A Argentina "deve usar barreiras paratarifárias" de proteção diante da crise global, disse o empresário Héctor Méndez, que na próxima segunda-feira assumirá a direção da União Industrial Argentina (UIA), a maior associação patronal deste país, parceiro do Brasil no Mercosul.
"Se você sabe que há um avanço desproporcional e injusto das importações, é preciso colocar restrições", disse Méndez, em entrevista publicada hoje pelo jornal "Página/12", de Buenos Aires.
"Vamos usar as barreiras paratarifárias e depois tomaremos uma posição coletiva a favor do livre-comércio. O cuidado é necessário porque é preciso manter uma fração de mercado razoável", afirmou o empresário.
Méndez ratificou, assim, a posição protecionista da direção em final de mandato da UIA, no momento em que são negociadas soluções para conflitos comerciais com associações patronais do Brasil, Paraguai e Uruguai, que reclamaram dos impedimentos alfandegários argentinos.
"Os empresários e as autoridades brasileiras são mais práticas do que nós na maneira de colocar medidas. Reclamam contra o protecionismo, mas colocam medidas que, em muitos casos, são imperceptíveis, como quando não nos deixam retirar os caminhões da fronteira", disse.
O presidente eleito da UIA discordou, no entanto, com colegas que reivindicam ao Governo argentino uma maior desvalorização do peso frente ao dólar, para acompanhar a queda do real desde o final do ano passado.
"É um tema complicado, não se pode dizer ao Governo que tem que fazer uma desvalorização brutal para ficar a par com o real", disse.
Segundo o empresário, não se pode obrigar uma desvalorização a moeda argentina "sem medir as consequências no mercado interno", já que "existem restrições (comerciais), reintegrações (de impostos) e outras ferramentas que podem ser usadas".
Desde o final de 2008, a Argentina aplica barreiras alfandegárias que gereram conflitos com seus parceiros do Mercosul, apesar de que a maioria delas busca conter as importações de manufaturas e produtos têxteis da China e de outros países asiáticos.
Os Governos argentino e brasileiro decidiram que os empresários cheguem a um acordo em mecanismos de solução para os conflitos comerciais, o que abriu uma rodada de negociações entre a UIA e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).