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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Dilma impõe firmeza ao governo,mas não se livra de polêmicas

A presidente Dilma Rousseff ganhou fama de durona durante os oito anos do mandato de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Não eram raras as vezes nas quais a ainda ministra Dilma iniciava a conversa com seu interlocutor chamando-o de santinho (ou santinha). Era a senha para broncas que atingiam de colegas de governo a copeiras.


No comando da nação, Dilma abandonou a expressão, mantendo apenas o inho (ou inha) para chamar carinhosamente seus auxiliares. É o caso de Gilberto Carvalho, ou Gilbertinho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência. Hoje, Dilma delega as broncas, mas nos primeiros 100 dias de governo não deixou de protagonizar algumas polêmicas.

Apenas três dias após a posse, Dilma repreendeu o general José Elito de Carvalho, ministro de do Gabinete do Segurança Institucional, por dizer em entrevista que não é motivo de vergonha para o país o desaparecimento de presos políticos durante a ditadura militar (1964-1985). Ex-militante e torturada, Dilma foi obrigada a dar o primeiro puxão de orelhas de ministro do novo governo.

Ainda em janeiro, os problemas com o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) obrigaram Dilma a intervir no MEC (Ministério da Educação). A falha no acesso ao sistema de classificação dos alunos candidatos a vagas no ensino superior levou à demissão do então presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), Joaquim Soares Neto.

Irritada com as constantes denúncias em relação ao MEC, Dilma chegou a chamar o ministro Fernando Haddad às pressas para reuniões no Palácio do Planalto. Apoiado pelo PT, Haddad se segurou no cargo, mas o restante da cúpula do ministério caiu. Os secretários de Ensino Superior, de Educação à Distância e de Educação Continuada foram trocados.

O primeiro mês de governo terminou com outra baixa. Dilma ordenou a demissão do então futuro chefe da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas), Pedro Abramovay. Considerado um garoto prodígio pelo governo, ele chegou a ocupar o cargo de ministro interino da Justiça aos 29 anos.

Quando ainda ocupava a Secretaria Nacional de Justiça, Abramovay defendeu o fim da prisão para pequenos traficantes. A declaração criou tanto mal-estar ao governo que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi obrigado a dizer que a gestão Dilma pregava exatamente o contrário, o endurecimento das penas.

Apagão

Nem bem virou o mês, Dilma foi obrigada a lidar com a primeira crise no setor sobre o qual construiu sua alardeada carreira de técnica competente. O apagão que deixou oito Estados do Nordeste às escuras resultou em uma tensa reunião na noite de 8 de fevereiro. Aos gritos de “eu quero soluções”, Dilma passou um pito na cúpula do setor e trocou o presidente da Eletrobras, principal estatal elétrica.

O apagão também serviu para a presidente comprar uma briga pessoal com o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Suspeito de envolvimento em irregularidades e com forte influência sobre Furnas, estatal que atua na geração e transmissão de energia, Cunha teve suas indicações barradas sob ordens de Dilma, que trocou o presidente e colocou o engenheiro Flávio Decat no lugar.

O embate com Cunha, no entanto, foi apenas o ponto mais visível de uma briga com o PMDB que emperrou a indicação de cargos para o segundo escalão nos primeiros meses do mandato. Ferrenha defensora de um governo técnico, Dilma criou barreiras para as indicações do partido de seu vice-presidente, Michel Temer, que só agora começam a deslanchar.

Cultura

O mês de março chegou com mais uma dor de cabeça para a presidente. O sociólogo Emir Sader, que se envolveu pessoalmente na campanha de Dilma à presidência, foi demitido pela ministra da Cultura, Ana de Hollanda, antes mesmo de tomar posse do cargo de presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, instituição voltada à pesquisa da produção literária brasileira.

Em entrevista a um jornal, Sader, que acreditava poder ser ministro no lugar de Ana, classificou a chefe de “meio autista”, referindo-se a uma suposta falta de firmeza em sua tomada de decisões no ministério.

Economia

Nos bastidores, Dilma também tem tratado com rigidez até mesmo aqueles por quem notoriamente tem simpatia. Foi o caso dos ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Miriam Belchior, do Planejamento. Chamado de Guidinho pela presidente, o ministro teve de ouvir um sabão daqueles pela forma como anunciou o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento.

Após a coletiva aos jornalistas, Dilma reclamou que Mantega e Miriam não conseguiram ser convincentes ao explicar que não seria um corte, mas sim uma reestimativa de despesas que não se concretizariam na prática. A presidente ficou particularmente insatisfeita com a ministra do Planejamento por não ter explicado melhor o corte de R$ 5,1 bilhões que atingiu o programa Minha Casa, Minha Vida.

No final de março, outro problema na área econômica fez Dilma agir com firmeza. Após a divulgação do rombo de R$ 4,3 bilhões no banco PanAmericano, que em 2009 teve 49% de seu capital comprado pela Caixa Econômica Federal, a presidente se viu obrigada a trocar a diretoria do banco estatal.

A dança das cadeiras na instituição só não atingiu o vice-presidente financeiro, Jorge Hereda, que foi para o lugar de Maria Fernanda Ramos Coelho. Nos corredores do banco, comenta-se que Maria Fernanda bateu de frente com Dilma por discordar da indicação do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) para ocupar a vice-presidência da área de pessoa jurídica da instituição.

A mais recente polêmica da presidente envolve uma empresa privada. Dilma, que nunca mostrou afeição em relação ao presidente da mineradora Vale, Roger Agnelli, acabou rifando o executivo por meio dos acionistas do governo na empresa, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.

Dilma acredita que a mudança no comando da Vale pode fazer a empresa investir mais no Brasil e colaborar mais com o governo, principalmente em relação ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Agnelli deverá ser substituído pelo ex-diretor da empresa Murilo Ferreira.
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