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Domingo, 28 de julho de 2024

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Kathryn Bigelow e James Cameron: o ex-casal mais poderoso de Hollywood na disputa pelo Oscar

Há muitos e muitos anos - 23 , para ser exata - na distante galáxia de Hollywood, dois forasteiros se encontraram. Tinham muito mais em comum do que pensavam, passaram um bom tempo juntos, colaboraram em projetos mútuos e seguiram seus próprios caminhos. Mais de duas décadas depois, os dois, não mais forasteiros mas integrantes da elite hollywoodiana, estão juntos novamente, debaixo do mais intenso foco de interesse, como os grandes duelistas do Oscar 2010.


Ela, Kathryn Bigelow, vinha de uma infância na pacífica San Carlos, no norte da California, onde muito cedo manifestara enorme talento para a pintura. Anos de estudo em Nova York, primeiro no curso do Museu Whitney e depois na universidade de Columbia, tinham transformado sua visão das artes plásticas. “Descobri que o cinema podia ser uma linguagem poderosa, que atravessa todas as culturas e classes sociais.” Depois de sobreviver alguns anos reformando lofts em parceria com um igualmente desempregado Philip Glass - “ele fazia o trabalho de carpintaria, eu pintava” - Bigelow emplacara um primeiro filme em 1982: "The Loveless", uma revisão do road-movie-de-motocicleta, estrelado por Willem Dafoe. O sucesso modesto mas promissor do filme levara Bigelow a Los Angeles, agora na tentativa de levantar um segundo projeto - "Near Dark", mais uma revisão de gêneros, uma deliciosa espécie de western com vampiros.

Ele, James Cameron, era um canadense de Kapuskasing, uma pequena cidade a 820 quilômetros de Toronto. Filho de um engenheiro, Cameron desde cedo demonstrara vivo interesse em ciência, e mudara-se para Los Angeles para estudar física na California State University, onde prontamente foi infectado pelo vírus do cinema. Formado, começou a escever roteiros e dirigir caminhões de entrega para se sustentar. Sua salvação foi o porto seguro de muitos cineastas principiantes antes dele: o rei dos filmes B, Roger Corman. Em 1980, Cameron foi trabalhar para Corman como uma espécie de faz tudo, criando maquetes e supervisionando efeitos especiais para "Battle Beyond the Stars" (o "Star Wars" de Corman) , subindo ao posto de assistente de direção em "Piranha" e, finalmente, diretor em "Piranha 2", de 1981. Um pesadelo no set inspirou-o a escrever o que ele mesmo chama de “um exercício ambicioso de filme B em grande escala”, "O Exterminador do Futuro", estrelado por um ex-Mister Universo que também dava seus primeiros passos no cinema - Arnold Schwarzenegger. Em 1987, Cameron já era um diretor estabelecido no gênero ficção científica, e acabara de ser capa da revista Time com "Aliens", sua sequência para "Alien-O Oitavo Passageiro".

Cameron estava nos momentos finais de seu segundo casamento – com a produtora de Exterminador, Gale Ann Hurd – quando conheceu Bigelow. Bigelow estava em busca de amigos na nova cidade: “Em Nova York, principalmente entre artistas e cineastas, há uma verdadeira comunidade. Sentia falta disso em LA". Mas as afinidades eram muitas, e os dois acabaram se casando em 1989, o mesmo ano em que Bigelow lançou "Blue Steel", mais uma subversão de gêneros: um policial, onde a heroína é Jamie Lee Curtis tão durona e boa de gatilho quanto qualquer marmanjo.

Em 1991, quando Cameron saía com "O Segredo do Abismo" – uma história de amor entre um casal divorciado, embutida numa aventura submarina - e Bigelow com Point Break – uma história de amor platônico entre dois tipos durões, disfarçada de policial-esportivo-radical- o casal se separou em termos extremamente cordiais. Tão cordiais que, em 1994, Bigelow dirigiu um roteiro de Cameron – "Strange Days", com Ralf Fiennes, lançado no festival de Veneza de 1995.

Nem a amizade nem os paralelos entre os dois terminaram. Em 2007, quando Cameron estava no meio do complexo processo de criação de um filme em 3D integrando o real e o virtual Bigelow estava num deserto da Jordânia filmando uma história sobre esquadrões anti-bomba no Iraque a partir de um roteiro do ex-jornalista Mark Boal. Três anos depois, seus dois projetos estão fazendo história, lado a lado. Com Avatar, Cameron colocou a indústria de cinema definitivamente no século 21, rompendo com todos os cânones da produção e ultrapassando as noções do que é “filmado” e o que é “efeito”. Com "Guerra ao Terror", Bigelow criou o "Platoon" da Guerra do Iraque e confirmou o que toda a sua carreira já havia sublinhado: que a idéia de que diretoras só se interessam em realizar comédias e dramas românticos é completamente obsoleta. “Aos que estranham minhas escolhas de temas e estética por eu ser mulher eu digo apenas que nada tenho a explicar nem a resolver”, Bigelow diz. “Não pretendo mudar minha visão, nem muito menos meu sexo.”

Entre os dois, contudo, há um abismo que, com todo o alarde em contrário, ainda assombra Hollywood: em termos de poder e dinheiro, mulheres ainda são cidadãs de segunda categoria. Enquanto Cameron pilotou o maior orçamento do mundo para realizar Avatar – 237 mihões de dólares, em grande parte bancados pela Fox -, Bigelow teve que alavancar de forma independente minguados (para a indústria) 15 milhões de dólares para filmar Guerra ao Terror. E enquanto "Avatar" estreou em 3.461 telas nos EUA, "Guerra ao Terror" foi para 535.

É claro que outras considerações entram nessa diferença: "Avatar" sempre foi um filmão de grandes platéias, ainda mais com o atrativo do 3D, enquanto "Guerra ao Terror" tem as características do drama de guerra voltado para o píublico adulto. Mas a imensa torcida de todas as mulheres da indústria – diretoras, roteiristas, produtoras, executivas, diretoras de arte, montadoras- por Bigelow confirma que sua indicação – apenas a quarta na história do Oscar – e possível vitória – fato inédito - são vistas como o fator que pode começar a derrubar as paredes do “gueto cor de rosa” : o compartimento de segunda classe onde mulheres só tem direito de fazer filmes baratos, e de preferência água com açúcar.
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