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Domingo, 21 de julho de 2024

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Núcleo de Dilma sugere pragmatismo em eventual governo

A candidata do PT à Presidência e líder das pesquisas eleitorais, Dilma Rousseff, deve optar por ministros pragmáticos, que tenham a confiança de investidores e favoráveis à disciplina fiscal, aliviando temores de que ela poderá levar o Brasil rumo à esquerda.


Com as chances de vitória de Dilma já no primeiro turno devido à larga vantagem sobre seus adversários nas sondagens, Brasília já especula quais nomes ocuparão os postos mais importantes do novo governo.

Os ministérios devem ter um formato similar ao do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo analistas e fontes próximas a Dilma, seguindo a preferência por uma participação forte em algumas áreas de Estado e um foco expressivo nas áreas de energia e infraestrutura.

Embora os gastos públicos venham a ser controlados, não se espera que o novo governo opte por cortes defendidos pelo mercado, num momento em que a economia brasileira, que deve crescer em torno de 7,5 por cento neste ano, precisa de investimentos imediatos em estradas, portos e energia.

É tido como certo que Dilma, ex-ministra-chefe da Casa Civil, deverá optar por dois homens vistos por investidores como importantes em manter os gastos públicos e setores esquerdistas do PT sob controle.

Antonio Palocci, ministro da Fazenda de Lula por três anos até sua renúncia após um escândalo que envolveu a quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, é um dos generais da campanha de Dilma e deve ocupar um cargo importante num eventual governo dela.

Como arquiteto dos cortes do orçamento e da dívida que ajudaram a controlar a inflação e elevar o crescimento nos primeiros anos do governo Lula, o ex-médico de 49 anos é visto como essencial para acalmar os nervos do mercado em relação à Dilma, uma ex-militante de esquerda.

O outro nome chave é Luciano Coutinho, o respeitado presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele foi professor de economia de Dilma, e fontes afirmam ser um dos favoritos para comandar o Ministério da Fazenda.

"Contanto que eles façam parte da equipe isso ajudará todos nós a dormir um pouco melhor", disse Nick Chamie, chefe global de mercados emergentes da RBC Capital Markets.

O que segue incerto é exatamente como os postos-chave serão preenchidos —algo que poderá mostrar até onde Dilma irá para conter a crescente preocupação do mercado em relação aos gastos do governo.

As prioridades dela devem ser a melhoria da precária infraestrutura do país e a redução de obstáculos burocráticos para o crescimento. Ela deverá colocar ministérios como o de Minas e Energia e o de Transportes, nos últimos tempos comandados pelo PMDB, sob pessoas de sua confiança.

"Há um objetivo claro na mente de Dilma Rousseff, na minha opinião —investir para melhorar a infraestrutura do país", disse Alexandre Marinis, analista político e econômico da consultoria Mosaico, em São Paulo. "Outra meta é continuar o que Lula fez".

ESCÂNDALOS DE PALOCCI PREOCUPAM

Palocci, um favorito de Wall Street, poderá fazer uma volta triunfal após deixar o governo. Mas transformá-lo em vitrine de um ministério politicamente em evidência pode trazer dois problemas: reavivar antigos escândalos, tornando-o um alvo, e o risco de que ele apareça para a platéia como ente muito poderoso. Foi assim com José Dirceu, tratado como primeiro-ministro do governo Lula, e não deu certo.

Por essas razões, a chefia da Casa Civil, tida como o segundo posto mais importante do governo, poderá ser dado a Paulo Bernardo, atual ministro do Planejamento, já que o projeto de eventualmente manter Erenice Guerra no posto foi implodido semana passada.

Isto poderá significar que Palocci, homem que ajudou no crescimento de Dilma à condição de ministra ao alertar Lula de suas qualidades ainda no período da transição, poderá ser a ligação do governo com o Congresso, presidente do Banco Central ou ministro da Saúde.

Sua carreira de médico o habilita para este último cargo, de alta importância no Brasil, mas poderia alimentar preocupações de que ele estaria sendo longe das políticas econômicas.

"Ele claramente tem a confiança dela mas não acredito que ele será um ministro econômico", disse Christopher Garman, analista político do Eurasia Group, em Washington.

"Ele não será o rosto da administração dela em política econômica. Eu acho que Luciano Coutinho será esse rosto."

Coutinho, de 63 anos, é defensor de um papel forte do Estado na indústria como agente indutor e ocupa a chefia do BNDES, onde duplicou o número de empréstimos concedidos pelo banco desde a crise financeira de 2008. Mas é visto como um relativo conservador em termos fiscais, preocupado com os efeitos do real valorizado na indústria brasileira.

"Ele é o ministro da Fazenda dos sonhos dela", disse uma importante fonte do PT sob condição de anonimato.

Mas ele também pode enfrentar um outro obstáculo para se tornar o ministro da Fazenda —o atual dono do cargo, Guido Mantega, que estaria fazendo campanha para seguir no posto, mas teria menos influência que Coutinho em um governo Dilma.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, amplamente elogiado por comandar o Brasil durante a crise financeira global, deve ocupar um ministério desde que o PMDB, seu partido e aliado de Dilma, o indique.

Um nome em ascensão e que deve ser promovido é o secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, próximo a Dilma e importante personagem nas principais iniciativas de política econômica nos últimos anos.

Ele é um dos vários nomes favoráveis a uma intervenção forte do Estado em áreas econômicas consideradas estratégicas.

Lula deu início a um rigoroso programa de austeridade ao assumir a Presidência, em 2003, mas Dilma nega planejar um início de governo similar e chegou a classificar tais cortes de gastos como "um crime".

"Eu não a vejo fazendo algo similar ao que Lula e Palocci, junto com Meirelles, fizeram em 2003", disse Marinis, esclarecendo que isso não seria um problema.

"O mercado não está pedindo isso, a economia não está pedindo isso e o mundo também não está pedindo isso."
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