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Sexta-feira, 19 de julho de 2024

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Tempestades podem triplicar no Rio e dobrar em São Paulo

Foto: Reprodução

Tempestades podem triplicar no Rio e dobrar em São Paulo
O técnico em meteorologia Emidio Rossmann vive das nuvens. De hora em hora, ele fixa o olhar no céu do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e vê muito mais do que os aviões de carreira.


“Se tiver trovão, vou registrar o tipo de nuvem que origina o trovão, o cumulonimbus”. Explica Emidio Rossmann. Toda a informação é colocada no computador. Assim, as observações do técnico em meteorologia do Rio de Janeiro ficam à disposição de pilotos e de cientistas do mundo inteiro.

A cada jornada, Emidio repete um ritual que já tem 160 anos. Na mesma área do Rio de Janeiro, em 1850, especialistas do Observatório Imperial já espiavam o céu em busca de tempestades e anotavam tudo em cadernetas, que hoje são um tesouro para a ciência.

Esse trabalho contínuo e dedicado feito há tanto tempo na região do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, é muito mais do que uma simples curiosidade histórica. Esses dados, somados a outros bancos de informações quase tão antigos de São Paulo e de Campinas, no interior paulista, permitem aos cientistas olharem para o futuro e preverem como poderá ser o nosso clima daqui a 50 ou 60 anos. As projeções feitas pelos cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) são bem preocupantes.

O doutor Osmar Pinto Júnior coordena o grupo de eletricidade atmosférica do Inpe. Por isso, ele também vive de olho nas nuvens, mas só nas de tempestade. Ou seja, aquelas carregadas de eletricidade.

“Nuvem com a capacidade de gerar uma descarga elétrica, um raio. Basicamente isso, se ela não produzir, não é tempestade. Se é uma tempestade, tem a capacidade de produzir uma série de fenômenos associados que nós conhecemos bem: os tornados, o granizo, os vendavais e as enchentes”, explica o pesquisador Osmar Pinto Júnior.

Aí está o problema. Com a ajuda do Instituto de Aeronáutica e Espaço e do prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, os pesquisadores do Inpe estudaram as estatísticas de tempestades no Rio, em São Paulo e em Campinas e concluíram: elas já estão aumentando em toda a região Sudeste.

Se continuarem nesse ritmo, daqui a 60 anos as tempestades serão três vezes mais frequentes no Rio de Janeiro e vão dobrar em São Paulo e em Campinas. Tudo isso, segundo doutor Osmar Pinto Júnior, tem a ver com o aquecimento das águas do Atlântico.

“Olhando toda a costa brasileira, as águas estão ficando mais quentes. Nos últimos 30 anos, subiram 0,6°C. Parece pouco, mas não é”, alerta o pesquisador.

Funciona assim: os oceanos têm influência direta sobre o clima dos continentes. Na América do Sul, o que mais nos afeta é a combinação das temperaturas do Atlântico e do Pacífico. Quando o fenômeno climático conhecido como “La Niña” acontece, a água da costa do Peru esfria. O ar na região, então, fica mais frio e mais denso, ocupando menos espaço. Enquanto isso, o ar quente que está sobre o Brasil se expande.

Se nesse momento, por coincidência, a água do Oceano Atlântico estiver mais quente do que o normal, mais umidade vai ocupar nosso céu, formando mais nuvens de tempestade. A perspectiva assusta o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, que já vive preocupado com a situação das enchentes nas grandes cidades.

“Está todo errado. Sem uma revolução técnica de caráter urbano, nessas regiões metropolitanas nossas, somos condenados a essa dramaticidade da perspectiva de enchentes cada vez mais frequentes e mais volumosas, e a multiplicação de áreas de risco de deslizamentos. Ou seja, é uma catástrofe geológica e geotécnica anunciada pelos erros clássicos que são cometidos”, explica o geólogo.

Erro, diz o geólogo, foi ter deixado crescer bairros em cima de encostas onde os deslizamentos são frequentes; ter cortado e desmatado morros, em vez de construir sobre colunas; e também ter forrado tudo com cimento e asfalto, quando era possível deixar drenos e jardineiras para a terra poder enxugar tanta água.

“O homem é pródigo em se adaptar a novas condições. Nós temos 60 anos para pensar. O importante é que, em todas as nossas ações daqui para diante, sempre a gente pense no clima. Fazendo isso, nós vamos facilmente superar essa nova realidade”, alerta o doutor Osmar Pinto Júnior.
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