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Sexta-feira, 19 de julho de 2024

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Analistas dizem que crise em Fukushima está longe da solução

Os esforços do Japão em solucionar os problemas da crise nuclear em Fukushima serão acompanhados pelo mundo antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, afirmam observadores, mas apesar das promessas do governo de que a situação na usina está "sob controle", eles afirmam que os problemas não estarão resolvidos em 2020.


Discursando para autoridades olímpicas em Buenos Aires, antes da decisão do fim de semana para que a capital japonesa sedie os Jogos, o primeiro-ministro Shinzo Abe disse que não há nada com o que se preocupar sobre a instalação.

"Deixe-me assegurá-los, a situação está sob controle", afirmou em um discurso alardeado pela imprensa japonesa como fundamental para o sucesso de Tóquio.

Fukushima "nunca causou e nunca causará danos a Tóquio", acrescentou.

"A água contaminada tem sido contida em uma área de 0,3 km quadrado do porto", acrescentou o primeiro-ministro japonês em uma sessão de perguntas e respostas.

"Não tem havido problemas de saúde e nem haverá. Eu assumirei a responsabilidade por todos os programas relacionados com a usina e os vazamentos", emendou.

Mas para críticos dentro e fora do Japão, os comentários de Abe sobre a catástrofe em Fukushima, onde um tsunami inundou os sistemas de resfriamento e fez os reatores se fundirem, beiram a desonestidade.

"Fiquei pasmo com o discurso de Abe", disse Hiroaki Koide, professor adjunto do Instituto de Pesquisas de Reatores da Universidade de Kyoto.

"O problema da água contaminada está longe da solução. Este problema tem acontecido todo o tempo desde que os reatores foram destruídos. Água contaminada tem vazado para o oceano desde então", acrescentou.

Na noite de segunda-feira, a operadora da usina Tokyo Electric Power (TEPCO) indicou níveis elevados de radioatividade na água subterrânea e disse que "provavelmente" estaria vazando de tanques que armazenam água altamente poluída e alcançando a água subterrânea, complicando ainda mais os esforços para conter a poluição.

A água subterrânea corre para o oceano, levando junto qualquer coisa que tenha arrastado pelo caminho.

Tomoo Watanabe, diretor do Centro de Pesquisas de Oceanografia Pesqueira e Ecossistemas Marinhos, disse que em seu entendimento, a situação em Fukushima não está "controlada" da forma como Abe explicou.

Mas ele disse concordar com o premier quando este afirmou ser necessário deixar para trás as manchetes alarmantes para ver a verdade.

"Pode-se ter uma impressão decisiva de que o oceano está muito mais contaminado depois que a TEPCO admitiu o vazamento de água (radioativa), mas não vimos quaisquer sinais de que a poluição esteja se espalhando para os peixes", afirmou à AFP.

Cerca de 300 toneladas de água subterrânea levemente contaminada estão chegando ao oceano todo dia, diz a TEPCO, após passar sob os reatores.

Watanabe afirmou que os peixes pescados ao longo da costa, fora do porto, têm apresentado um nível gradualmente decrescente de contaminação por césio, especialmente a 20 km da usina.

Mas, acrescentou, a poluição dentro do porto está alta e não se deveria permitir que os peixes que vivem ali escapassem para o oceano, onde entrariam na cadeia alimentar.

Depois de semanas de más notícias vindas de Fukushima e em meio a uma onda crescente de críticas internacionais, o governo japonês apresentou na semana passada um plano de meio bilhão de dólares com vistas a conter o fluxo de água poluída que chega ao mar.

Os críticos afirmam que até agora, grande parte do trabalho feito em Fukushima para estabilizar a usina é temporário, pois os tanques que armazenam a água altamente radioativa usada para resfriar os reatores superaquecidos nunca foram concebidos como uma solução permanente.

As próprias estimativas da TEPCO sugerem que o desmonte total pode levar quatro décadas e que grande parte do trabalho mais complicado ainda precisa ser feito, principalmente a remoção dos núcleos dos reatores, que provavelmente se fundiram e estariam irreconhecíveis.

Segundo o próprio plano da usina, estes núcleos - que, segundo se teme, teriam vazado dos vasos de contenção e, provavelmente, corroído as espessas paredes de concreto - serão removidos no verão de 2020, quando milhares de atletas estarão chegando em Tóquio.

Hiroshi Miyano, especialista em usinas nucleares e professor visitante da Universidade de Hosei, em Tóquio, disse que apesar das comemorações em Buenos Aires, a operação de limpeza ainda é difícil.

"O êxito olímpico pode dar um incentivo positivo e acelerar os planos, mas temo que ainda leve duas décadas, na melhor das hipóteses, para desmontar Fukushima", acrescentou.

Em um editorial publicado esta terça-feira, o jornal Asahi Shimbun, de orientação de esquerda, indicou que o fato de Shinzo Abe se apresentar em um cenário internacional e prometer resolver a crise de Fukushima foi uma medida bem-vinda.

"Este é um compromisso oficial feito para o mundo", afirmou.

"Abe precisa agir para não ser visto em casa e no exterior por ter apenas manipulado a verdade para trazer os Jogos Olímpicos para Tóquio. Sua habilidade em lidar com a questão agora está sendo observada", acrescentou.
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