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Terça-feira, 23 de julho de 2024

Notícias | Ciência & Saúde

Mudança de atitude pode significar qualidade de vida e geração de renda

A Lei de Resíduos Sólidos, que demorou 21 anos para ser aprovada, prevê mudanças de hábitos para todos. Pequenas atitudes podem significar mais qualidade de vida, menos agressão ao meio ambiente e ainda geração de renda para projetos sociais.


Apenas um litro de óleo pode contaminar até 25 mil litros de água. As residências são responsáveis por 70% do óleo descartado de forma inadequada.

“Eu espero esfriar e deposito sempre em uma garrafa pet até encher. Ao encher o pessoal do Bióleo vem recolher”, diz a aposentada Maria Antônia Benedetti.

Moradora da maior cidade do Brasil, aos 80 anos, a dona Antonia é uma cidadã consciente. Ela participa do Programa Bióleo, desenvolvido pelo Pensamento Nacional das Bases Empresariais.

“Antes de saber desse programa eu jogava tudo na pia. Eu acho que a maioria das pessoas que não tem esse conhecimento faz. Mas, hoje nem uma gota. Enquanto tiver uma gota eu recolho”, completa dona Antônia.

O óleo usado é separado e armazenado em pontos de recepção e gera renda para as instituições sociais da comunidade.

“O Programa Bióleo foi concebido visando o tripé da sustentabilidade que gerar renda, ter inclusão social e, no final, ter uma diminuição considerável do impacto ambiental causado pelo descarta inadequado do resíduo”, explica Theodora Tavares, gerente do Programa Bióleo.

Todo o óleo que a dona Antonia recolhe é levado por crianças para outro lugar. A ACM, Associação Cristã de Moços, é um dos pontos de coleta.

“Eu falei assim: mãe eu estou participando de um projeto na ACM que é sobre o bióleo para não poluir o planeta Terra. E ela pediu mais explicações. Ai eu contei e ai ela achou bem legal. E a gente começou a fazer”, diz Victoria de Sousa, de 11 anos.

O dinheiro da venda do óleo é investido no grupo de maracatu. “A gente fez essa conscientização com os adolescentes. Eles trazem o óleo que é recolhido na casa e a gente vai armazenando. Quando tem uma quantidade suficiente, eles recolhem. Esse valor, que é o valor simbólico, que é para ajudar o grupo de maracatu”, explica a pedagoga Eloneide Soares.

O Bióleo trabalha em parceria com mais de 200 instituições sociais no estado de São Paulo. Em Caieiras, o programa foi adotado como política do município.

“Com isso a gente fez um grande trabalho apoiado por uma das empresas que é dona do aterro sanitário de Caieiras. Hoje, a gente já consegue dar uma destinação adequada a 20% do óleo que seria descartado inadequadamente em Caieiras”, esclarece Theodora.

Outro ponto de recepção do óleo foi montado na associação que atende pessoas com necessidades especiais. “As pessoas se conscientizaram tanto que a gente bateu o recorde, de 850 litros de óleo”, avalia Jacira Martins, presidente da Associação dos Deficientes de Caieiras.

“Nós já temos um mercado consumidor de biodiesel de 2,2 bilhões de óleo por ano”, calcula Theodora.

O óleo arrecadado em todo o estado de São Paulo é matéria prima das fábricas de biodiesel. “O óleo é separado da gordura como primeiro processo. No segundo processo, filtra-se esse material. Ai entra-se numa etapa, que chamamos de terceira etapa, pela qual é tirada a água do óleo. O óleo normalmente vem com água e impurezas”, detalha o engenheiro de materiais Joel da Silva Calhau.

“O consumidor tende a achar que é muito pequenininho e que não vai fazer diferença nenhuma nem sobre o meio ambiente nem sobre a sociedade nem a economia. Não é verdade. Nós hoje no Brasil vivemos 50% a mais do que nós vivíamos há 50 anos e consumimos seis vezes mais individualmente do que nós consumíamos 50 anos atrás”, explica Hélio Mattar, presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.

O consumo aumentou e a responsabilidade também. A mudança de comportamento é visível no supermercado. “Eu estou optando em levar os produtos em caixas de papelão porque a natureza agradece, pela praticidade de tirar do carro para o meu apartamento e terceiro por acomodação de não amassar”, justifica a dona de casa Sonia Maria de Almeida.

Caixas de papelão, sacolas de pano ou retornáveis são alternativas para substituir as sacolinhas de plástico. “Se a gente pensar apenas na sacola plástica descartável, o impacto já foi muito significativo. Nós consumimos no Brasil aproximadamente 150 bilhões de sacolas plásticas descartáveis por ano. As pessoas começaram a se sensibilizar e reduziram em cinco bilhões de sacolas plásticas o número de sacolas usadas no ano passado. Já é significativo”, avalia Mattar.

“Se você não tem as suas sacolas, o legal é que tem muitos supermercados que estão oferecendo essas opções de deixar a sacola retornável na boca do caixa para você poder comprar. Geralmente, o preço é acessível. Ela é durável. Então, é uma opção bacana”, conclui Camila Melo, gerente dos programas de educação do Instituto Akatu.

“Ela serve como um emblema do que seria essa sociedade do futuro. Emblematicamente, quando a gente recusa a sacola plástica descartável, o que a gente está recusando, na verdade, é um modo de vida. Nós estamos descartando um modo de vida que a gente vive descartando as coisas”, explica Mattar.

Camila também promoveu mudanças em casa. Os saquinhos foram abolidos do banheiro. “Aqui o lixo é seco. É só papel higiênico. Daí, eu forro com papel jornal e é super pratico. É até mais pratico que o saquinho porque é só eu pegar, amassar e colocar dentro do saco de lixo”, explica.

Na cozinha também não se usa mais plástico. “Como é um lixo de plástico duro, dá para lavar. Então, eu tenho colocado o lixo orgânico direto. Depois, eu despejo tudo num saco maior que vai direto para a prefeitura”, completa Camila.

Em Socorro, no interior de São Paulo, não usar e não distribuir sacolas plásticas já virou lei. Morador da cidade há 11 anos, o biólogo João Gabriel Giacometti faz campanha pelo consumo consciente.

“Nós procuramos sempre remeter ao passado das pessoas quando se usava o carrinho de feira, quando se usava a sacola retornável. Por que não voltar aos hábitos de hoje e esquecer que a sacolinha é um comodismo e um problema também?”, questiona o biólogo.

A rádio da cidade apoia a iniciativa. “O comerciante tem que se instruir corretamente e ir atrás das sacolas biodegradáveis a partir de fibras vegetais e melhor ainda é o estímulo das sacolas retornáveis”, explica Giacometti.

O aviso já chegou aos supermercados da cidade. “Já estamos vendendo essas sacolas. O custo é de R$ 1,50 e eu estou vendendo por R$ 0,50. É um valor praticamente simbólico para motivar os clientes a usarem a sacola retornável , como era no passado”, diz Felicio José Sartori, dono de mercado.

“As pessoas pensam a respeito, pensam sobre a descartabilidade e começam a concluir que descartabilidade não é bom para ninguém: nem para a sociedade nem para o meio ambiente, e, portanto, nem para nós porque o meio ambiente é onde nós vivemos”, conclui Mattar.
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