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Sábado, 07 de setembro de 2024

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Vale do Silício esbarra em leis para contratar estrangeiros

Onde está Sanjay?


A questão vem de um entre as dezenas de engenheiros acomodados em torno de uma superlotada mesa de conferências do Google. Eles estão reunidos para discutir como criar mapas fáceis de usar que poderiam transformar centenas de milhões de celulares em guias digitais instantâneos, capazes de orientar os viajantes em seus percursos até empresas, restaurantes e marcos históricos.

"O avião dele chega às 9h30min", responde o gerente responsável pelo grupo.

O Google está localizado no Vale do Silício. Mas Sanjay Mavinkurve, um dos principais engenheiros envolvidos no projeto, infelizmente não pode dizer o mesmo.

Mavinkurve, 28, um imigrante indiano que ajudou a preparar as bases tecnológicas para o serviço de redes sociais Facebook, quando estudava na Universidade Harvard, alguns anos atrás, em lugar disso trabalha em um escritório do Google em Toronto, onde ele é o único engenheiro em uma equipe formada essencialmente por especialistas em marketing.

Ele tem visto de trabalho para os Estados Unidos, mas sua mulher, Samvita Padukone, não, e por isso o casal se radicou no Canadá.

"Todos os norte-americanos com quem converso dizem: 'Cara, isso é ridículo. Nós deveríamos estar fazendo de tudo para manter você no país. Precisamos de pessoas como você!'", ele diz.

"O povo dos Estados Unidos compreende exatamente o problema", ele acrescenta. "E, com o passar do tempo, tenho certeza de que os atuais legisladores venham a compreender o quanto eles estão sendo estúpidos", ele diz.

Imigrantes como Mavinkurve são um dos ingredientes essenciais para o Google e o Vale do Silício, onde metade dos atuais engenheiros nasceram fora dos Estados Unidos, ante apenas 10% em 1970. O Google e outras grandes empresas afirmam que os especialistas em tecnologia chineses, indianos, russos e de outras nacionalidades ajudaram a transformar o setor, criando riqueza e empregos.

Pouco mais de metade das empresas abertas no Vale do Silício da metade dos anos 90 à metade dos 2000 foram criadas por fundadores nascidos fora dos Estados Unidos, de acordo com Vivek Wahdwa, estudioso da imigração que pesquisa nas universidades Duke e Harvard.

A elite nascida no exterior também inclui, em gerações anteriores, Andrew Grove, o fundador da Intel, nascido na Hungria; Jerry Yang, co-fundador do Yahoo, nascido na China; Vinod Khosla, nascido na Índia, e Andreas von Bechtolsheim, da Alemanha, co-fundadores da Sun Microsystems; e Sergey Brin, co-fundador do Google, nascido na Rússia.

Mas os executivos da tecnologia dizem que regras bizantinas e cada vez mais restritivas de imigração e para vistos colocaram em risco sua capacidade de contratar um número maior dos melhores engenheiros do planeta.

Embora se possa definir o caso de Mavinkurve como o de alguém que poderia ser imigrante mas se recusa a viver nos Estados Unidos porque sua mulher não teria direito a trabalhar no país, ele serve como exemplo da maneira pela qual as normas da imigração podem afastar um potencial empresário cujas aspirações são criar riqueza e empregos no país.

O caso dele serve para sublinhar o argumento do setor de tecnologia, de que os Estados Unidos enfrentarão dificuldade para competir caso não tornem mais fácil a contratação de engenheiros nascidos fora do país.

"Estamos assistindo ao declínio e queda dos Estados Unidos como potência econômica - não em termos hipotéticos, mas diante de nossos olhos", diz Craig Barrett, presidente do conselho da Intel.

Ele atribui a culpa a um sistema de educação cada vez menos rigoroso, e que não seria possível corrigir em curto prazo; mas diz que uma medida paliativa seria permitir que empresas contratem maior número de engenheiros estrangeiros.

"Com um estalar de dedos seria possível garantir que os garotos inteligentes de todo o mundo - quantos deles quisessem - permanecessem nos Estados Unidos se assim escolhessem. Mas agora eles estão aqui para estudar, se formam aqui e voltam para casa assim que o fazem".

A idéia é combatida pelos inimigos ferrenhos de uma liberalização da imigração, e pelos interessados em defender a causa dos engenheiros nascidos nos Estados Unidos.

"Existem provavelmente cerca de dois bilhões de pessoas no planeta que adorariam viver e trabalhar na Califórnia, mas nem todo mundo pode viver aqui", diz Kim Berry, uma engenheira que opera uma organização sem fins lucrativos para defender os especialistas em tecnologia norte-americanos. "Há muitos norte-americanos capazes de fazer esses trabalhos".

O debate só se aguçou com o aprofundamento da crise econômica no país. Os defensores dos profissionais norte-americanos criticam as empresas que demitem trabalhadores locais e mantêm em seus cargos estrangeiros que têm vistos de trabalho. Mas o setor de tecnologia rebate afirmando que as inovações promovidas por essa mão-de-obra altamente qualificada são essenciais para o crescimento dos Estados Unidos em longo prazo.

O debate é bem conhecido no Google, e para Mavinkurve é um dilema muito pessoal.

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