ideia é desenhar a atual família brasileira, composta por pais separados, filhos de casamentos diferentes e tentativas frustradas do tão sonhado "amor eterno". Mas Tudo Novo de Novo, série que a Globo estréia nesta sexta, dia 17, depois do Globo Repórter, parece mais uma espécie de Malu Mulher revigorado. Só que, dessa vez, a Malu virou Clara e, ao contrário da original exibido em 1979 pela emissora, não tem qualquer dificuldade para se separar. "Antes a discussão era sobre os problemas do divórcio. Agora, vivemos um momento em que é complicado estar junto de alguém. A tolerância das pessoas diminuiu muito", analisa Júlia Lemmertz, intérprete da arquiteta Clara.
Na história, escrita por Lícia Manzo e supervisionada por Maria Adelaide Amaral, Clara é uma mulher que foi casada duas vezes e tem um filho de cada união. E, logo após a segunda separação, está decidida a passar um tempo sozinha quando, durante a obra de um de seus projetos, conhece o engenheiro Miguel, papel de Marco Ricca. Os dois se apaixonam e, ao longo de 12 episódios, tentam estabelecer uma relação. Mesmo diante de tantos problemas que lhes trazem dois ex-maridos, a ex-mulher de Miguel e três filhos. "A série faz um retrato realista da situação que muitos casais em torno da faixa dos 40 anos vivem no mundo de hoje", defende o ator.
Apesar do tema central ser um primeiro passo perfeito para o tom de comédia, a diretora Denise Saraceni deixa bem claro nas gravações que essa não é a melhor forma de conduzir as cenas. Ainda mais nas que retratam o primeiro encontro do casal. "Existem situações engraçadas aí, mas temos de ter cuidado para não fazer comédia. São dois profissionais de áreas diferentes que se estranham. Isso merece um tom sério", alerta. A recomendação, apesar de elogiada pelo elenco, inicialmente gerou surpresa. "Quando li, achei que íamos fazer graça o tempo todo. Tenho um pé no humor. Se deixarem, transformo o programa em um Zorra Total", brinca Ricca, referindo-se ao humorístico exibido pela Globo nas noites de sábado.
O ambiente principal da série é a obra do casal Ingrid e Teodoro, encarnados por Cristina Flores e Mário Cardoso. Os dois contratam Clara e Miguel, mas não conseguem chegar a um acordo sobre o que esperam da construção. Para garantir o cenário, a produção alugou um imóvel na Joatinga, bairro nobre da Zona Sul carioca. E transformou uma casa pronta em uma reforma que parece ter sido iniciada. Mas tudo falso. Nas paredes, revestimentos de madeira sobrepostos com cimento imitam tijolos e ajudam a esconder parte da varanda do imóvel. Panos escuros tapam as esquadrias de alumínio e o forro do chão esconde o elegante piso de mármore. "Tudo que a gente colocou vai ser retirado aos poucos, conforme a obra caminhar nos episódios", explica Fernando Schmidt, um dos responsáveis pelos cenários de Tudo Novo de Novo.
O nome escolhido para o programa resume bem o que se pode esperar da série: uma incansável tentativa de reconstrução. Em relação à vida dos personagens e, é claro, à obra que une os dois protagonistas. Tanto que o elenco já brinca com o fato de, no texto do último episódio, a residência planejada pelo casal Ingrid e Teodoro aparecer sendo posta à venda. "Acho que esse lado focado no realismo e na construção de personagens que a gente vê no dia a dia é o ponto forte do texto", opina Júlia, que assume se identificar demais com sua Clara. "Também ralo muito, tenho dois filhos de casamentos diferentes e lido com as pressões de ser mãe, mulher e trabalhadora. Só não estou me separando", brinca.
