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Terça-feira, 16 de julho de 2024

Notícias | Ciência & Saúde

Referência em Aids, Gaffrée e Guinle não tem dinheiro nem para limpeza

RIO — Fundado em 1928 e referência no tratamento da Aids, o Hospital Gaffrée e Guinle, na Tijuca, passa por uma das maiores crises em seus quase 90 anos de funcionamento. A unidade acumula uma dívida de R$ 16,4 milhões com fornecedores de insumos e 22 empresas terceirizadas de mão de obra. Mas a precariedade, agora, chegou a um ponto-limite. O diretor da unidade, Fernando Ferry, disse, na sexta-feira, que, se não conseguir pagar uma dívida de R$ 1,4 milhão com a Pluri Serviços, responsável pela limpeza do hospital, poderá ficar sem o serviço, o que o obrigará a interromper o atendimento.


O pagamento precisa ser efetuado, de acordo com ele, até o próximo dia 11. Ferry afirma ter recebido um ultimato da empresa para quitar os débitos.




— Tenho que pagar a dívida. Se isso não ocorrer, eles param. Se a empresa parar, não há como substituir. É um trabalho que requer uma especialização. Isso está ocorrendo porque, para garantir o funcionamento do hospital este mês, fui obrigado a deixar de pagar a fornecedores e fazer estoque de material. Essa situação só estará garantida até o final do mês — disse Ferry, acrescentado que já informou o governo federal sobre a gravidade da situação e pediu ajuda ao reitor (o hospital pertence à UniRio). — Pode parar tudo, cirurgias e internações. Sem limpeza, eu não posso fazer nada. Nem cuidar dos pacientes que já estão internados aqui.


Os problemas do Gaffrée e Guinle não param por aí. De acordo com Ferry, o hospital possui uma despesa anual de cerca de R$ 37,7 milhões. Mas, este ano, a unidade só recebeu até agora cerca de R$ 25 milhões, que são insuficientes para pagar a funcionários, fornecedores e investir em infraestrutura. Além disso, o Gaffrée e Guinle precisa pagar uma dívida de quase R$ 2 milhões do ano passado. Atualmente, o déficit total do hospital chega a R$ 16,4 milhões. Ferry já avisou que o agravamento do quadro deverá provocar, em janeiro, o fechamento de mais 60 leitos.

EM DOIS ANOS, 106 LEITOS FECHADOS

A crise se arrasta desde 2013. Ano a ano, o hospital tem fechado leitos. Dos 236 existentes, 106 foram desativados nos últimos dois anos. Hoje, apenas 130 funcionam, e só 100 são, no momento, ocupados por pacientes. Fechando mais 60, o hospital ficará com apenas 70 leitos em funcionamento, muito abaixo de sua capacidade de atendimento. Desde outubro deste ano, novos pacientes com necessidade de internação não são aceitos, e os médicos também deixaram de fazer cirurgias eletivas, aquelas que não são emergenciais. A direção do hospital conta com a liberação de um repasse de R$ 4 milhões, previsto para o dia 15 de dezembro, para amenizar a situação.

— Com esse valor, eu posso fazer, pelo menos, o pagamento de algumas empresas ou dividir (os débitos). Até porque eles (os fornecedores) também precisam arcar com seus gastos — disse Ferry.

Das oito enfermarias existentes no hospital, cinco estão abertas e as outras três, fechadas. Por falta de pacientes e recursos para reformas, uma delas está abandonada e funciona como depósito de entulho, que passou a ocupar um lugar antes destinado ao atendimento de pacientes.

No hospital, exames laboratoriais mais complexos, que são terceirizados, também não estão sendo realizados. Só análises mais simples são feitas e, mesmo assim, para os pacientes internados no local. As pessoas atendidas nos ambulatórios, quando necessitam de exames, são encaminhadas para postos de saúde e clínicas da família da prefeitura. Ao todo, neste ano, o Gaffrée e Guinle realizou 64 mil consultas e 4.300 cirurgias.

— Eu teria capacidade de fazer pelo menos umas 16 mil cirurgias e o dobro de consultas. E, talvez, acolher o dobro do número de internações, caso o hospital funcionasse plenamente. Mas eu tenho esperança de que a gente consiga os recursos necessários — disse o diretor.

Como se trata de um hospital-escola, o Gaffrée e Guinle possui todas as especialidades. O programa de Aids e hepatite atende seis mil pacientes: 3.800 e 2.200, respectivamente. O programa de portadores do HIV não é afetado no que tange ao fornecimento de remédios e exames. Ferry explica que, nesse caso, o problema são as internações:

— O que está sendo afetado são as internações já que eu poderia, em outras condições, aceitar muito mais doentes com o HIV.

Os pacientes, que elogiam o esforço da equipe do hospital, temem o pior. A enfermeira Carla Esteves, de 43 anos, acompanha o pai de 84 anos que está internado desde 24 de setembro e passou por uma cirurgia no intestino.

— É uma pena que outras pessoas não possam receber o mesmo tratamento que ele tem recebido aqui — disse ela, diante de leitos vazios.

Por meio de nota, o Ministério da Educação, uma das fontes de recursos do Gaffrée e Guinle, informou que foram destinados ao hospital R$ 5, 2 milhões, através do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
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