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Domingo, 28 de julho de 2024

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Fernando Fernandes se prepara para as paraolimpíadas: 'Não sei viver mais ou menos'

Neste domingo, 28, o ex-BBB Fernando Fernandes completa 29 anos. Em sua casa no Planalto Paulista, comprada especialmente para atender suas necessidades, haverá um churrasco para os amigos. Modelo e atleta, Fernando impressiona pela superação após o acidente que o deixou paraplégico. Nove meses depois, ele já é craque em canoagem e se prepara para se tornar um atleta paraolímpico com o remo.


“Não sei viver mais ou menos. Se hoje eu me encontro bem, é porque faço tudo com dedicação, errando e acertando”, disse Fernando, que recebeu o EGO na Raia Olímpica da USP, onde treina pelo clube Bandeirantes, e falou abertamente sobre preconceito, garra e vida sexual. “Não sou um coitadinho”.

Na época do BBB, você foi considerado uma pessoa metida, e até um pouco arrogante. Passados oito anos e após tudo o que lhe aconteceu, o que acha que mudou?

Maturidade. Se eu estivesse hoje lá, o comportamento talvez fosse diferente. Agiria mais com a razão do que com a emoção. Na época acabei me envolvendo demais em coisas que não tinham nada a ver comigo, comprei briga dos outros. Hoje em dia o programa é completamente diferente, porque as pessoas já sabem a fórmula, já sabem como se comportar. Na época era novidade, ninguém sabia direito como funcionava, a repercussão... Mas mesmo hoje o pessoal acha que sou metido. Na verdade sou muito tímido, introvertido. Aí junta isso ao fato de eu ser modelo, trabalhar com o corpo, aí as pessoas confundem. Mas quem me conhece sabe que sou espontâneo e carinhoso com todo mundo. Gosto dos meus amigos.

Você sempre foi bastante vaidoso. Continua assim?
Minha vaidade nunca foi acima do limite. Se fosse assim, hoje eu estaria com depressão escondido em casa. Como eu sempre soube controlar essa relação do ego com a vaidade, hoje sei lidar muito bem com o fato de estar numa cadeira. Não deixo o meu prazer de viver passar pela vaidade. Vaidade todo mundo tem: seja feio, bonito, esquisito. Eu me cuido, me preocupo.

Como você faz para cuidar do corpo?
Pratico esportes, mas por prazer, não por vaidade. Acaba sendo bom para a aparência também. Estou aqui agora suando cheio de calos na mão, mas estou feliz. No início, eu era atleta e paralelamente modelo. Mas quando a carreira começou a fluir, deixei o esporte em segundo plano. Eu lutava boxe, e uma coisa não tinha nada a ver com a outra. Não podia chegar todo roxo para fotografar ou desfilar. Hoje em dia eu inverti isso. Como não faço mais parte do padrão estético da sociedade, estou focando no esporte. Mas a moda aceita as diferenças.

Você tem feito trabalhos como modelo?
Recebi vários convites. Fiz um desfile logo depois do acidente, tenho feito fotos. Fiz a capa de uma revista voltada para o público gay. Foram fotos sensuais, mas de bom gosto. Recebi convites para algumas campanhas. Eu brinco que agora ser cadeirante está na moda (risos). É no filme “Avatar”, é na novela (“Viver a Vida”), em todo lugar. Estou pegando a parte fácil de estar numa cadeira de rodas. Quem passou por isso antes teve mais dificuldade. Hoje em dia a gente tem acesso, espaço para falar.

Você assiste à novela? Sente-se bem representado com a personagem Luciana?
Não vejo muita televisão, mas de vez em quando assisto. Acho que a novela tem tentado ir pelo caminho certo. Apesar de alguns pequenos erros, mas o objetivo é passar informação, o que é mais importante. Eles estão mostrando que a felicidade não é necessariamente voltar a andar, mas buscar sua felicidade dentro da sua realidade. Hoje em dia sou um cadeirante, mas amanhã eu não sei. Só tenho nove meses de lesão, de repente eles podem descobrir algo que me faça andar. Mas hoje eu trabalho em cima do que sou. E isso não me faz menos homem do que qualquer pessoa. Preciso aceitar isso para poder viver. Tem gente que não aceita e fica batalhando só em cima do dia em que vai voltar a andar. Aí fica a frustração na cabeça.

Isso é algo que você compreendeu muito rápido. Tem gente que fica deprimida e se entrega. A que você deve essa força?
Ao esporte. No boxe, tem uma frase que diz: se estiver na guarda, apanhando, tem que levantar a cabeça. Se você não levantar a cabeça para se situar, vai continuar apanhando. Tem que seguir em frente. Eu agradeço a Deus por me dar esse dom. O esporte dá a sensação de prazer, de igualdade, é democrático, rico misturado com pobre, branco com negro. Me dá prazer poder superar meus limites. Eu andei a cavalo logo depois do acidente, faço remo, canoagem...

Em algum momento após o acidente você ficou triste, pensou em desistir?
Sempre tem, mas isso eu tive a minha vida toda. A vida é de altos e baixos. Hoje estou me sentindo melhor do que há dois anos, quando estava em uma fase meio confusa. Hoje sei o que quero, estou focado, tenho o meu objetivo. As dificuldades estão aí, mas estou superando. É uma questão de querer e ter fé. Nada me segura.

