A imagem do rosto de Chico Buarque, pendurada em um painel no Armazém 4 do Píer Mauá, onde está sendo realizado o Fashion Rio, é um bom exemplo de como trabalha Fernando Torquatto. O fotógrafo e maquiador, que expõe outros 33 retratos no espaço, levou pouco mais de cinco minutos para clicar o compositor. Ele explica que isso se deve menos à sua rapidez do que aos mecanismos que usa para captar traços da personalidade do retratado.

Lembro que foi super difícil marcar a foto. Subi sozinho no apartamento dele, ele me ofereceu um café. Eu mesmo passei um corretivo nele, rapidamente. Pedi para que encostasse na pilastra, fiz uns cliques e falei: ‘está pronto’. Ele disse: 'Já? Esperei tanto para fotografar e você vai fazer em cinco minutos?'. Respondi: 'Como você não é modelo, eu queria te pegar desprevenido. Poderia ficar te enrolando, mas já tenho a sua foto. Você está com uma cara leve, sem tensão'", contou Torquatto. "Não queria ele posando para mim. Seria muita pretensão querer fazer o Chico virar alguma coisa. Ele já é uma grande coisa."

Preta e Gilberto Gil, Juliana Paes, Regina Casé, Rodrigo Santoro, Ney Matogrosso, Cleo Pires e muitos outros, todos registrados em preto e branco e impressos em bandeiras de 1,90m x 3m, compõem com Chico Buarque o ambiente da mostra. Em comum, expressões marcantes que, segundo o autor das fotos, são fiéis à personalidade de cada um.

Para o fotógrafo, é exatamente essa personalidade que faz a diferença entre clicar modelos ou não-modelos. “Para fotografar pessoas que não sejam modelos, é preciso um olhar mais cuidadoso para se chegar ao melhor ângulo. As modelos têm formas que combinam praticamente com todo tipo de maquiagem, qualquer ângulo. As não-modelos têm características próprias, uma é mais gorda, outra é mais magra, mas elas te dão personalidade. Entre 100 modelos, talvez 20 tenham personalidade. Aqui (na exposição), todo mundo tem personalidade.”