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Quarta-feira, 17 de julho de 2024

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Registro de meteoro com tamanho de limão surpreende astrônomo: 'É raro'

Foto: (Foto: Reprodução/ EPTV)

Câmera do observatório flagrou passagem de meteoro por Campinas, na segunda

Câmera do observatório flagrou passagem de meteoro por Campinas, na segunda

"O que é isso?". Foi em tom de surpresa que o astrônomo Julio Lobo, de 54 anos, recebeu as imagens do meteoro registrado há dois dias por uma câmera do Observatório Municipal Jean Nicolini, em Campinas (SP). O especialista compara o flagrante a um prêmio de loteria, ao ponderar sobre a combinação entre o posicionamento da máquina, horário em que ocorreu o fenômeno, dimensão do objeto que ultrapassou a atmosfera e também a visibilidade do céu.


"Eu estava de folga na segunda-feira [1º]. A câmera liga automaticamente às 18h10, mas até 21h ela costuma registrar as passagens de muitos aviões. Quando olhei, havia 50 registros, incluindo o bólido. Falei um palavrão no bom português ao reparar", lembra aos risos. Segundo o astrônomo, o meteoro apresentava tamanho semelhante ao de um limão quando cruzou a atmosfera, por volta das 19h, e acredita que haja ferro na composição do material. Ele explica que a maioria dos meteoros registrados tem dimensão inferior a um grão de arroz.

"Houve relatos de que, durante a passagem, ele apresentou coloração laranja no início e terminou com um tom verde, azulado. A gente sempre espera que vá acontecer, como ganhar na Mega Sena, mas não estava previsto este registro. É raro, foi uma felicidade", avalia Lobo. De acordo com o especialista, a queda durou 4,6 segundos e foi observada por moradores nos estados de São Paulo e Minas Gerais. "Recebemos 20 relatos da capital, Sorocaba, Itu, Monte Alegre do Sul, Mogi das Cruzes e também Varginha."

A 'bola de fogo' percorreu 113 quilômetros a uma velocidade média de 50 mil km/h. Ela se desintegrou a 33 km de altitude e não apresentou riscos para a população, segundo Lobo. O bólido pode ser descrito como um grande meteoro - fenômeno luminoso observado quando existe a passagem de um meteoroide pela atmosfera. "O meteoro ocorre quando um cometa ou asteroide deixa um rastro de sujeira, chamado de meteoroide. A Terra então atrai essas partículas. Quando vaporiza no céu chamamos de meteoro. Se chegar ao solo, é meteorito", explica o professor. Segundo ele, a câmera do observatório público de Campinas está ligada à rede Bramon, que atualmente registra chuvas de meteoros no Hemisfério Sul.

'Sexto sentido'
Há 37 anos no observatório, o astrônomo conta que observou as passagens de 25 meteoros semelhantes a olho nu. Ao tratar do bólido que cruzou o céu na segunda-feira, avalia que a "felicidade" do registro também deve-se ao posicionamento da câmera, a 330º noroeste, e também à visibilidade do ceú, apesar da estiagem.

"Registrar fotograficamente ou por vídeo é algo um tanto raro e inesperado. A câmera fica fixada lá, por isso ela cobre apenas uma parte específica. O céu estava 'mais ou menos', o registro teria ficado mais nítido se houvesse chuva dias antes", explica.

Ao lembrar o intervalo entre as passagens desta 'bola de fogo' e outro meteoro na cidade, em 23 de agosto - que foi desintegrado a 66 quilômetros de altura - Lobo diz que as pessoas precisam olhar mais para o céu. "Na maioria das vezes a gente não vê, está dormindo ou ocupado com outras atividades. Até o fim de setembro esperamos ter quatro câmeras e de 12 a 15 em seis meses. Certamente iremos observar mais fenômenos e tenho um sexto sentido de que ainda vamos observar outro maior", ressalta. Segundo o astrônomo, algumas publicações da Europa e Estados Unidos também repercutiram o registro feito em Campinas.

Observação no Brasil
De acordo com o pesquisador José Williams Vilas Boas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o bólido pode ser considerado um fenômeno mais raro do que meteoros observados normalmente. A composição, explica, contribui para variar a cor predominante emitida. "A luminosidade depende principalmente da massa e velocidade de entrada."

Segundo Vilas Boas, não é possível calcular quantos fenômenos semelhantes foram registrados este ano, no Brasil, uma vez que não há um sistema de observação que cubra o território nacional. "Somente uma rede de observatórios equipados com câmeras para observação do céu poderiam detectar e estudar esses fenômenos do início ao fim. Essa rede ainda não existe no Brasil, embora estejam em andamento iniciativas dessa natureza."
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