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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Kassab antecipa discussão da reforma política ao planejar criação de novo partido para sair do DEM

Enquanto as discussões sobre a reforma do sistema político não começam no Congresso, o comportamento de um peso-pesado da política nacional colocou em pauta um dos principais temas que serão debatidos quando esse dia chegar: o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, vai aproveitar uma brecha na Lei da Fidelidade Partidária para criar um novo partido político com a intenção de evitar naufragar junto com sua atual legenda, o DEM, que minguou nas últimas eleições.


Kassab começou suas negociações políticas já no ano passado. Primeiro, disseram que ele iria para o PMDB, depois para o PSB. O prefeito negou os boatos. O problema de sua transferência para um desses partidos é que ele poderia perder o mandato de prefeito porque a lei pune os infiéis e entrega o cargo ao partido.

O jeito encontrado foi aproveitar a janela na lei que permite que o político troque de sigla desde que ele saia para uma nova legenda. Nos bastidores, está tudo pronto para a fundação do PDB até agosto deste ano. Especula-se que a criação do partido seria uma estratégia para que, em seguida, ele se junte ao PSB do governador Eduardo Campos (PE).

Com a tática de fundar um partido dormitório de esquerda, Kassab evitaria os comentários causados por sua transferência do DEM (um partido de direita) para o PSB, sigla com um “S” de “socialista” no meio.

Quando as negociações de Kassab vazaram para a imprensa e o DEM percebeu que seria inútil segurá-lo, alguns caciques do partido começaram a dizer o que pensam sobre o colega. O deputado federal Onyx Lorenzoni (RS) foi a plenário no começo de março para chamar a nova sigla de Kassab de “Partido da Boquinha”. Em seguida, ACM Neto (BA) disse que criar um partido “para, logo depois, promover atos de fusão” com o PSB é um “liberou geral, um adesismo oportunista”.

A polêmica que envolve Kassab é só uma amostra do que acontece nos bastidores do Congresso. Desde que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) publicou a tal resolução para diminuir a infidelidade partidária, em 2007, 53 parlamentares trocaram de sigla, mas só dois perderam o mandato.

O exemplo que mais chama a atenção é o do PR, criado em 2007 pela fusão do PL com o Prona. O negócio deu tão certo que 31 parlamentares de 17 partidos migraram para o PR e só cinco saíram dele. E qual a legenda mais prejudicada? O DEM, que no mesmo período perdeu 18 cadeiras (14 na Câmara e quatro no Senado) e não ganhou nenhuma.

O diretor acadêmico da Fesp (Fundação Escola de Sociologia e Política), Aldo Fornazieri, diz que, fiel ao DEM ou não, Kassab está fazendo o que a legislação permite para sair de um partido que está afundando.

- O projeto original do DEM, que era representar uma direita mais ideológica, se inviabilizou. Há muitas divergências dentro do partido. É legítimo que as pessoas que queiram ter um futuro político queiram deixar o DEM.

A cientista política da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), Maria do Socorro, concorda e lembra que não há tanta incoerência no fato de Kassab acabar no PSB, esse sim, um partido que mudou.

- O PSB mudou seu conceito como partido. Ele está muito próximo do DEM. Como o Paulo Skaf [presidente da Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] um “representante do capital”, para usar um termo marxista, pode ter sido o candidato a governador do PSB no ano passado? Não é nada estranho a ida do grupo do Kassab para o PSB. Os políticos do PSB eleitos nos últimos anos representam cada vez menos os trabalhadores e cada vez mais o agronegócio, a indústria e o setor de serviços.
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