Qual a sua rotina diária? O que faz para melhorar suas condições físicas? Acordo às seis horas da manhã. Treino por uma hora e meia e descanso. Às vezes treino de tarde também. Isso de segunda a sábado. Minha vida no momento está focada no treino de remo, canoagem e fisioterapia, onde eu trabalho os membros inferiores, faço trabalho de alongamento, de musculatura e de tendões, para as pernas não enrijecerem.

Seu objetivo agora são as paraolimpíadas? Como está se preparando?
Meu objetivo maior é voltar a andar. Mas enquanto isso não vem, tenho certeza de que vou participar dos jogos paraolímpicos em 2012. Isso no remo, porque a canoagem ainda não é considerado esporte paraolímpico. Estou só com três semanas de treino. Tenho força bruta, pelo meu histórico no esporte, e também porque passei quase seis meses no Hospital Sarah Kubitschek (em Brasília) fazendo musculação. Mas preciso aprender a técnica, e isso é questão de tempo.

Você também precisou aprender a controlar a bexiga e o intestino. Como foi esse processo?
Você aprende a se adaptar a tudo. No início, tive muita infecção urinária. Hoje aprendi a evitar isso. Bebo muita água, faço o cateterismo de quatro em quatro horas (a limpeza da uretra através de um cateter). Para tudo há um processo, não posso estacionar. O mínimo de músculo que tiver para trabalhar, eu vou trabalhar e aprender a lidar com o corpo.

E a vida social, como está?
Tenho saído menos, porque o treino desgasta muito. É a vida do atleta: treino e descanso. Gosto de ir no Parque do Ibirapuera, que freqüento desde os 12 anos. Se tem um aniversário, eu vou. Vou tirar minha carteira de motorista, em breve poderei dirigir. Dia 28 é meu aniversário, faço 29 anos. Vai ter um churrasco lá em casa com meus amigos. A gente se mudou para uma casa grande, com um quintalzão.

Você teve muito apoio dos amigos?
Sim, foi fundamental. São poucos e bons amigos. Tenho também amigos que, mesmo distantes, se manifestaram. Isso me fortaleceu muito. Até pessoas que tive apenas relação de trabalho, como Mario Testino (fotógrafo), a Eva Herzigova (modelo), o pessoal da Dolce & Gabbana, todos mandaram flores. A convivência com pessoas que tinham o mesmo problema, no Sarah, também foi importante. Quando você acha que sua realidade é difícil, olha para o lado e vê que não pode reclamar.

No momento você está namorando?
Namorei logo depois do acidente, mas acabou devido à distância. Ela estava em São Paulo e eu em Brasília. Eu também estava em um momento muito focado em mim. Hoje estou sozinho.

Sofreu algum preconceito por parte de alguma mulher?
O preconceito vem da sua postura, de como você se coloca. Tem essa imagem de que o cadeirante é coitadinho, tem alguns que se colocam assim. Mas isso vem da personalidade de cada um. Quem luta por vitória, quem gosta da vida, vai viver. Quem se acovardou sempre, vai continuar escondido. Eu não me sinto um coitado. Só depende de mim.

Você disse que aprendeu a sentir prazer de outras formas. A forma de dar prazer a uma mulher também mudou? Você se tornou mais empenhado?
Você tem que aprender a lidar com o corpo de todas as formas. Alguns têm mais sensibilidade, outros menos. A minha sensibilidade ainda está confusa, às vezes eu sinto algum lugar, outras não. Descobri que sexo não é só penetração, como os homens costumam achar. Hoje me sinto mais evoluído na parte sexual (risos). A pessoa tem que aprender a conhecer seu corpo e o da parceira para poder proporcionar prazer a ela.

Em relação ao acidente, por que você acha que aconteceu?
O acidente foi uma combinação de imprudências. Exagerei nos exercícios, treinei pesado durante o dia, depois fui jogar futebol. Também estava procurando emagrecer porque tenho uma genética larga, então eu sempre fui um pouco fora do padrão para modelo. Como eu estava indo para Milão desfilar, tinha que estar no padrão deles. Então foi isso: excesso de exercícios, dieta, depois bebi cerveja, e o pior de tudo foi a ausência do cinto. Talvez se eu estivesse com o cinto, o choque seria amenizado. Mas não gosto muito de pensar no “se”. Aconteceu, e não vou ficar pensando naquele momento. Eu estava numa velocidade razoável, 100km/h. O carro não ficou acabado, não tive nenhuma lesão fora do corpo, nenhum arranhão. Bati com a cabeça e sofri com o tranco.

Muitos jovens se acham invencíveis, por isso acabam passando por situações de risco. Antes do acidente, você também achava que nada de mau poderia lhe acontecer?
Não é questão disso. Os jovens são jovens, querem viver tudo intensamente. A gente só aprende com a idade, mesmo. É algo que meu pai me fala, meu padrasto me fala. Minha vida sempre foi intensa, as coisas sempre surgiram de repente. Não sei viver mais ou menos. Se hoje eu me encontro bem, é porque faço tudo com dedicação, errando e acertando.
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