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Quinta-feira, 01 de agosto de 2024

Notícias | Economia

Brasil entrará em duas operações de socorro ao Fundo Monetário

O governo brasileiro vai participar das duas operações de socorro financeiro ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Numa delas, já oficialmente divulgada, fará um empréstimo de até US$ 4,5 bilhões - o limite da quota do país no capital da instituição. Na outra, cujos detalhes ainda estão sendo definidos, comprará títulos a serem lançados pelo Fundo, com rentabilidade superior à dos papéis do Tesouro americano e liquidez - os papéis serão negociados no mercado secundário.


O montante da segunda operação ainda não foi definido porque dependerá das condições oferecidas pelo FMI, mas, ontem, um ministro informou ao Valor que o governo tem todo o interesse em comprar esses títulos porque isso ajudaria a melhorar a rentabilidade das reservas internacionais e a diversificar o seu risco. Assim como na operação de empréstimo, o nível das reservas não diminuirá quando os recursos forem aplicados em papéis do FMI. O que vai mudar é a composição das reservas.

"O papel do Fundo, certamente, pagará mais que o T-bill (papel de curto prazo do Tesouro dos Estados Unidos). É uma boa diversificação de risco (para as reservas) e tem a garantia de vários países. Será um título melhor do que o de muitos países europeus", disse o ministro, lembrando que a maior parte das reservas cambiais está aplicada hoje em títulos americanos. "É uma excelente aplicação de reservas."

A expectativa do governo brasileiro é que, já na reunião de primavera, na próxima semana, em Washington, o FMI anuncie as características do papel a ser lançado em breve. "Se o Fundo emitir um SDR (sigla em inglês para direito especial de saque), muita gente vai querer comprar, inclusive, a China", disse uma fonte do governo.

No caso da operação de empréstimo, a intenção do Brasil é participar do Plano de Transações Financeiras (PTF) do FMI, uma espécie de clube dos países credores da instituição. Dos atuais 185 integrantes do Fundo, 47 estão no PTF. Para fazer parte do plano, o país tem que possuir balanço de pagamentos e nível de reserva internacional robustos.

O Brasil pode dispor, no PTF, de até US$ 4,5 bilhões para emprestar ao FMI, volume de recursos equivalente à quota brasileira no capital da instituição. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, o Fundo deve recorrer a uma pequena parcela dos US$ 4,5 bi. "Em caso de ocorrer acionamento dos recursos por parte do FMI, o Brasil recebe SDRs em troca, os quais são remunerados e integram as nossas reservas", explicou um técnico envolvido nas negociações.

Esses ativos do Fundo também são líquidos. Na hipótese de o Brasil sofrer uma crise no balanço de pagamentos, o país pode sacar imediatamente os recursos do SDR. A remuneração desse ativo é calculada com base na média ponderada das taxas de juros referentes a dívidas de curto prazo nos mercados monetários das quatro moedas - dólar americano, euro, libra esterlina e iene - que integram a cesta do SDR. Nos últimos meses, essa taxa girou em torno de 0,42% ao ano.

Dependendo da remuneração oferecida pelo FMI, o investimento poderá se mostrar um bom negócio. Papéis semelhantes vendidos pelo BIS (sigla em inglês para banco internacional de compensações, o banco central dos bancos centrais) garante retorno equivalente aos juros dos títulos americanos, acrescidos de um "spread" entre 0,3% e 0,6%, com liquidez em dólares.

Hoje, como a maior parte das reservas internacionais está aplicada em títulos do Tesouro americano com prazo de dez anos, o governo corre o risco de perda caso os juros subam. Nos últimos meses, esses papéis sofreram forte valorização, já que se tornaram mais procurados pelos investidores, em virtude do ambiente global de aversão a risco.

Para o BC, o investimento no FMI seria uma forma de realizar esses lucros e fugir dos riscos de perdas. Analistas econômicos preveem que os juros americanos vão sofrer forte alta em virtude da expansão dos gastos feito pelo governo dos Estados Unidos para reanimar sua economia.

Fontes do governo ponderam, porém, que há limites para aplicar recursos das reservas em papéis do FMI. Primeiro, porque que a política de administração das reservas internacionais determina que a maior parte dos recursos esteja aplicada em ativos referenciados em dólares, já que o grosso da dívida externa brasileira está referenciada na moeda americana.

Outra limitação é o próprio interesse do FMI em tomar recursos emprestados. O organismo está buscando dinheiro para repassá-lo a países em dificuldades, como as economias do Leste Europeu. O objetivo do FMI é sinalizar ao mercado internacional que conseguirá mobilizar altas somas para lastrear seus programas de socorro aos países. Na medida em que ficar claro que o FMI tem acesso a altos volumes de recursos, haverá um impacto positivo nas expectativas, e não será mais necessário mobilizar o dinheiro.

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