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Domingo, 28 de julho de 2024

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Obama pode mudar o futuro dos carros

Em primeiro lugar, um comentário extra-automotivo: parece inacreditável que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, esteja na Casa Branca há apenas uma semana. Nesse exíguo período ele já tocou em praticamente todos os pontos nevrálgicos da crise institucional e moral que acometeu seu país durante os oito anos de George Bush: determinou o fechamento de Guantánamo, garantiu que os EUA não vão mais torturar (ou seja, implicitamente acusou o governo Bush de torturador), lançou sinais de distensão aos inimigos, reafirmou o direito ao aborto etc. -- goste-se ou não, há de se aplaudir a coerência de Obama. E ele deve ser, hoje, o chefe de estado mais esquerdista do mundo.


Agora, aos carros. Nesta segunda-feira Obama anunciou medidas para diminuir a poluição ambiental, o efeito estufa e a dependência energética dos EUA, três problemas que têm como ator principal (ou vilão principal, caso se queira) o automóvel. Isso soa como música aos ouvidos das montadoras europeias (inclusive das filiais de General Motors e Ford) e japonesas, que têm expertise na fabricação de carros menos beberrões e poluidores. A liberação do controle de emissões por parte dos Estados, que fora proibida por Bush, é uma decisão que pode transformar o Toyota Prius (que já é uma realidade nas ruas dos EUA), o Honda Clarity (em fase final de testes) e o futuro Chevrolet Volt em campeões de vendas em determinadas áreas daquele país.

Também abre-se a chance para que montadoras com presença medíocre ou nenhuma em solo norte-americano, como a Fiat, ocupem novos espaços -- não é à toa que a parceria da italiana com a Chrysler terá como efeito quase imediato a descontinuação do PT Cruiser e o uso de sua linha de montagem para o pequenino Cinquecento. Outra montadora que pode se dar bem é a Volkswagen, cujo Golf (de quinta e sexta gerações) foi o carro mais vendido na Europa em 2008, seguido pelo Ford Fiesta. Nos EUA, o carro se chama Rabbit, e não figura entre os dez mais vendidos. Quem sabe agora esse coelho sai da cartola...

De resto, a meta de ter a frota dos EUA gastando em média um litro de combustível para rodar 15 quilômetros em 2020 não tem nada de absurda (alguns podem julgá-la até conservadora, aliás). São 11 anos para que as fabricantes aprimorem seus motores, de preferência sem tornar os carros uma chatice para dirigir. Eventualmente, essa meta pode ser negociada e relativizada com o incremento do uso de combustíveis de biomassa, que em geral não conseguem fazer os carros rodar tanto (porque seu poder calorífico é menor que o da gasolina), mas são menos agressivos ao meio ambiente. Isso é obviamente bom para o Brasil, que produz etanol de cana, mais viável comercialmente que o de milho hoje usado nos EUA, e que é pioneiro na moderna tecnologia do respectivo motor.

A meta estabelecida por Obama também pode aumentar o uso de diesel nos EUA -- lá o óleo é visto com desconfiança, em parte porque a oferta é pequena. Vale lembrar que as montadoras europeias são especialistas na produção de carros a diesel bastante eficientes (e divertidos, já que muitos utilizam turbocompressores) e com baixas emissões.

Como se vê, uma simples canetada do homem mais poderoso do mundo é suficiente para mexer com a vida de milhões, quem sabe bilhões, de pessoas -- e modificar decisivamente o futuro de uma indústria-símbolo do século 20, que ia terminando a 1ª década do 21 numa crise sem precedentes.

Sorte nossa que, por ora, as canetadas de Obama têm sido "do bem".
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