A morte do soldado britânico Matthew Millington após um transplante duplo de pulmões expõe a realidade da qualidade dos órgãos disponíveis para esse tipo de cirurgia.

Millington, que tinha 31 anos, recebeu em abril de 2007 os pulmões de um homem que fumava entre 30 e 50 cigarros por dia. Os dois órgãos desenvolveram câncer.

No Reino Unido, 49% dos doadores de pulmão do ano passado era fumante. A informação é de Chris Watson, vice-presidente da Sociedade Britânica para o Transplante (BTS, na sigla original), divulgada na TV pela CNN.

Especialistas explicam que a relativamente pequena quantidade de órgãos disponíveis para transplante obriga os médicos a utilizarem pulmões, corações, rins e fígados em condições muito distantes do ideal.

"Não podemos nos dar ao luxo de descartar órgãos por não estarem absolutamente perfeitos. Há muito poucos que estão perfeitos",disse Watson à CNN.

Cerca de 7.000 pessoas aguardam um transplante no Reino Unido. No ano passado, quase 1.000 morreram à espera de um órgão no ano passado.

Nos Estados Unidos, a fila de espera tem 105 mil pessoas --19 morrem diariamente sem realizar a cirurgia.

Exemplo

A Espanha é líder em doadores de órgãos, com 33 doadores efetivos (que foram a óbito) por milhão, comparados aos 12 por milhão do Reino Unido.

O país ibérico tem a lei do consentimento presumido, segundo a qual os cidadãos são automaticamente considerados doadores caso não se manifestem em contrário. Para Watson, porém, este não é o único fator a explicar o alto nível de doações entre espanhóis.

O país tem uma infraestrutura bem desenvolvida no setor, diz Watson, tanto para monitorar pacientes em cuidados intensivos quanto para coordenar a relação com familiares de pessoas que acabaram de morrer e discutir a doação.