranoico e aumenta risco de infarto

A confirmação de que a causa da morte do cantor Alexandre Magno Abrão, conhecido como Chorão, foi uma overdose de cocaína ilustra bem os efeitos que a droga pode causar no corpo humano.


A cocaína é uma droga estimulante que tem efeito não só sobre o cérebro, mas também sobre funções vitais do corpo, como a circulação e a respiração. “No cérebro ela atua no núcleo do prazer. Vai dar o efeito agradável, de euforia, de bem estar. No coração ela costuma causar arritmia”, diz Ronaldo Laranjeira, professor titular de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A arritmia cardíaca aumenta o risco de problemas coronarianos, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC). “[A cocaína gera] muita adrenalina, gera aumento da pressão, aumento da frequência cardíaca e respiratória, sobrecarga cardíaca e, com isso, tem menos sangue chegando no coração e no cérebro”, explica o psiquiatra Thiago Fidalgo, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), também da Unifesp.

Segundo Fidalgo, no caso específico de Chorão, que morreu aos 42 anos, a hipótese mais plausível é a de infarto. “Se tivesse mais de 50 anos, provavelmente seria um AVC isquêmico”, acrescenta o psiquiatra.

Segundo a o delegado Itagiba Vieira, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil de São Paulo, o cantor já apresentava problemas cardiovasculares, como o coração dilatado, e o resultado final do laudo toxicológico pode indicar o consumo de álcool junto com a droga.

A combinação de cocaína com bebidas é um fator de risco a mais para quem consome, segundo o professor Ronaldo Laranjeira. “Quando a molécula de cocaína se junta com a do álcool, forma uma terceira, chamada cocaetileno”, afirma. A substância é mais tóxica do que a cocaína isolada, potencializando as chances de infarto ou AVC.

O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, professor livre-docente da Unifesp, alerta para o risco da mistura entre drogas com remédios para a pressão e de combate à depressão. “Algumas medicações tornam o uso de cocaína letal, mesmo em doses pequenas”, disse. “Alguns antidepressivos, por exemplo, podem causar morte súbita.”

Antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina e imipramina, e betabloqueadores usados para tratar hipertensão intensificam os efeitos da cocaína, aumentando a pressão e causando arritmia. Assim como no consumo da droga com bebida, essa mistura pode levar a um derrame ou, mais comumente, a um infarto letal.

Cérebro
O vício em cocaína também compromete o cérebro, o que, segundo o delegado Itagiba, aconteceu no caso de Chorão. Depoimentos de parentes e amigos indicam ainda que ele demonstrava comportamento paranoico e agressivo, outro efeito comum do entorpecente.

É o que os psiquiatras chamam de psicose por droga. O estado mental anormal ocorre quando o usuário consome o entorpecente por muito tempo e, depois, apresenta delírios e alucinações.


“A cocaína dá muita paranoia. A pessoa acha que está sendo perseguida, que vão fazer algum mal a ela, que vão pegá-la”, disse o psiquiatra Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

No caso de Chorão, os policiais encontraram o corpo do cantor caído em meio a garrafas, lixo, móveis e eletrodomésticos quebrados, o que pode indicar um surto psicótico causado pela cocaína. Segundo a psiquiatra Camila Magalhães Silveira, coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), a descrição do apartamento “é sugestiva de uso pesado, de uma pessoa que está com o comportamento inadequado por conta do uso”.

Os policiais também encontraram um pó branco e medicamentos, entre eles o Lexotan, nome comercial do bromazepam, um calmante. “O calmante geralmente é usado por quem está fazendo o uso pesado da droga para induzir a sonolência”, disse a psiquiatra. “Eles tentam baixar o estado de excitabilidade com o calmante.”

Segundo a especialista, esse medicamento geralmente é adquirido sem receita. “Até porque o médico evita prescrever calmante benzodiazepínico [como o Lexotan] para quem é dependente, quem faz uso de drogas, pelo potencial de dependência que essa substância pode causar.”

Família
Os depoimentos da ex-mulher do vocalista e dos integrantes do Charlie Brown Jr. confirmaram que o cantor fazia uso de entorpecentes. Ao DHPP, a estilista Graziela Gonçalves havia dito que "perdeu" o cantor "para as drogas". Ela chegou a dizer a jornalistas que tinha se separado de Chorão porque ele estava viciado em cocaína.

“Eu tentei tudo que vocês podem imaginar, mas infelizmente essa praga mundial que é essa droga, que está acabando com tudo, ganhou. Eu espero que outras famílias e outras pessoas não passem por isso que eu estou passando, eu os familiares todos, o filho dele, a mãe, os irmãos os amigos”, disse Graziela.

A apresentadora Sônia Abrão, prima do cantor, disse durante o funeral que o vocalista reclamava da solidão. “Na última conversa que tivemos ele disse: ‘O que me derruba é que a gente nasceu sozinho e morre sozinho’. E ele morreu sozinho”, afirmou Sônia.

“Faz um tempo que ele estava num processo de depressão muito profunda mesmo. Com o fim do casamento, as coisas pioraram muito para ele”, disse a apresentadora. Chorão se divorciou em novembro, após um casamento de 15 anos.

A morte
O laudo necroscópico da Polícia Técnico-Científica de São Paulo apontou que o corpo do artista apresentava 4,714 microgramas de cocaína por mililitro de sangue. O vocalista da banda Charlie Brown Jr.x foi encontrado morto em 6 de março no seu apartamento em Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista.

O documento considera resultados do exame toxicológico número 5054/2013 do Instituto Médico-Legal (IML) feito no corpo do vocalista. Segundo os peritos, foi possível concluir, a partir dos testes, que a causa da morte foi "intoxicação exógena devido à cocainemia".

O cantor e letrista, que faria 43 anos em 9 de abril, liderava a banda fundada por ele na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, em 1992. Em 15 anos de carreira, o Charlie Brown Jr lançou nove álbuns de estúdio, dois discos ao vivo, duas coletâneas e seis DVDs. Ao todo, o grupo vendeu 5 milhões de cópias.

Além de vocalista, Chorão era responsável pelas letras do Charlie Brown Jr. e pelo direcionamento artístico e executivo da banda. Em 2005, o trabalho "Tâmo aí na atividade” foi premiado com o Grammy Latino de melhor álbum de rock brasileiro, o que se repetiu em 2010 com "Camisa 10 joga bola até na chuva".

No ano passado, o Charlie Brown Jr. lançou "Música Popular Caiçara", álbum ao vivo que marcou o retorno dos integrantes Marcão e Champignon à banda. Eles haviam deixado o grupo em 2005. As apresentações aconteceram em Curitiba e Santos. A produção do trabalho foi feita por Liminha e os shows tiveram participação de Falcão (O Rappa), Zeca Baleiro e Marcelo Nova. Das 15 faixas do CD, a única gravada em estúdio é "Céu azul".

O vocalista foi também roteirista do filme "O magnata" (2007), do diretor Johnny Araújo, e do longa “O cobrador”, ainda em andamento. Como empresário, administrou marcas de skate, como a DO.CE, fundada por ele em 2009, e viabilizou a realização de grandes eventos de skate no Brasil, além de manter o espaço Chorão Skate Park, em Santos, desde 2006.

A estreia do Charlie Brown Jr aconteceu em 1997 com o lançamento do álbum "Transpiração contínua prolongada". O trabalhou conseguiu o certificado de disco de platina ao vender mais de 250 mil cópias e tem como singles os sucessos "O coro vai comê", "Proibida pra mim", "Tudo que ela gosta de escutar", "Quinta-feira" e "Gimme o anel".

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